Lingoteiras da fé

Este Cristo belorizontino do Barreiro, que abençoa e inda voa o bairro inteiro, do alto deste outeiro, meu bom romeiro, é testemunha, e Jeová, do que vou lhe contá: o Geraldo quando por estes páramos aportou, vindo do povoado de São Gonçalo do Brumado era um mocetão forte, esperançoso e virtuoso. Deu duros murros em ponta de faca e espada no início de sua trajetória, trabalhando em bares, horas noturnas,

ambientes nada exemplares.

Quando lhe saiu o almejado emprego na Mannesmann, também trabalho duro, mas bem seguro, deu adeus às farras e se aferrou a forjar o pé-de-meia, casar-se com moça virtuosa e constituir família.

Sem qualificações profissionais, digeriu o pão que o Tiago amassou, correndo riscos de saúde e de vida, na exposição permanente ao calor e às labaredas traiçoeiras e infernais das lingoteiras, que cuspiam fogo por eiras e beiras.

Viu amigos próximos e queridos serem triturados por aquele moedor de homens e almas que era o ambiente da aciaria, que se resultava na bela feitura de um tubo sem-costura, por outro, quanta amargura, ao ver partir, ou no caldeirão em ebulição, o amigo 'Cobra', por quem o sino, e a sina - do coração - ainda dobra. Aquele amigo tão cheio de vida, ir-se de vez, numa só fervida!

E embora fosse vida material prosperando, o bom Geraldo, já dono casa com dois televisores - para ver o Golias e o Toninho Pulador ao mesmo tempo - foi-se dando conta, paulatinamente, da transitoriedade e da impermanência das coisas.

Foi por essa época, já rumando para a aposentadoria que resolveu imergir no gosto pelas exortações dos pastores e pelas leituras sacras - já apagados e abandonados os televisores.

Com poucos anos, não por desamor, mas para se concentrar nas leituras e reflexões do Criador, foi-se desligando da parentela católica que para trás ficara, no tempo e na fé, para abraçar mais de perto o evangelismo. Foi nesse transe que sentiu o abrasador chamado do já amigo amado, Cônsul Publius Lentulus, que acompanhara Jesus pela Galiléia, por Samaria, pela Cesaréia e agora, em hora primeira, se lhe postava à cabeceira.

Duvida? Pergunte aí, companheiro, ao Cristo do Barreiro.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 05/04/2015
Reeditado em 19/05/2015
Código do texto: T5195376
Classificação de conteúdo: seguro