PARA ONDE VÃO OS PASSOS?

PARA ONDE VÃO OS PASSOS?

Você acorda, num daqueles dias, em que está se sentindo, o máximo, absoluto, totalmente lindo e poderoso. Você se olha no espelho de casa, se admira no espelho do elevador. Por onde passa e alguma superfície reflete sua imagem, você se enxerga...m a r a v i l h o s o...se achando um belo espécime de sua classe, ah! Você é "O Cara", começando um dia PERFEITO.

Chega no trabalho, orgulhoso, cheio de si, infinitamente poderoso, vai para sua sala inóspita, quase uma clausura, pequena, sem decorações, sem objetos pessoais, fria , espartano cenário. Aos poucos a rotina diária, vai tomando seus espaços habituais e tediosos, as horas passam incólumes em franca morosidade, enfim o horário de almoço chega,.

Com os colegas de trabalho vai almoçar, a fome é pouca, dia chato, você sente o tempo escoando, e o vazio que sente no momento, não é fome, sente devagarinho, aquela sensação de bem estar, e de um dia perfeito se esvaindo ,silenciosamente branda,. Não consegue saborear o prato escolhido, sente-se cansado, o brilho do início da manhã, não passa agora de uma luzinha esmaecida.

Sai do restaurante a passos meio arrastados, sem ânimo, voltando só mesmo pra cumprir sua jornada labutar, mas, sem nenhum prazer nisso, neste momento sua imagem passa por espelhadas vitrines, sem que você se note nelas. O dia transcorre sem alardes, apenas segue até ao final do expediente. Você vê seu rosto no espelho do halll de saída do prédio e não se reconhece, onde está o poderoso ser que saiu empolgado para ir ao trabalho de manhã?

Você segue em passos lentos de volta pra casa, seu perfil refletido nos vidros dos carros é comum sem glamour, uma pessoa comum e nestes passos trilhados, desanimada. Quem era ele mesmo,?

Seria o homem que saiu feliz e pomposo de casa ou este ser apagado que retornava agora ?

Entre os dois pontos, apenas um dia comum, sem emoções, básico. O que mudara?

Você deixa a pasta de trabalho sobre um banco de praça, sai caminhando sem rumo, joga num latão de lixo, terno , carteira, chaves, documentos e celulares, segue em linha reta em nenhuma direção, sem parar, até encontrar-se de frente à uma parede enorme, sua cabeça com a testa encostada no mármore frio, mas, suas pernas continuam caminhando, até ser internado numa clínica psiquiátrica, de memórias apagadas, um saudável corpo vegetal.

Cristina Gaspar

Rio de Janeiro, 17 de maio de 2015.

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 17/05/2015
Reeditado em 17/05/2015
Código do texto: T5244835
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