O chaveirinho

Quando me deparei - na vidraça do balcão da venda do Teco - com aquele 'pegador' de chaves, trouxe-o logo para minha cintura, na imaginação mais pura.

Uma argola de aço, no formato aproximado de um 'c'* bem fechadinho, altinho, e, na junção aquele prepuciozinho de plástico, azul escuro, apoiado em u'a mola que o mantinha em ereção permanente para fechar o círculo, e que só se baixava sob pressão digital, legal.

Chaves, canivete, o quê mais ali se mete... Ia pintar o sete. Atento à freguesia, o Teco nem me percebia, mais baixo que seu balcão e no olhar pro pegador só fixação.

Tampouco eu quis saber de sua filha Heleninha, que ali chegou na horinha, mais que dengosinha. Era outra a paixão minha.

Se cheguei a insinuar, pedir, orar ou suplicar, pressionar, chantagear, abrir o bué, ou qualquer outro ato de fé, para obter o objeto de meus sonhos, dúvidas hoje tenho, e nelas me embrenho.

Acho que fiquei tão absorto com aquela visão, e não era Heleninha não, que pequei - e não peguei- pela mais pura, ainda que dura, omissão.

ps: *o c também é de céu.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 20/05/2015
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