*Os chifres dos homens

Os chifres dos homens

Dedico esse conto a Escritora Recantista

Carla Giffoni , autora do conto

: Ah, que falta faz um rabo

Uma das coisas que sempre me intrigaram sobremaneira foi a inexplicável e esdrúxula inexistência de chifres na cabeça do homem. Isso apenas serviu para lhe deixar esteticamente feio e, na maioria dos casos, mal humorado.

Caso tivessem nascido com esse maravilho adorno, os homens não estariam lotando as academias de cultura física na vã bobagem de ficarem “malhados”. Eles teriam, obrigatoriamente, o pescoço mais robusto e as omoplatas mais fortes, o que lhes proporcionaria uma envergadura invejável e impediria que eles ficassem barrigudos e de pernas finas. Seriam, indiscutivelmente, mais respeitados.

Já ouvi algumas afirmativas irônicas, mas com alicerces na verdade, dando conta de que os chifres foram idealizados para o homem e que o touro os usa de petulante e enxerido que é!

Verdade ou não, se formos explorar a apologética católica e a semiótica bíblica, as surpresas não serão poucas para os que desconhecem as culturas mais antigas. As referências sobre os cornos na Bíblia vão do Gênesis ao Apocalipse, especialmente neste último. Eles exprimem força e poder.

Michelangelo, o grande artista renascentista, quando esculpiu a estátua de Moisés, sua obra prima, passou por um momento de êxtase e, ao bater com o martelo na escultura, gritou: “Perché non parli...?”

Essa obra magnífica encontra-se hoje na Basílica de San Pietro in Vincoli, em Roma. O que dá a essa escultura um grande diferencial são os dois chifres que existem acima dos olhos, por baixo dos cabelos.

Isso foi registrado, quando Moisés desceu no Monte Sinai, conduzindo as doze Tábuas da Lei.

Aqui em Aracaju, tem um vendedor ambulante de guloseimas regionais (sarolho, mal casado, beiju molhado, pé de moleque) que teve a ideia de colar dois chifres num capacete para seu uso, durante o trabalho.

É claro que, sendo uma coisa artesanal, feita sem muito esmero, não tem o charme dos capacetes que a torcida da Seleção Sueca de Futebol usa, durante as partidas internacionais .Ainda assim, ele é bastante procurado, especialmente pelas mulheres.

Hoje, o homem já não é, na aparência, o elemento das cavernas. Está mais narcisista, cuidando-se mais, chegou a inventar até um tal de “personal qualquer coisa”. Tem assessoria para tudo e com chifres, então, seria de amargar...

Creio que o homem não usaria seus chifres como arma, exceto em casos especialíssimos.

Na final da Copa do Mundo de Futebol de 2006, o jogador italiano Materazzi ofendeu a irmã do adversário francês, Zinedine Zidane. A reação lógica foi inevitável! Zidane aplicou-lhe uma cabeçada nas mediações do osso externo, levando-o ao chão. Caso Zidane tivesse chifres, o óbito de Materazzi seria imediato.

No Brasil, temos um personagem que adora aparecer na televisão, gosta muito de falar e, não raro, quer demonstrar uma cultura muito além da que realmente tem. Isso já o levou a cometer algumas gafes imperdoáveis. Tem voz rouca e usa barba. Deus sabe o que faz realmente, porque um homem daqueles com um par de chifres na testa, seria muito mais cabotino que o mais falastrão dos indivíduos.

Mas segundo Charles Darwin, que também usava barbas, era rouco e gostava de aparecer, as espécies evoluem...!

Quem sabe?

Você que é mulher, já pensou como seriam os chifres de seu marido? Ele teria orgulho deles ou andaria cabisbaixo, olhando desconfiado, envergonhado?

Os meus? Os meus seriam iguais aos de um Touro Miúra, imponentes, brilhantes, furadinhos nas pontas, onde eu amarraria fitinhas do Senhor do Bonfim...

Pense nisso!