Como é Divertido Ser Uma Ditadora - por Amali Kabal

Oi, meu nome é Amali Kabal, mas pode me chamar de Rainha de Sabá do século XXI, que foi o que eu me auto proclamei ontem durante um discurso para meus queridos cidadãos. Vivemos felizes no país de Absterdã, localizada no distinto continente da Oceania.

Bem, não foi muito difícil chegar ao poder. Primeiro eu coloquei o meu vestido mais sexy e compareci sem ser convidada para a festa de posse do ex-presidente Victorino Samuel - às vezes para conseguir o que se quer é preciso ter atitude.

Meses antes engajei em um romance com um moço que trabalharia de garçon nessa festa. Depois foi fácil, o convenci a me colocar dentro da festa dizendo todo tipo de abobrinhas amorosas e algo sobre sonhos. O imbecil caiu na minha lábia, mal sabendo que assim que eu adentrasse a festa, estaria automaticamente comprometida com Victorino Samuel - mesmo sem Victorino ainda saber disso. Mas logo depois ele descobriu, após uma jogada de cabelo aqui, umas risadas de todas as besteiras que ele falava ali, e uma noite com vinte e duas posições do KamaSutra decoradas previamente.

Casamos e eu fui feliz para sempre - infelizmente não posso dizer o mesmo de Victorino, que neste momento está jogado por aí em alguma cela imunda com mais quarenta detentos.

Após o feliz casório eu fiz meu trabalho e apareci mais do que ele - logo meu povo estava me amando. Sem ninguém esperar, apliquei o golpe - não o do baú, e sim o do poder. Agora controlo todas as forças armadas do país e faço basicamente, o que eu tiver vontade de fazer.

Não acredito que exista no mundo uma mulher mais feliz do que eu.

Minhas primeiras ações como governista absoluta foram evidentemente preparar uma deliciosa vingança contra todas as pessoas que já me fizeram mal algum dia. Eu sonhava sempre com isso. No entanto, eu certamente poderia esquecer alguém, havia ainda os que eu nem sequer sabia o nome, mas que poderia me lembrar do rosto, depois de um tempo providenciei para que todos os dois milhões e setecentos mil habitantes de Absterdã fossem devidamente catalogados, com foto, nome, endereço e outras informações pessoais num catálogo pro governo. Quando eu tivesse um tempinho, iria olhando de um por um para ver de quem me lembrava.

Mas enquanto o catálogo não saia, comecei fazendo uma lista com os primeiros nomes que me lembrei.

Rose, uma mulher que praticava bullying comigo quando estávamos no ensino fundamental, Albert, um dos assessores de Victorino que implicava comigo na época que ele ainda era presidente - e quase estragou meus planos enchendo o ouvido de meu marido com suas teorias da conspiração, Wellington, um ex-namorado que me traiu com uma amiga, Viviane, a amiga em questão é claro, e mais outras trinta e poucas pessoas foram minhas primeiras vítimas.

Após serem gentilmente tirados de suas casas, empregos ou passeios de lazer por meus soldados, ficaram espalhadas, desarmadas e indefesas no campo de Assuri, uma área desmatada de alguns quilômetros quadrados de tamanho.

Providenciei com o general um rifle de última geração com mira a longa distância, também conhecido como sniper e me posicionei no alto de um prédio que tinha vista privilegiada do campo de Assuri.

Nunca me diverti tanto em toda minha vida.

O primeiro tiro certamente não estava sendo esperando por aqueles cabeças de minhoca, que não sabiam de minha localização nem do que estava reservado para eles.

Como eu ainda estava aprendendo a manusear a arma, acertou no braço esquerdo de Wellington, o ex-namorado, apesar de eu ter mirado na cabeça.

Depois disso foi tudo muito engraçado. Eles começaram a correr desesperados pelo campo. Passei uma agradável tarde tentando acertá-los. Alguns morreram de primeira, em outros foram necessários diversos tiros. Confesso que em algumas vezes, na verdade muitas, acabei acertando nada mais que a grama, afinal eles estavam correndo o que dificultou um pouco a mira. Mas com o passar do tempo, foram ficando exaustos, e aí eu conseguia atingi-los com mais facilidade.

Aquela cobra do Albert, o ex-assessor, quase me enganou, cara esperto, mas não tanto quanto eu, caso contrário eu não estaria aqui agora. Ele recebeu um tiro na barriga e se fingiu de morto. E assim ficou até eu matar todos os restantes. E aí, através da minha mira fui observando os cadáveres, achando que estavam todos mortos. Mas um pequeno movimento provavelmente proveniente de sua respiração o delatou. PÃÃÃÃÃM. Mais um tiro e aí sim, ele morreu.

Observei maravilhada que com isso, acabei passando uma mensagem para as pessoas - e elas estavam corretas em seu entendimento - a de que não era nada sábio fazer algo contra mim.

Descobri ainda, procurando meu nome na internet que pessoas de outros países me deram o título de ditadora. Pesquisei sobre outros ditadores e sempre haviam textos negativos sobre eles. Não é meu caso, devem estar mal informados, eu sou muito amada pelo meu povo. E ai de quem não amar! De qualquer forma, reparei como os ditadores geralmente são homens famosos e polêmicos, e aceitei sem muito pesar meu título, descobrindo ainda que sou uma pioneira - nunca dantes na história do mundo houve uma ditadora mulher. Serei lembrada pra sempre.

Mas ainda assim prefiro o título de Rainha de Sabá do séc. XXI, é mais coerente com minha pessoa.

Bem, agora tenho que ir, tenho uma reunião com alguns assessores relativa a economia de nosso país, que infelizmente não vai tão bem. Eles são tão chatos - concordam com tudo o que eu digo. Mas hoje ordenarei que falem o que estão pensando sobre o assunto a fim de ajudar a resolvê-lo e não agirem como totais imprestáveis.

Talvez eu volte - talvez não, a escrever essa auto-biografia depois. Tudo depende da minha vontade, afinal sou dona de meu destino e do de mais de dois milhões de pessoas.

Bruna Dmsk
Enviado por Bruna Dmsk em 14/10/2015
Código do texto: T5414607
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