O atirador de bananas

Sefardim já fora um engenheiro rico e bem sucedido num passado recente, mas devido a uma perseguição criminosa recheada de assédio moral de seu novo chefe da seção fora despedido e ficou apenas com o que havia economizado na poupança, se condenando por não ter feito maiores reservas, logo o dinheiro acabaria.

Sua cidade era no interior e não havia exatamente muitos locais onde poderia ser empregado, ainda mais não podendo contar com nenhuma indicação positiva por parte de sua antiga firma. A maioria dos empregos disponíveis na região tinham a ver com cortar cana e amansar bois, nenhuma especialidade de Sefardim.

Na por enquanto ainda sua casa, Sefardim notou a existência de múltiplas bananeiras, cultivadas por sua esposa, que no momento jazia no meio de um corredor do hospital público da cidade, aguardando uma vaga na U.T.I. Ela tinha diabetes e acabou tendo um ataque epiléptico, sendo levada as pressas para o hospital.

Decidido a ganhar dinheiro pra voltar a pagar um plano de saúde particular, Sefardim viu nas bananeiras sua esperança.

Passou a vendê-las na BR que passava pela cidade, na beira da pista, próximo ao acostamento.

Notou, após algumas semanas de trabalho seus músculos do bíceps, tríceps, e outros ps aumentarem consideravelmente, dado o esforço em balançar um cacho de bananas a beira da estrada na tentativa de ser visto pelos carros que rapidamente por ali passavam.

Infelizmente, não eram muitas pessoas que paravam pra comprar bananas, e ele não conseguia juntar dinheiro, tendo que gastar o lucro da venda com gastos domésticos comuns.

Já desgastado pela preocupação com sua esposa e decepcionado com seu plano infrutífero, Sefardim passou a se sentir cada vez mais estressado e raivoso, e quando um dia um carro parou no acostamento, possivelmente por problemas no motor e Sefardim aproveitou a chance pra abordar o motorista oferecendo a ele um cacho de bananas pra comprar, ouvindo em resposta um "Vai trabalhar vagabundo" não teve dúvidas, retirou uma banana do cacho e arremessou-a na face de seu interlocutor, com toda a raiva contida durante os últimos péssimos meses.

A banana acertara em cheio as maças das bochechas do outro indivíduo, deixando-o aturdido e surpreso, sem saber como reagir.

Passada o susto, o motorista disse para Sefardim:

- Você é louco,vou chamar a polícia!

Sefardim virou as costas e saiu andando após a ameaça, felizmente o motorista falou da boca pra fora e nenhuma polícia apareceu pra prender Sefardim.

Em outro momento, quando degustava uma de suas mercadorias, vinha vindo um carro dos anos oitenta pela BR, quase se arrastando de tão lento e Sefardim achou que eles pareciam possíveis compradores de bananas. Com uma mordida imensa abocanhou o restante da banana que comia e se apressou em ir balançar seu cacho no acostamento mirando o carro antigo.

Dado que o carro quase atropelou Sefardim, o fazendo cair sentado para se desviar de uma possível batida e seguiu seu caminho sem parar para o vendedor, deixando Sefardim severamente irritado. Após se levantar, saiu correndo atrás do carro e arremessou outra banana em sua direção.

A trajetória da banana atirada não foi eficaz, tendo ela acabado dando de cara com a pista, a poucos metros do carro que se ia, impunemente.

Mais dias se foram e a vida de Sefardim não ficou mais fácil, muito pelo contrário, recebeu um telefonema avisando do falecimento de sua amada esposa, no corredor do Hospital Público, o que o levou a perder totalmente a cabeça.

Haveria dali uns dias uma festa na sua antiga firma, contendo o homem responsável pela sua demissão, cujo namorado - eram uma dupla homossexual - curiosamente acabara de sair de um hospital caríssimo em outra cidade, curado de um câncer no esôfago. Além de salgadinhos e refrigerante, toda a firma estaria reunida, incluindo mestres de obra, serventes de pedreiro e chefes de repartições.

Com o aspecto irreconhecível de sua vida atual como vendedor de bananas da BR, com roupas maltrapilhas, descabelado e um pouco sujo pela fumaça do escapamento dos carros, Sefardim preparou duas bananas para levar nesse encontro fortuito, uma deixou no bolso esquerdo da calça, a outra no direito. As duas pareciam idênticas entre si. Amarelas, com manchinhas pretas.

Em uma verdadeira saga das bananas, lá estavam elas nos bolsos de Sefardim pontualmente no dia e horários marcados, presenciando mais uma falta de respeito de seu ex chefe, que demorou duas horas pra finalmente se apresentar a fatídica reunião, acompanhado de seu namorado, que tomara o lugar de Sefardim na firma.

Na reunião que mais tarde determinaria que Sefardim não é o que todos gostariam que ele fosse - um mocinho, estaria sendo comemorada os doze anos da firma, onze dos quais Sefardim trabalhou nela e ajudou a erguê-la.

Seu ex chefe fez um discurso dizendo o quanto bem havia feito pela empresa e que seu namorado, agora ocupante da vaga de trabalho de Sefardim, apesar de recém saído da faculdade de engenharia civil era um profissional excepcional. Uma das sócias da empresa questionou sobre um projeto que mal havia iniciado já desabara feito pelo namorado do ex chefe para a firma, após a saída de Sefardim, dado que ouviu uma resposta de que a culpa fora do engenheiro anterior, que havia deixado aquele projeto já feito e eles apenas o usaram.

Mentira essa que entrou de forma violenta pelos ouvidos de Sefardim, que estava localizado no fundo da sala, próximo a parede, fora de vista. Ele então retirou do bolso esquerdo, uma das bananas, e mirou no mentiroso que estava há vários metros a frente dele. Sem que ninguém visse, Sefardim calculou mentalmente a força e a direção necessárias pra atingir o homem que ajudara a destruir sua vida, e atirou.

Ainda distraídos pelo final do discurso recheado de inverdades e meias verdades do chefe, ninguém viu a banana voadora partindo em sua direção, até que fosse tarde demais. Por uma virada do destino, a banana acertara no namorado do alvo, que estava ao lado do alvo em questão. A pancada foi certeira no nariz, ao passo que foi ouvido pelo salão um fino gritinho de "Ai" do atingido, que levou as mãos ao nariz horrorizado, pulando de um lado a outro enquanto expelia gritinhos desesperados, como se seu nariz tivesse quebrado pelo impacto da banana.

No mesmo momento certo rebuliço tomou conta da organização onde todos se perguntavam de onde partiu a banana assassina. Sefardim fez cara de inocente e evitou fazer movimentos bruscos para não ser notado. Uns diziam que veio da direita, outros da esquerda, outros diziam que veio da frente, outros de trás e até mesmo alguns diziam que a banana caíra do telhado.

Após vários minutos de discussão e sem descobrir a autoria do atentado, a reunião voltou a se realizar, com o chefe acalmando seu namorado, ainda em estado de choque. Após esta cena dramática, o novo chefe da firma disse que eles nunca lucraram tanto como no último ano - ocultando a parte em que Sefardim fora responsável por boa parte dos projetos de maior destaque da empresa - e que iriam dividir o lucro em 0,1% para cada funcionário.

Em seguida o namorado, que parecia ter se recuperado um pouco do que parece ter sido um grande trauma em sua vida, toma o microfone que o outro carregava e grita "Quem fez isso? Eu vou demitir quem fez isso!". Pequenos risinhos dos convidados da festa estavam sendo mal contidos. Parece que algumas pessoas se divertiram com a cena. "Do que vocês tão rindo?" , gritou o namorado do chefe, "Eu, ou melhor, meu amorzinho aqui vai demitir todos vocês que estão rindo!", ele erguia a voz, saindo super estridente e afeminada.

No bolso direito da calça de Sefardim, jazia a outra banana. Mal sabiam que aquela primeira banana atirada fora apenas um teste, pra ter melhor ideia de qual força e direção seriam melhores pra atingir seu alvo. Já tendo melhor noção do referido fato, Sefardim pega a outra banana do bolso e prepara-se novamente para atirar.

Seu primeiro movimento é o cálculo mental da força e direção, em seguida, balança vagarosamente o braço direito mirando em seus alvos - dessa vez acertaria os dois. Então, sem pensar mais, atira a banana.

BOOOOOOOOM. Sefardim acertara nas moscas - e somente nelas.

O instante seguinte lembrava bastante uma cena de um filme vagabundo qualquer de terror possuidor de pouca verba para investir em efeitos especiais e bons atores.

- Minha mão, cadê minha mão! - gritava o namorado do chefe, enquanto sangue jorrava de maneira absurdamente forte do toco que agora era seu novo braço e respingava por todos os lados, inclusive na cara do dito cujo. Mais gritinhos de horror. Já o chefe teve menos sorte, pedaços de massa encefálica provindas do mesmo foram vistas grudadas no teto, como também por sobre alguns salgadinhos que esperava ser comidos numa mesa ao lado e pelo chão. Havia um verdadeiro buraco no que dantes fora sua cara.

- AAAAA, o que aconteceu com meu amor? - gritava desesperado o namorado olhando pro finado a seu lado, caído no chão e com apenas uns quarenta por cento da face intactas. Quando ele virava para o lado, o toco jorrando sangue com bastante pressão virava também sujando tudo de seu sangue vermelho.

As pessoas na platéia estavam atônitas, alguns nem sequer se mexiam observando a cena, nem sequer piscavam.

Antes que pudesse ser notado por alguém, Sefardim saiu de fininho do local, após ter estragado a cara e o braço dos dois com sua banana de dinamite, que revestiu com uma banana de verdade.

Logo o namorado do chefe juntou-se a ele caindo no chão, morto por perda de sangue.

Sefardim fugiu e nunca mais fora visto na cidade.

Bruna Dmsk
Enviado por Bruna Dmsk em 20/10/2015
Reeditado em 21/10/2015
Código do texto: T5421501
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