TODAS AS MULHERES DEVEM MORRER

Este é um texto que tem a moderada tentação de poder contar uma história, mesmo se dificilmente o imagino a ser um conto, a não ser naquele sentido que gosto de sentir: alguém que desenvolve "o fio à meada". Deste modo são feitos os meus contos, até os eróticos. Aqueles que herdaram o nome duma ideia e a reproduziram a partir da herança, como se ela fosse o movimento das palavras, uma espécie de dança.

Fica dito que este texto pode entrar na categoria informal dos contos eróticos que desenvolvi; primeira justificação para o título: todas as mulheres devem morrer de amor nos braços dum homem. De seguida vamos tentar imaginar o como, o porquê, o quando e até o quanto: ao desejo e desejável enlace que leve a esse desenlace. Todos sabemos ser a única morte verdadeira... onde o falecimento é desfalecimento, não faz mal nem é fatal!

Fatalmente já consegui prender a atenção do leitor, o que me deixa agradavelmente na pele dum narrador satisfeito consigo mesmo. Situação em relação à qual, tenho sempre reservas. A auto-satisfação é sempre insatisfatória, sendo mesmo injustificada quando tem por fim ser um meio para o injustificável que a torna satisfatória: isto permite a reviravolta na história, de satisfeito passo a insatisfeito.

Não poderia depois de três parágrafos manter essa satisfação com foros de imbecilidade se rapidamente não lhe atribuir um móbil, uma razão, a sua causa, chegando ao motivo. Motivo que me levará a poder tratar o título de modo pleno e completo??? Boa ocasião do narrador dizer, qualquer coisa como, podem ir fazer um xixi, chi-chi ou outra coisa, volto já.

Dormi lindamente, tenho pena de não ser uma narradora, para aproveitar pensar que acabei de dar de modo sublimar: ela é linda. Esse linda, fica para a leitora. A quem, como leitor, ao leitor, claro, a qualquer um, a mim também, à Mim nem se fala, estamos todos a ficar com curiosidade de saber onde nos levará este texto. No caso, estou a pensar escrever, donde nos trás.

Trás! Exactamente, trás-nos do título! Foi pelo título que entrei neste texto e, comigo, todos entrámos. Ainda não matámos ninguém, duvido que alguma mulher tenha morrido de amor ao ler o texto. Essa é uma tentação forte de mais para eu a poder recusar: reclinem-se leitoras, levantem uma perna e deixem-na repousar sobre o ombro do leitor mais próximo, de modo que ele vos veja a jóia.

Esta imagem está jóia! O que pode acontecer, o que possa acontecer? Os leitores e as leitoras devem ser maiores de idade para desenvolverem este texto até às suas últimas consequências, leiam-no nu: despido de palavras, entrando nas imagens, vestindo os personagens, despindo-os de vagar, devagar, vagarosamente, sem pressa, com pressa, sem compressas.!.

O meu “texto erótico” está completo, não morreu ninguém mas espero possam morrer, as leitoras têm o meu ombro: o direito, para a cabeça ficar entre as suas pernas. Sem pressa, saboreiem a Língua, entremos no 69 da leitura: peçam ajuda aos leitores, sejamos todos: muito felizes.!.

O Assim e a Mim assinam por baixo, pelos lados, de qualquer maneira completando os sutras a partir deste texto, para mim é um bom pretexto para pensar fazer o mesmo contigo.

{Depois do texto, vou agora ler o texto que lhe deu origem: "Todos os homens devem morrer", Rubem Alves. Procurem, espero encontrem, o texto onde ele celebra a morte do seu amigo Waldo César: «Assentava-se ao órgão e tocava seu coral favorito: "Todos os homens devem morrer", de Bach». Tive a sorte de o poder ler num email.}

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 21/07/2007
Reeditado em 22/07/2007
Código do texto: T573574