O ENCONTRO DO E.T. COM O TERRÁQUEO INTELIGENTE

O ET decidiu abrir mão do conforto e do desenvolvimento do seu planeta. Procuraria um outro corpo celeste na infinita imensidão do Cosmos. Seu objetivo era manter contato com criaturas mais inteligentes e, consequentemente, descobrir tecnologias mais avançadas. Tomou o comando de sua nave e disse: Vou descobrir a Terra, o planeta azul, distante, habitado por criaturas de mentes avançadas. A nave zuniu barulhenta, com piscadelas azuis por centenas de milhares de quilômetros até desaparecer no espaço. Dias depois divisou a uma distância razoável o planeta azul. Depois de tomar mais proximidade ficou convicto de que era naquela bola colorida que habitava o terráqueo, homem dotado da mais exímia perspicácia, construtor de fabulosos inventos e condutor do progresso. Com sua visão acurada viu na Terra uma dimensão próspera. Seu objetivo era estabelecer um intercâmbio com os cientistas terráqueos e, se possível, construir uma ponte entre eles. A Terra era uma massa heterogênea de líquidos e sólidos, limpa, repleta de vida, o planeta mais colossal do Universo, concluiu feliz o homenzinho verde, enquanto pilotava sua esférica nave.

Certo de que havia atingido a superfície da terra o ET preparou-se para aterrissar. Pousou no meio do Oceano. Aquela dimensão de águas lhe pareceu estranho. Verificando as adjacências se deu conta que não havia pessoas. Perguntou a um peixe-espada saltitante: Aqui é o planeta Terra? Sim, respondeu o peixe. Cadê os homens inteligentes deste planeta? Aqui não há homens. O planeta Terra possui dois terços de água. Os homens habitam em apenas um terço de terras de que compõe o Planeta. Mas se preferir, nossos cardumes podem dar abrigo ao senhor. ET agradeceu a oferta e, consideravelmente aborrecido, decolou em direção ao continente. Voou por alguns milhares de quilômetros e aterrissou. Aqui devo encontrar os homens inteligentes, pensou. Pousou numa paisagem ocre. Observou a imensidão árida do deserto e o que ouviu foi apenas o vento assobiando voraz, quase o arrancando de sobre a superfície arenosa. Chegou a cair na armadilha de uma miragem, seguindo-a desesperadamente por um dia inteiro. Com a temperatura muito alta e as frequentes tempestades de areia, tudo aquilo lhe pareceu um desvario. Fatigante de fome e sede, depois de muitas horas encontrou uma pequena cáfila de camelos. Perguntou ao camelo mais robusto: onde estão os homens inteligentes deste planeta? O camelo respondeu: Aqui no deserto não há pessoas. Só os animais mais fortes como nós resistem à crueza deste ambiente. O senhor deve procurar os homens nas cidades. Mas se desejar, eu e meus companheiros podemos abrigá-lo em nossas tendas e em nossos raros oásis.

ET ficou muito intrigado porque até ali não tinha detectado o tão esperado progresso terreno. Despediu-se do camelo e mais uma vez saiu em busca do homem. Decolou do deserto, deixando uma nuvem de areia atrás de si. Navegou por milhares de quilômetros até resolver descer. Avistou logo abaixo uma paisagem toda branca. Assustou-se, mas já que nas outras paragens não era encontrado o homem inteligente do planeta azul, talvez pudesse achá-lo ali na planura alva e brilhante. Deduziu que, ali sim, era obra da inteligência terráquea. Finalmente havia encontrado o local onde habitava o homem. Desceu da nave e constatou que não havia qualquer humano nas imediações. Com muito esforço, ao fim do segundo dia, tiritando de frio, distinguiu um pontinho branco a se movimentar em meio às geleiras. Era um urso ártico. Perguntou ao animal sobre os homens da Terra. O urso rosnou furioso e respondeu que o homem não habitava os glaciares, que ele devia procurá-los nas cidades localizadas nas regiões equatorianas.

ET já estava prestes a desistir. Mas como tinha empreendido uma viagem tão longa decidiu prosseguir com sua empreitada. Manobrou o manche da nave e voou em direção ao Equador. Enxergou uma paisagem deslumbrantemente verde. Concluiu: ali encontrarei o terráqueo inteligente. Certamente seria ali a mais autêntica característica do planeta azul. Porém, apesar de ter escarafunchado uma grande extensão da floresta, depois de quase se perder no emaranhado de árvores, constatou que não havia ninguém. Ao longo de alguns dias, já esbaforido pelo calor, chuvas torrenciais e picadas de insetos, encontrou um jaguar. A paisagem com que se deparou lhe causou estranheza, sobretudo porque sua expectativa era visualizar uma floresta imaculada, bem preservada. A decepção se tornou mais consistente pela constatação de frequentes queimadas e longas faixas de térreas sem coberturas arbóreas, riachos poluídos e voçorocas.

Também verificara sérios problemas no meio do oceano, onde havia várias e enormes manchas de óleo. Nos glaciares viu muitas rachaduras e sinais de degradação humana. No deserto muita fumaça e uma temperatura descontrolada. Ali no ambiente da floresta a devastação era das mais impressionantes.

Ainda assustado com as garras e os dentes pontiagudos do jaguar, inquiriu. Estou a procura do homem inteligente da Terra, onde posso encontrá-lo? O Jaguar disse que o homem não habitava mais as florestas. Apontou em direção ao Planalto Central e disse: É lá, senhor ET, que vais encontrar os homens que representam todos os outros homens deste país.

Sem mais titubear, feliz pode ter ouvido a informação mais completa desde o início da jornada, o ET entrou na nave e voou veloz. O veículo espacial rosnou a toda velocidade, com as luzinhas azuis piscando em direção a Brasília. Sorriu demoradamente ao vislumbrar uma cidade moderna, bem delineada e com clima agradável.

Porém, o ET levou um tempo longo até obter autorização para aterrissar. Um tanto insatisfeito com a burocracia ele foi apresentar-se ao embaixador, e este, cumprindo com as formalidades que eram inerentes às autoridades, só no segundo dia começou a mostrar a cidade. E o sorriso voltou a desenhar-se no semblante de ET. Os edifícios suntuosos, a arquitetura futurista, as vastas e espaçosas avenidas bem delineadas a ajardinadas. Os belos monumentos. O ar puro e o clima agradável trouxeram-lhe uma felicidade sem precedentes. Mas ET ainda não havia alcançado o que desejava. Acompanhava o embaixador fazia uma dezena de horas e ainda não tinha sido apresentado aos cientistas, nem aos autênticos representantes do povo. Faltava-lhe uma descrição fidedigna e cabal do desenvolvimento local.

Por fim, depois do terceiro dia, ele foi apresentado ao chefe do Parlamento.

Foi conduzido a um salão semicircular de grandes dimensões, com cúpulas multicores, colunatas com arremates e adornos. A conformação da sala era em anfiteatro com mais de quinhentos assentos em couro de fino acabamento. Para sua decepção todos eles estavam desocupados.

ET foi levado pelo embaixador a um canto das galerias. O grande chefe do parlamento os acompanhava carrancudo.

O homem do espaço esperava ansioso pelas informações do país. Era uma formalidade do protocolo não fazer questionamentos às autoridades locais. A iniciativa de explanação devia partir dos anfitriões.

Assim, sabendo que os detentores das informações deviam ser os parlamentares, ET mais uma vez ficou decepcionado ao encontrar um plenário vazio, e tendo a seu lado um chefe de plenário praticamente emudecido.

Esperava encontrar parlamentares de situação, de oposição, de esquerda, de direita ou de centro, porém, que satisfizesse suas dúvidas. Mas os 594 lugares encontravam-se vazios. Nenhuma voz ecoava dos microfones.

Entretanto, como num passe de mágica, o painel se acendeu e começou a fornecer informações: “Os populares esvaziam as ruas por medo da violência. Os enfermos estão a perecer nos hospitais por falta de verba. Os transeuntes se dispersam a pé a procura de emprego, porque não tem dinheiro para pagar as caras passagens. Os cientistas já não realizam novas pesquisas por falta de subsídios. Os 594 parlamentares nunca comparecem em sua totalidade no Parlamento. Devem comparecer três dias por semana. Mesmo assim o comparecimento fica facultativo se justificarem, sobretudo em atividades, como praticar negociatas com empresas ou contar dinheiro. O governo central não precisa justificar nada para criar decretos de cortes de verbas...”

Enquanto o embaixador ia iluminado os itens com uma caneta eletrônica, ET levantou-se sorrateiro, desceu os pilares e foi procurar sua nave. Acionou os motores, enquanto o veículo zuniu veloz até sumir piscando do céu de Brasília.

Constrangido, ele nunca mais se meteria a procurar o suposto terráqueo inteligente.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 07/09/2017
Reeditado em 08/09/2017
Código do texto: T6107767
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