Vie scolaire

A demorada reforma do Grupo Velho, oficialmente denominado Professor José Valadares levou aquela turma de alunos de Dona Aparecida Fornero

para o Ginásio, que ficava mais distante, porém já nos dava aquela sensação de porvir e, de quebra, nos possibilitava ver de pirtim pra dispois sonhar bem no iscurim com as moças da quarta série ginasial que, excepcionalmente, frequentavam também as classes matinais, juntamente com toda a rapaziada do secundário.

Mas havia um tácito entendimento de que nada dessa cupidez fosse dito às nossas colegas de classe que, aliás, e apesar de nos ignorar solenemente, apresentava um time bem promissor, algumas até, já em manifesta e mágica puberdade. Susana, Maria Elisa, Marlene, Tânia, Regina, Naélia, Engrácia, Letícia, Maria José e até a esplendorosa Brigitte que mesmo que fosse na vida real Conceição, não baixava a cobiça não...E mais havia, a gente as via mas de correspondência nada havia...

Mas éramos meninos e embora a gente não se conformasse com aquela disparidade, distração havia para ao menos mitigar aquela indescritível e inatendida vontade.

Vizinhos e semi-periféricos, Edinho Campos e eu, nos tornamos companheiros quase que inseparáveis ao longo de nossa jornada pedagógica que, para mim, durou três anos e meio, pois eu a iniciara no povoado do Brumado antes de mudarmos para Pitangui. Mesmo que não coincidíssemos de ir juntos para a escola, na volta, era batata. Brigador feito ele só, Edinho tinha bom coração e pelo menos a metade de uma bolacha me passava das duas que comprava na padaria do Perdigão, a Boa-Sorte, bem no meio de nossa caminhada. Ali eu podia começar a perceber que filho de ferroviário, com irmãos mais velhos já empregados, e de operário onde tudo ainda era escolar tinham certa compatibilidade social.

Numa ocasional mudança de rota, com a preocupação de não atrasar para o almoço, passávamos pela rua Padre Belchior, onde viviam as mais tradicionais famílias da cidade, onde se situava o clube social, havia o cemitério - clandestino - das tampinhas de bebidas. E nos lançávamos com toda a volúpia de um detectorista àquele tesouro. Lá, duma vezada achei Brahma Extra, Cambuquira, Imbaré e Kero-Mate...

Perder tempo com meninas, pra quê, se a felicidade - por hora - tavali, ainda que em solo úmido, barrento...?

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 14/11/2017
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