Desejo

Estancou maravilhado diante daquele peitaço ali a mostra. E as coxas carnudas então? Deixavam qualquer mortal babando de vontade. Entusiasmou-se com sua pele bronzeada, douradinha, cheirosa. Mas era um sonho quase inatingível para ele, insignificante mendigo. Mesmo assim, resolveu passar o dia esmolando na esperança de conseguir o dinheiro suficiente para saciar o seu desejo “carnal”, afinal também não era ele um filho Deus?

Terminado o dia, notas amassadas dentro dos puídos bolsos, tomou coragem e foi direto ao assunto.

— Boa noite.

— O que há de boa nela? – foi a resposta indelicada.

— Quanto custa? – perguntou apontando com o queixo.

— Dez real, completo.

— Farofinha também?

— Também.

— Vou querer.

Voltou para a praça onde dormia feliz, de posse do suculento frango-assado que tanto sonhara. O arrogante e mal-educado português da padaria que se fodesse.