Orion

Não me recordo da primeira vez em que senti fascinação pelo suave véu azulado do Céu que, segundo as lendas da região, contavam histórias das quais somente os velhos, sábios e Loucos podiam escutar. A loucura, em épocas mais antigas e simples, era um estágio raro e admirável de profunda lucidez. Desde que me entendo por gente, olhava para o Céu com expectativa, sonhando com o momento em que seríamos grandes amigos, como aconteceu com as gerações passadas.

Os anos foram me alcançando até que, certa vez ao ir para escola, o vermelho manso da manhã me contou, no fundo do peito, a história de tal moça que tornou-se flor para entender a humildade. Não cabia em mim tamanha alegria. O Céu tinha falado comigo!

Fui feito raio avisar a todos os conhecidos, eles porém, mal ouviram uma palavra e, os poucos que o fizeram, chamaram-me tolo. Não podia acreditar que meus semelhantes não se aventuravam mais em olhar além, focando apenas em si próprios presos ao chão, buscando não pisar falso.

De noite, desolado e perdido, fui me refugiar no infinito. Foi nesse momento que o vi, o Caçador, com seu olhar inalcansável e sua aura imponente. Ao perceber meu olhar, se exibiu e em seguida, desfez-se no manto de trevas acima de mim. Toda noite nos encontrávamos e compartilhávamos o mesmo peso por trás das lágrimas. Quando falou comigo, disse que com os poucos amigos que tinha, existia para sentir-se só e, com o tempo, eu também aprenderia que isso não é um peso e sim um descanso por cada caçada e cada batalha.

Conforme crescia, aprendi muito com meu amigo. Já não tinha pressa, nem vaidade, talvez até vergonha, e não me importava mais que me chamassem idiota. Achava graça. Compreendi que não era Sol, e isso fez-me viver em profundo equilíbrio. Não importava o que aconteceria da aurora ao entardecer, voltaria para casa, assim como o Caçador, e encontraria paz.

Meus olhos e alma tornaram-se prata e então entendi que agora fazia parte do Céu, e, juntos, estaríamos sempre esperando para contar histórias e ensinar amigos, bastasse que olhassem um segundo para o alto e desejassem se ver ali.

Carolina Lima
Enviado por Carolina Lima em 19/02/2018
Reeditado em 19/02/2018
Código do texto: T6258585
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