Salve Sílvio!

Já não era o mesmo, o Sílvio que reencontrei em BH, numa ensolarada tarde de agosto de 1975, seis depois de nossa quase comovente despedida na estação ferroviária de Juliaca, de onde eu, e o mano Beu, voltávamos de cinco semanas de um périplo pela Bolívia e Peru e ele continuava na sua cruzada por las venas abiertas de Sur-América - parodiando aqui o Eduardo Galeano... E, seis meses depois, o Sílvio era mais que o mesmo. E não a esmo.

Havia prosseguido solo sua viagem rumo a Lima, ao Chile, via deserto de Atacama, e até a Buenos Aires, cometendo peripécias que bem caberiam numa coletânea da dar água na boca do próprio Jules Verne. E ali estava, já não mais hóspede do bondoso Tio Mário, mas super energizado, transformado em superstar de cursos preparatórios para o vestibular. Era o Super Sílvio.

A morada no conjunto JK e até a ex-musa que havia feito seu coração padecer, até bem além de a aurora romper, eram também página virada. O mestre da Geografia virara referência e reverência para os que buscavam um tão disputado lugar na UFMG, e em outras escolas da metrópole dos mineiros. Sua figura, seu vozeirão e sobretudo sua infatigável busca de valorização do magistério, sem mistério, e tão a sério...

Morada nova, e até cara nova, era um metrossexual a toda prova. E, para a prova dos sete, estava ali o reluzente Chevette. E já não me lembra se foi por um descampado do Jaraguá que resolveu dar mostras de sua recém e refém-adquirida habilidade fittipaldiana ao volante.

Curuzcredo! Foi o que consegui balbuciar depois daquela volta digna de um Ayrton Senna, com Schumacher ao seu encalço... Quando recobrei a respiração pude raciocinar que, sobrevivente, e de pés na terra, jamais voltaria a tomar aquele atalho para o céu.

Acho que cheguei a pilheriar com esse amigo de todos, e de todas as toadas das horas que como em tempo pretérito ele me salvara o pescoço da cólera de uma nossa colega de classe, Luci Sebastião, enfurecida feito um leão, somente porque eu a atazanara com o ruído estridente de arrastar o pé sobre um pedaço de isopor, ou algo parecido, contra o piso da sala de aula, ali,naquela volta digna de pole-position ele buscava demonstrar que tinha também poder sobre a minha passagem para a eternidade...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 21/02/2018
Reeditado em 04/08/2023
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