As bolas do Barbalho

Eram doze, tais quais os Apóstolos. As cores, se as houvesse, pouco importavam, ou valessem uma prece. De aparência e forma perfeitamente iguais, traziam, porém, um desafio capcioso. Uma dentre todas, uma tão somente, tinha o peso diferente das demais. E pouco importava se o peso era a mais ou a menos.

Colocado o problema pelo Barbalho, que conheci ali em frente à lanchonete do Janjão, na Brasília ainda menina de 16 anos, cabia-me agora destrinchá-lo. E só com direito a três pesagens, em balança imaginária de pratos, e um fiel em riste, ameaçando sempre apontar para o céu, tava eu ali com as bolas na cachola.

Barbalho chegou a mencionar uma possível abordagem, como numa abertura clássica de jogo de xadrez, destacando que inicialmente, separadas em três grupos de quatro, cabia levar dois deles à primeira pesagem...quiçá desprezando-se mais uma bola em cada grupo da pesagem, que seria assim de 3 contra 3... e lucubrou mais, mente matemática que tinha, assim como a do mano Beu, então colega seu da engenharia do ITA...porquanto eu, com minhas letras, línguas, humanas e inexatas, perdi-me logo no curso dessa aula magna. Beu, cuidando de seu sanduíche, ou de algo mais apetitoso, parecia propositadamente alheio ao problema.

E quarenta e um ou quarenta e dois anos passados, confesso que cheguei até a fazer representação gráfica do problema das bolas para ver se facilitava assim a sua resolução. Mas mal chegava a uma segunda pesagem. Cansava-me logo de tão intrincado raciocínio, e me achava mais próximo do primata com o qual compartilho 98% dos cromossomas. Ou será mais ainda? Bolas, Barbalho, você interferiu por quatro décadas na formação de um diplomata e não lhe deu ao menos o caminho das pedras...ou bolas?

Como achar Judas sem ajudas...?

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 12/03/2018
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