Em nome do filho

Ela não ousou abrir a carta do filho. Hoje encarna os últimos meses de seu rebento. Não tem fome. Não tem vontade de se relacionar. Não tem,como antes, uma boa relação com o travesseiro, senão por medicamentos específicos.

Não tem quase vontade nenhuma, exceto a de reler - à exaustão - a últimas letras do seu menino, um jovem que pedia socorro em silêncio. Pede ao escuro alguma luz, enquanto se apaga lentamente. Narra para si mesma a conclusão, novamente chorosa e sem volta. Enfraquece o ar e, num mal súbito, desperta. Examina o quarto semi-iluminado e corre ao leito do seu pequeno.

Acende a luz e confere a respiração do belo rapaz. Larga um suspiro fundo de alívio e, com cuidado, dá meia-volta. Acha um enfermeiro que a pega pelo braço e a retira do ambulatório vago. É reconduzida à ala dos esquizofrênicos. 
John Grafia
Enviado por John Grafia em 09/05/2018
Reeditado em 09/05/2018
Código do texto: T6331591
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