Ninguém & Pessoas…

Então ele se sentou naquele banquinho redondo feito de um tronco de árvore e deixado o mais rústico possível para mostrar que ele era um cara legal... Era um ambiente inteiro rústico. A sala com aquela luz amarelada do lampião a gás, uma lareira cheia de madeiras em brasa, mas nenhum fogo. Acima do tapete ovalado de linhas grossas e bregas franjinhas havia uma mesinha, essa também feita de um tronco velho, onde tudo o que precisava estava apoiado. Lampião, isqueiro, erva da vida, papéis, cinzeiro, piteiras, e a xícara de chá verde. Praticou o ritual de forma mais lenta possível para assistirmos. Mostrando cada detalhe em uma câmera de primeira pessoa, deixando o tempo passar leve, fluido, colocando as características daquele personagem em evidência. O olhar parecia triste, a cabeça abaixada olhando para as mãos que debulhavam as pequenas flores.

Pessoas. Tudo é sobre pessoas. Todas as histórias. Todas as ideias. Todos os personagens. Todos os ambientes e lugares. Todos os acessórios. Tudo é sobre pessoas.

Algumas vezes ele pegava o jeito das pessoas, e escrevia seus contos e não era algo incrível, mas tinha aquele sentimento de que sempre alguém acha que é um recado para si. Todos os autores, artistas e criadores passam por isso. Em essência podemos ser sim o personagem principal de nossas histórias, mas quando elas são para serem contadas e não vividas. Portanto a confusão se forma quando se nomeia os mesmos, e assim os leitores ou expectadores tomam as "dores" para si. É claro que é uma questão de ego. A pessoa que lê ou admira uma arte, e interage com ela no âmbito sentimental, conhecendo o autor da obra, imagina em algum momento que aquilo ali está contando de si, criticando ou elogiando, comentando ou fazendo figuras de linguagem, não importa. "Sou o sol!" O que as pessoas esquecem é que nem o próprio nome é um nome único, existem mais Joãos, Peters, Saras, Jennifers e todos os outros nomes comuns do que estrelas no céu. Então ele pedia desculpas, essa é a história dele, e ele é o protagonista de sua própria história, portanto isso se fez necessário em uma sociedade tão cheia de personagens e seus caminhos individuais. Socializar era algo incomodo, tenso e na maioria das vezes competitivo. Sendo que isso não faz o menor sentido, pois a palavra social é para justamente agregar os valores, e não para colocá-los em conflito.

Uma vez leu aquilo que ele acreditava ser um verdadeiro absurdo. "Pessoas inteligentes falam de ideias, pessoas ignorantes falam de pessoas..." Oi?! Os nomes, os rótulos, aquilo que a sociedade adora fazer e dar aos grandes artistas, cientistas, pessoas que em teoria parecem ter feito uma diferença danada em nossas vidas, são pessoas. Se você falar de ideias, vai falar de alguma pessoa, por que a ideia só nasceu por que tinha alguém ali para tê-la, logo não faz o menor sentido falar que isso é algo incrível , "uau, como sou bom e bacana e inteligente por que não falo de pessoas e sim de suas ideias." Ele pensou naquilo por alguns instantes e deu uma risada. "Ei caras, você já pensou que tudo é teoria, que seu mundo, as regras em que escolheu viver, ou que aceita viver, são teorias..." Curioso né, não existe nem prova de que o universo é do jeito que é, a teoria da relatividade do tão impressionante Einstein é uma teoria... Ele acreditava que o físico ficou famoso mais pelo nome estranho do que pela ideia em si, até por que hoje em dia, com tantos questionamentos e novas ideias, aquela teoria apresentava algumas falhas consideráveis. É uma teoria a gravidade, o big bang, e o metrô que tem que pegar de manhã para o trabalho...

Enfim...

Decidiu que no próximo conto não mais nomearia as pessoas, o ele, e o ela, são quem os leitores e admiradores quiserem que sejam. E se achassem que era para si, que lidassem com seus problemas egocêntricos sozinhos, afinal, ele só queria criar arte, histórias e sonhos.