Entregas...

Ele estava sentado naquele mesmo banco de sempre, de madeira corrida em uma pequena praça olhando as pessoas e o seu redor. Viu crianças brincando no parquinho, dois senhores velhos mais papeando do que fazendo ginástica nos aparelhos, e um casal comum. Eles estavam sentados em outro banco, a uma distância considerável e ele acariciava o rosto dela enquanto ela soltava a coleira de um cachorro desses que mais parecem uma pelúcia. Ele pensou sobre aquelas cenas, e se perguntou de novo, pois ainda não acreditava. Quantas pessoas você já amou? Aliás, você acredita nisso, parece um tanto piegas nos dias de hoje, com tanta informação alienada, que as pessoas possam se apaixonar. Uma vez conversando com uma amiga que já havia se decepcionado em uns três casamentos diferentes, que ela jamais se apaixonaria de novo, no entanto, estava lá, falando com aquela voz miada para seu “novo” namorado. Era sempre assim. Não importava a idade né. Ele pensou para si mesmo, havia se apaixonado e vivido intensamente, e parecia que quanto mais velho ficava mais a entrega se tornava real, mais o coração batia firme, acreditando que tinha encontrado o caminho único para a certeza de um grande amor. Quantas vezes você se apaixonou cara? Os nós que a barriga dá quando se pensava nela, o coração acelerando e as pernas bambeando. Às vezes era tão forte que o pau nem subia de tão nervoso que ficava por amar tanto. Ele viu a garota puxar a coleira do bicho e falar alguma coisa bem ríspida para o sujeito, que se encolhia no banco. Quantas foram as entregas, quantas ainda serão? Se lembrou desde a adolescência, da primeira namorada que morava na mesma rua, das primeiras “ficantes” das festinhas de escola, e já jovem adulto criando planos com uma outra, “temos que trabalhar para comprar nossas coisas”, ela disse a ele, e ele sorriu abobalhado. E foi assim, era um sujeito romântico, acreditava mesmo que amava, que todas as pessoas que ele decidiu que levaria algo forte, que podia tentar controlar esse sentimento, mas não queria de verdade. Porém tinha aprendido com o tempo, o sofrimento deveria ser silencioso, como uma cobra, ela vai te picar, injetar o veneno, e aquilo vai enlouquecer seu sangue, até chegar no coração que vai bater de forma estranha, meio dolorido, e quando chegar no cérebro, tentará não se lembrar, tentará tampar o buraco, contudo lembre-se, jamais pode ser com outra pessoa, nunca se engane, uma outra pessoa, não substitui quem já foi… A garota se levantou, puxou a coleira do cachorrinho e olhando furiosamente para o sujeito acanhado, foi embora. Ele sem nenhuma ação cruzou as mãos na cabeça. Não era para ser assim era? Lembra daquela pessoa que viveu por mais ou menos cinco anos juntos, não eram promessas de amor, de um lar perfeito, de construirem juntos… Ele já não sabia se tinha idade ou tempo para aquilo, por isso ia rápido demais, se é para ser, que seja, senão que tome outro rumo, sofrer jamais, mas a aventura de se apaixonar, ah cara, essa é tão boa, que quantas vezes acontecerem, para a garota da sorveteria, para a mulher no ponto de ônibus, para a atendente da loja de roupas, para a pesquisadora daquela faculdade importante, para a melhor amiga que confidenciava qualquer coisa, para a prima que não via a séculos, para a amiga da amiga da irmã que morava naquela cidadezinha do interior, e para aquelas que ainda iria conhecer, e claro, para a mãe do melhor amigo. Risadas. Assim mesmo.