Vampira e o amante

Enquanto caminhava, o salto de minha bota tinha o "toc toc" mais sexy da região, meu rebolado hipnotizante atraia todos os olhares, mas o que não sabiam era que eu não era uma prostituta de luxo, e sim uma sedenta filha das trevas.

-Qual seu preço cadelinha deliciosa?- o homem gordo do tipo "empresário bem sucedido" sorria.

-Um preço que você não pode pagar.

-Posso pagar qualquer preço sua vadia, e quero você agora!

Os olhos castanhos agora estavam verdes, o sorriso malicioso deixava à mostra caninos quase imperceptívelmente maior, mas ela sabia que os seres humanos, assim como animais, sentiam o perigo de ter um ser superior diante de si. O homem deu um passo para trás, tropeçando, e foi levando sua barriga gorda na direção oposta.

De fato, o que não suporto é arrogância, eu deixaria vivo um humano virtuoso, mas um deste tipo me nego, tanto a sugá-lo quanto a permitir que viva envenenando este mundo.

Passei no apartamento de Solene, ela estava deitada descansando depois de um banho de sangue.

Peguei um vestido comportado, pois pretendia ir ao bar do bairro, de meu pescoço pendia o ankh, eu tinha um anel bem talhado, agora eu era uma simples gótica, a vantagem de ter vivido em outros tempos era esta, vi aquela tribo nascer e se metamorfosear. Agora eu era seu símbolo secreto, tinha morte correndo nas veias, tinha a palidez mais intensa, a frieza mais sobre-humana, hahahahaha, eu não sou humana!

-Ta rindo sozinha do que, sanguessuga vadia?

-De nada... A noite foi boa hein...

-Se te disser que arranjei um virgem você não acredita!

-Matou alguém que só trepou com você? Puta sem coração!

Quando ela soltou seu riso infernal tremi, ela tinha força e poder, os olhos nem mudavam de cor mais, pois faiscavam, ela não tinha mais sequer um pingo de humanidade ou sentimento...

Desci as escadas, fui para o bar. A musica era lenta, instrumental, tinha vida e morte em êxtase, tinha a sonoridade de um gozo com a languidez de um gemido moribundo. Sentei no canto mais escuro, observei os rapazes, as moças, invejei o calor de seus corpos e a leveza de seus sorrisos, tremi ao ver um beijo apaixonado, odeio ainda ter estas fraquezas tipicamente humanas...

-Olá... Está sozinha?

Pude sentir no ar a insegurança do rapaz, um moreno de cabelos um pouco compridos, ele tentava parecer forte e seguro, mas o sangue circulava mais rápido, o coração mais disparado, o suor quente nas mãos.

-Esperando por uma companhia como a sua...

Ele não era bonito, mas tinha algo especial dentro dos olhos.

Passamos várias horas falando de mil coisas, bandas, filosofias, arte, etc. quando ele tocou minha mão durante a conversa afastou depressa.

-Que mão fria!

Sorri, segurei a mão dele por alguns instantes sorvi calor dele, ele estremeceu.

-Nossa, senti um frio de repente...

-Está nervoso?

Sabia que era o melhor modo de desafiar um homem.

-Não!

Pegou em minha mão e fomos até a pista, dançamos coladinhos, ele acariciava com leveza meus cabelos, o coração dele disparado nada tinha de desejo, mas de algo mais profundo, como se ele me admirasse como a uma escultura perfeita! Por que nao achei ninguém assim enquanto era humana?

Fomos para o apartamento dele depois de algum tempo, ele era carinhoso, beijava todo o meu rosto, acariciava meu corpo com uma volúpia comedida, como um amante submisso, sussurrava versos em meus ouvidos, lambia meu pescoço... Quando me deitou em sua cama, senti seu doce perfume por todos os lados, vi cartazes de peças de teatro e filmes antigos, vi miniaturas de carros e flores, vi no teto uma paisagem tranqüila, ele era sensível, era incrível! Ele passou mais de uma hora tocando com leveza cada centímetro de meu corpo, mesmo sentindo o mais profundo desejo queria estender, ele me venerou como a uma deusa e eu me senti mulher outra vez!

Foi o sexo mais intenso, foi a noite mais insana, foi o amante mais perfeito. Não consegui matá-lo, mas enquanto ele dormia, com um sorriso nos lábios e os braços ao redor de meu corpo, eu o feri, com minhas unhas e aparei com as mãos o sangue que escorria, lambi meus dedos, não podia transformá-lo em um igual, pois não me perdoaria por imortalizar um corpo matando uma alma tão linda. Fiquei feliz por ainda sentir minha humanidade, e por ter tido a oportunidade de conhecê-lo, no futuro aquilo seria lembrado por mim como a fraqueza de carências humanas, mas, foi algo muito mágico...

Quando o sol esboçou sua subida, clareando preguiçosamente o horizonte ela fugiu, e se escondeu, como a típica filha das trevas, para seu sono, que para variar um pouco, seria com sonhos doces....

T Sophie
Enviado por T Sophie em 03/10/2007
Reeditado em 23/09/2009
Código do texto: T679230
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