Reciclagem

- Nossa eficiência na remoção de lixo, tornou aceitável a criação de mais lixo; um dia, isso teria que acabar - filosofou Quentin, enquanto retirávamos as compras, acondicionadas em caixas de papelão, do porta-malas do táxi que havíamos pego no supermercado.

- Confesso que sinto falta de algumas daquelas embalagens de plástico. Agora, estamos limitados a papel, papelão, vidro, estanho e alumínio - enumerei.

- Tudo o que pode ser, realmente, reciclado - contemporizou Quentin. - E não apenas incinerado, gerando poluição do ar, ou pior, descartado em lixões ou jogado no oceano.

Subimos com as compras pela escada até o terceiro andar, onde eu morava. Prédios de até quatro andares agora substituíam casas nos novos bairros planejados da cidade; com isso, eliminava-se a necessidade de elevadores, e economizava-se energia. A escassez de recursos ditava muito do que podia ser feito nos dias atuais.

- Ninguém quer mais repetir o passado, essa é a verdade - prosseguiu Quentin, enquanto colocávamos as compras sobre a mesa da cozinha.

Havia sido um processo difícil, ver-se subitamente privado do uso de plásticos para embalagens no dia a dia, mas ou tomávamos esta atitude radical, enquanto sociedade, ou afundaríamos no nosso próprio lixo. Algo que estivemos muito perto de experimentar, na verdade.

Finalmente, a palavra reciclagem não estava mais sendo usada apenas como uma estratégia de marketing, para justificar a produção de mais resíduos inservíveis.

- [25-12-2020]