Lobo a bordo

A manhã ia pelo meio quando o ferry-boat oriundo de Heysham, Inglaterra, acostou no terminal marítimo da ilha, e dezenas de passageiros começaram a desembarcar. Junto ao portão de desembarque, Reuben Gilbert e Margaret Freemantle, uniformizados, aguardavam pela passagem de Evrawg Corfield. O visitante não se fez esperar muito, e dificilmente passaria desapercebido: era um homenzarrão de quase dois metros de altura e ombros largos, vestido com um sobretudo e terno escuros, puxando atrás de si uma mala de plástico com rodízios. Margaret acenou para chamar a atenção dele; Corfield não demorou a perceber o gesto e acenou de volta, um grande sorriso no rosto.

- Moghrey mie! - Saudou-os no dialeto local.

- Moghrey mie! - Respondeu o casal em uníssono.

- Corfield, este é o sargento Reuben Gilbert - Margaret fez as apresentações e os dois homens apertaram-se as mãos.

- Não gosta de viajar de avião, Corfield? - Indagou Gilbert enquanto o visitante apresentava seus documentos a um agente da Imigração, na saída reservada para autoridades.

- Nada contra, Gilbert - disse o galês, sem deixar de sorrir, mas com menos ênfase. - Mas há algumas restrições a pessoas do meu tipo em voos comerciais.

- Perdão - redarguiu Gilbert, embaraçado. Mesmo a Lei da Igualdade de 1972, não havia removido todas as barreiras impostas aos assim chamados "alternativos", categoria na qual Corfield estava enquadrado. Mesmo sendo ele um oficial da lei, não atenuava isso.

- Não precisa ficar constrangido - comentou Corfield em tom descontraído. - O receio das autoridades não é que um de nós possa ficar descontrolado dentro de um avião, mas como um lobo gigante iria colocar um cinto de segurança.

Corfield ficou perguntando-se se aquilo era real ou uma piada para descontrair, mas Margaret, que havia ido buscar no estacionamento o automóvel que os trouxera, parou diante deles e o poupou de dar uma resposta.

- Vamos lhe deixar no hotel, e depois nos encontramos para almoçar - sugeriu ela.

Seguiram para o centro da cidade, e ao passarem diante do Hexenringe Café, Corfield comentou:

- Como então, os Ellyllon chegaram até aqui?

Ao volante, Margaret sorriu.

- Pode-se dizer que eles nunca saíram daqui, Evrawg. Apenas se adaptaram ao modo humano de ganhar dinheiro...

[Continua]

- [01-04-2021]