Faltavam poucos dias para a cerimônia do casamento.
A festa regada a doces caseiros, frango assado, leitoa recheada, flores de laranjeira, era muito esperada. A cidade parou para distribuir expectativas sobre o grande evento.

A mocinha recatada, vinte anos, preparava o seu branco vestido de seda pura, pérolas na cabeça para segurar o longo véu. O bouquet preparado e elaborado pela Irmã religiosa, colorido, cheio de rosas, coroava a vestimenta do dia.

Bem perto da casa da noiva...morava na fazenda  do irmão, família conceituada, respeitada, o solteiro Manoel. A distância  a percorrer entre a festa do casamento e a fazenda  era a travessia da ponte de ferro, onde o trem se anunciava ao passar... com buzinas, sinos tocando, maquinista acenando.
Manoel, o senhor passado dos cinquenta anos, vivia entre a fazenda e as idas ao barzinho próximo à Escola para comprar o pão e jogar conversa fora. Era portador de alguma mal que o impedia de andar  sem mancar. Gaguejava um pouco, mas conseguia se comunicar.

Na antevéspera das esperadas bodas, Manoel bate palmas no portão da casa da noiva. Ela...abre a porta principal da casa, cumprimenta o vizinho.
Antes que qualquer coisa pudesse atrapalhar o diálogo, Manoel, entre uma gaguejada e outra,  dispara...
" Seu casamento se aproxima. Estou aqui para, também, te propor casamento. Se aceitar...colocarei cortinas vermelhas de veludo nas janelas da fazenda. É o que tenho para te oferecer. Case comigo!..."

A noiva sorri até hoje...



Foto by  Zaciss
(Ponte de ferro - sobre a linha férrea - Lavrinhas  SP)