Chagas do passado

Era uma mnhã de janeiro.Eu caminhava em passos lentos pelo parque, observando as árvores seculares que tornavam o lugar tão magestoso quanto sinistro e sugestivo.A princípio havia cerração, mas o sol insistia em se fazer presente e eu pressentia claramente que seus primeiros raios me trariam mais que brilho e calor.Simples intuição... talvez.

Prosseguí em marcha lenta e , deixando a trilha que antes seguia, principiei a andar por entre as árvores examinando as pequaenas placas que algumas exibiam contendo nome e orígem.Nesse ritual devo ter me demorado quando muito uma hora.

Me aproximei então de uma das várias mesas de concreto que haviam espalhadas por entre as árvores, cada uma com dois bancos.Quando gesticulei para abrir o livro que trazia , este foi ao chão e , antes que eu pudesse alcançá-lo , percebí que mãos ágeis seguravam-no em minha direção.Olhei por cima dos óculos com surpresa, a figura de um jovem alto, de pele clara e cabelos castanhos bem curtos , como que recém-saído do exército.Os olhos lembravam a calmaria que se faz após uma violenta tempestade.Sorriu com meu susto e dei uma vista de olhos pelos arredores.Então me dei conta de que o parque estava ainda quse deserto; via umas duas ou três pessoas a uma longa distãncia.Voltei os olhos para o estranho como que indagando a forma como chegara alí tão depressa.Concluí que havia me entendido perfeitamente, apenas não fizera questão de me exclarecer a dúvida. Seu silêncio de quem estuda o estranho era intrigante e limitei-me a recolher o livro de suas mãos e pronunciar um muito obrigada.Respondeu com um sorriso e meneou a cabeça em gesto afirmativo.

_Não ví quando se aproximou-comentei finalmente.

-Talvez não tenha olhado pra trás-elucidou ele

-Bem lembrado-concordei ainda cismando.

Uma vez quebrado o gelo, estivemos conversando por um longo tempo.

Nos vimos mais vezes e nos tornamos amigos.Ele falava mais de sua família e menos, ou quase nada sobre sí mesmo.Jonh Maurice-era esse seu nome- de fato era um soldado e achava que a vida no exército nada tinha de emocionante apenas se acostumara a ela.Disse-lhe que me casaria em breve e fiquei entre surpresa e apavorada quando este assegurou-me que isso não ocorreria.

Com efeito, após ter negado terminantemente romper o noivado conforme ele havia me pedido, meu noivo sofrera um acidente fatal.

Igual trgédia ocorrera em véspera do meu segundo noivado.Em ambos os casos, as investigaçôes não apontaram um culpado.Fatalidade; dupla fatalidade...ou não!

Quando quis tomar satisfações com Jonh Maurice, este apenas assegurou-me na maior tranqüilidade dos mortais, fazendo questão de deixar bem patente, que toda a atenção a ele dispensada jamais seria dividida; sem contudo assumir a culpa.

Irada , voltei ao Paraná onde reside minha família e lá fiquei por três meses.Sem nada dizer a meus pais, confessei á uma parenta à quem havia contado toda a história, que desejava imensamente rever Jonh Maurice.Sob protestos,ela acompanhou-me de volta à São Paulo.Quis mostrar-le o parque onde conhecera o Jonh e ela insistiu em visitar antes o museu próximo.

Detivemo-nos na parte inferior do museu, que era dedicada à exposições da Aeronáutica, objetos e fotos de guerra.Em dado momento , ela agarrou-me pelo braço com tal força que parecia querer arrancá-lo de mim e disse estupefacta:

-Jeanie,presta atenção nisso!-e apontava para uma pequena fotgrafia num painel-è o Jonh Maurice!

Na fotografia indicada por tamanho desespero, estava o soldado Jonh Maurice, sob a mesma,a data de sua morte em combate e homenagens póstumas.

(publicado em 1999-antologia Contraponto,ed.Mandruvá)

Silas Santos
Enviado por Silas Santos em 12/11/2007
Código do texto: T734159
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