Diabolic Angel cap. II

Anoitece. Julian desperta de seu longo repouso diurno; se desfaz do lençol de seda negra que até então lhe cobria o corpo e, ainda nu caminha até a grossa cortina que encobre a janela de seu quarto de modo que não deixe entrar nenhum raio de luz durante o dia; abre-a, deixando enfim a luz adentrar ao cômodo, a luz da lua cheia.

Ele paira admirando por um breve momento a bela paisagem de sua janela como uma bela pintura. Realmente, a cidade vista de cima à noite é algo digno de se contemplar e a lua cheia dá um toque especial à essa paisagem.

Seus olhos vão longe, mas seu pensamento está em um só lugar; apesar de a cidade ser bela vista de cima, lá em baixo ela continua carregada de sujeira e escória. Julian tenta se concentrar nas pessoas que caminham despreocupadas, pedindo para provarem de sua fúria, pedindo para serem mortas, esquartejadas, dilaceradas...

Ele tenta, mas só consegue pensar em uma única pessoa... Kyra!

- Será que ela conseguiu se abrigar a tempo? - a pergunta não parava de se repetir e ecoar em sua cabeça.

Julian se veste, como sempre elegantemente, em tons de preto e vinho. Se dirigindo à cidade a fim de procurar por alguma vitima em potencial, mas não sem antes dar uma passada pelo beco onde deixou aquela viciada maluca imortalizada. Caminhando pelas ruas escuras seguindo em direção aos becos sujos, ao longe Julian avista uma moça solitária vindo em sentido contrario; vindo em sua direção; quando a jovem se aproxima, a beleza do rapaz chama-lhe a atenção, ele não gostava de perder tempo, então já foi logo atacando:

- Boa noite senhorita!

- Boa noite. – ela responde com um encantador sorriso nos lábios.

- Você poderia me dar uma informação?

- Claro!

- Qual é o sabor de teu sangue?

- O quê???

Antes que a jovem entendesse a pergunta, Julian a segura pela nuca cravando seus enormes caninos em sua jugular, ela se debate, tenta em vão afastar-lo de seu corpo, mas desiste de lutar quando seu corpo começa a perder a força, sua vista vai lentamente se escurecendo. O rapaz afasta sua boca do frágil pescoço de sua vitima, ainda a segurando pela nuca, apenas sussurrando em teu ouvido:

- Você está morrendo, mas não se preocupe, vou cuidar para que isso seja rápido.

Com uma velocidade incrível, Julian segura a cabeça da jovem com a outra mão espremendo-a junto à parede de concreto, soltando um barulho surdo, uma enorme mancha de sangue desenha-se no muro, ele deixa aquele corpo sem vida cair e retoma sua caminhada em direção aos becos sem nem mesmo olhar para traz.

Chegando próximo da entrada do primeiro beco, ao longe outra figura feminina surge entre as sombras – mais uma vitima – Julian pensa, ela também vem ao seu encontro, mas ao sair das sombras e entrar debaixo da luz do poste, Julian se depara com a mais bela mulher que seus olhos já viram. Uma morena deslumbrante, usando um longo vestido azul escuro aberto até a altura da coxa, longos cabelos negros encaracolados, um batom vermelho vida nos lábios sensualmente carnudos, Julian não acreditava no que estava vendo.

- kyra? É você mesmo?

- Claro que sou eu, uma nova Kyra, imortal e totalmente... Mortal.

- É isso que eu chamo de transformação.

- Fiz uma visitinha à casa de minha mãe para tomar um banho e usar algumas coisas dela, ela não gostou muito de me ver, mas...

- Você matou sua mãe?

- Claro que não, apesar de tudo eu a amo, apenas entrei e sai deixando ela aos choros, só arranquei o fio do telefone para me garantir que não chamaria a policia enquanto me lavava, e esse vestido lindo. – Kyra dá uma volta para exibir o belo vestido ao rapaz. – Eu peguei na vitrine de uma loja, tive que quebrar a vidraça da mesma, mas acho que eles nem vão notar a baguncinha que eu fiz.

- Sei... – Ironiza Julian

- Só mais uma coisa, tenho um presente para você também, espero que goste.

Kyra aponta em direção ao beco de onde acabará de sair. O rapaz acelera os passos para conferir de que se trata esse tal presente e, realmente tem uma grande e desagradável surpresa; todos os viciados e mendigos que habitavam os becos até a noite anterior agora estão imortalizados, Kyra transformou a todos em vampiros, estavam espalhados pelos becos, brigando entre eles, aterrorizando uns aos outros como um bando de idiotas. Um Julian enfurecido se volta à Kyra, a bela jovem sorri achando que seu criador gostou do presente, mas seu riso é arrancado de seus lábios com um tapa deferido por Julian que a joga de encontro ao solo de joelhos; lágrimas de sangue escorrem de seus olhos enquanto ouve o seu criador esbravejar.

- Você é uma garota estúpida, um dia como vampira e consegue fazer mais besteiras do que eu em toda a minha vida. Por que você acha que ainda estou vivo? Eu te respondo o porquê, é por que eu não crio vampiros, tenho três regras simples, mas que sigo fielmente e é bom você começar a segui-las também antes que eu me arrependa ainda mais do que eu já me arrependi de ter te imortalizado. Regra 1: não mate e nem morda crianças! Elas são inocentes e além do mais, será o nosso alimento de amanha; regra 2: não mordo homens! Quanto á essa regra, você pode ficar a vontade, morder só mulheres é uma preferência pessoal minha. Regra 3 e, a principal: nunca crie vampiros! Vampiros são egoístas, mesquinhos, egocêntricos, traiçoeiros... Alguns alimentam a idiota idéia de que quanto menos vampiros no mundo mais poderosos se tornam os que sobrevivem; antigamente se criavam vampiros e muitos criadores foram mortos por suas criações; hoje os poucos que existem só sobreviveram a partir do momento em que aprendemos que quem cria serpente, morre envenenado. E para piorar você escolheu a escoria do mundo pra imortalizar, pessoas incapazes de ter um mínimo de amor próprio, agora tem poder... Poder e imortalidade. É isso que você chama de presente? Muito obrigado! Mas não quero caçar com a sensação de que eu sou a caça.

- Me desculpe eu, eu...

A jovem Kyra percebendo o tamanho de seu erro mal consegue olhar nos olhos de seu criador. Julian a fita ainda de joelhos por alguns segundos e volta a esbravejar:

- Acabo de criar a regra 4: Nunca se ajoelhe; ninguém é melhor que você, ninguém está acima de você, então nunca se ajoelhe perante ninguém.

Ele estende a mão na direção da jovem e a ajuda a se levantar, em seguida pega um pedaço de madeira que está jogado na calçada e o quebra ao meio com a força dos braços, de forma que se tornem duas estacas pontiagudas. Dando uma delas à Kyra.

- Vamos limpar a sujeira que você fez, atinja-lhes o coração sem pensar duas vezes, se você fraquejar por um segundo, eles te matarão e não terão piedade ao te verem morrer.

E assim Julian e Kyra iniciam uma seqüência de ataques contra os seres imundos dos becos. Um a um vão caindo todos ao chão. Estacadas fortes e precisas vão abrindo o peito de todos que ele encontra em seu caminho, ela por sua vez, não tem tanta força, mas sua velocidade é incrível, deixando um rastro de defuntos por onde passava. Esses seres por tão pouco tempo imortalizados até que tentavam alguma reação, mas em vão, mal conseguiam ver os movimentos de Kyra, apenas os poucos segundos em que ela os olhava nos olhos enquanto a estaca perfurava os corações. Julian não se contentava apenas em perfurar o órgão pulsante, varias cabeças foram decepadas e braços foram arrancados; unindo o útil ao agradável, ele limpava a sujeira enquanto se divertia vendo-os sofrer. Estão quase todos mortos, faltando apenas mais três que cercam um homem ajoelhado segurando um rosário e pedindo à Deus que o salve. Julian penetra a estaca na cabeça de um deles de cima para baixo, enfiando-a até o coração, o outro desfere um golpe contra o jovem vampiro, mas tem seu braço segurado e arrancado de seu corpo como se Julian estivesse tirando as pernas de uma formiga e, crava-lhe a estaca no peito desse e do outro também com um só movimento. O homem que até então estava orando se levantou para agradecer, mas foi atingido na cabeça pela estaca de Julian, abrindo-lhe o crânio ao meio. Kyra vendo a cena grita tentando conter a fúria do rapaz.

- Julian não!!! Esse é o Padre Emmanuel, ele não é vampiro.

- Eu sei.

- Então por que o matou?

- Não gosto de padres.

- E não gostar de padres é motivo para matá-los?

- Se eu o matasse por gostar dele, ai sim seria estranho.

- Você não deve mesmo ser bem visto por Deus.

- Deus tem muito mais motivo para me odiar do que o assassinato de alguns padres pedófilos; um dia nos veremos frente a frente e ele ira me agradecer por isso e me condenar pelo resto... Bem! Acho que acabou; eu vou embora agora.

- Embora para onde?

- Para a próxima cidade que aparecer, eu não quero estar por perto quando o povo se levantar para trabalhar e verem esses corpos espalhados pelos becos.

Julian vai andando em direção à seu casarão para pegar algumas coisas antes de partir, Kyra vai acompanhando-o, ele olha para ela e pergunta:

- Onde você pensa que vai?

- Eu vou com você.

- Nem pensar; eu ando sozinho; você cheira a problemas.

- Eu não vou ficar aqui sozinha. Deixe-me ir com você, vai? Você disse que não morde homens, então você fica com as mulheres e eu com os homens, teremos alimento para os dois.

- Tudo bem. Pode vir, só assim terei certeza que você não fará mais nenhuma besteira.

- Então, como que eu faço?

- Como você faz o que?

- Para virar morcego?

- Virar morcego? Você anda assistindo muito filme garota. Por que nós iríamos querer nos transformar em um bicho que não enxerga um palmo na frente dele? Identificamos-nos muito com eles, mas não queremos ser eles.

- Então nós vamos como?

- Andando, um pé, depois o outro, assim vamos longe.

Os dois vão conversando; se distanciando cada vez mais da cidade; deixando para traz dezenas de mendigos e viciados mortos. Mas, enquanto se afastam; um sujeito estranho os observa se distanciarem enquanto se alimenta de ratos e cachorros...