A Dívida

Telefone soa. Atende no terceiro toque.

- Alô?

- A Soraia está?

- Tá na Igreja.

- Que horas esta piranha volta?

- Mais respeito, dona! Aqui é o marido dela.

- Então o senhor diz pra ela me pagar o que deve! Não trabalho na zona, pra ganhar dinheiro fácil!

- Te deve o quê?

- Noventa reais, pelas três fantasias.

- Que fantasias? Minha esposa detesta carnaval, é crente! Você deve tá confundido minha mulher com outra Soraia!

- É esse número mesmo! Quer me enrolar, seu filho da puta? Quero meus noventa contos pelas fantasias de enfermeira, polícial e estudante! Se essa puta não me pagar até sexta, eu vou na porta dela e armo um escândalo!

- Vai se fudê! Mulher doida!

Desligou. Pensamentos atordoados zuniam em sua cabeça. Foi ao quarto do casal procurar as fantasias. Ouviu a chave da porta principal girar. Voltou à sala. Transpirava.

- Chegou cedo, querido.

- Onde você estava?

- Na igreja, onde mais?

- Na sua igreja tem escola, hospital ou delegacia?

- Quê?

Três facadas no peito. Uma por cada vestimenta erótica.