A LARANJADA DA AVÓ

Os verões na chácara da avó eram esperados ansiosamente. Nadar no rio, bolo de fubá ou macaxeira com laranjada à tarde, brincar com os bichos, tudo era bom. O melhor era a velhinha, toda amor e desvelo com os netos. Os filhos diziam que não lembravam do pai, fugira com a tia quando eles ainda eram meninos. Todo fim de tarde a anciã ficava uma ou duas horas sentada no laranjal, falando sozinha. Ninguém ligava, a todo velhinho se permite uma esquisitice.

Ela morreu e os filhos, para tristeza dos netos, venderam o lugar já no velório para uma empreiteira e dividiram o butim. Dois meses depois escavadeiras encontraram debaixo dos pés de laranja duas ossadas. Um homem e uma mulher abraçados.

A perícia afirmou que morreram a golpes de martelo.

Aristoteles da Silva
Enviado por Aristoteles da Silva em 18/12/2021
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