"CONFUSÕES" À BRASILEIRA

"CONFUSÕES" À BRASILEIRA

Ricardo fôra buscar seu amigo lisboeta no aeroporto e voltaram direito para seu bairro na Zona Norte carioca, para o barzinho onde tinha assento privilegiado, prestígio e "caderneta de fiados", raridade num país de "picaretas" e num Estado com 5 ou 6 governadores que já "visitaram" um "xilindró", cadeia ou prisão hoje.

A birosca, digo, venda, aliás "baiúca" ou mero Bar estava "às moscas", com a proprietária e garçonete Luciana olhando pensativa o teto de madeira escura. Entraram e abancaram-se... "Lulu" já conhecia os gostos e preferências de "Rick", restava saber o que desejaria o compridão cabeçudo que o acompanhava.

-- "Você, aqui, tão cedo ?! Mas, que surpresa" !

-- "Pois é, "Lulu", fui buscar esse amigo no aeroporto" !

-- "Ah, muito prazer... fez boa viagem" ?!

-- "Nem tanto ao mar, nem tanto à terra... só me incomodei com uma "bicha" enorme, no setor de bagagens. Aquilo me aborreceu um bocadito, ora, pois, pois" !

Luciana franziu o cenho, tinha amigos e amigas "gays" !

-- "Huumm, o que temos aqui... um "bolsominion" homofóbico" !

Ricardo apressou-se em desfazer o equívoco:

-- "Não é o que você está pensando, êle é português, Lulu" !

-- "E daí, acaso isso lhe dá direito de ofender os outros" ?

-- "Teikirize, bêibi"... depois te explico" !

-- "Digue-me lá, "c'chôpa"... o que tens para comeire acá" ?!

-- "Que chupa" ?! Você me respeite, sujeitinho à toa" !!!

-- "Ô pá, porque a cabrocha está tão irritada" ?

-- "CA-BRO-CHA é o "cacete"... detesto esse negócio de mulata, de morena, escurinha, eu sou é NEGRA, pretíssima" !

-- "Lulu, você está "entornando o caldo" !

-- "O que temos para comeire, senhorinha" ?!

-- "Ah, agora melhorou... vais querer o quê, "portuga" ?

-- "Traga-me um "garoto moreno" e uma "carcaça" quentinha" !

-- "O QUÊ ?! Ponha-se na rua, patife, 'tá pensando que meu Bar é prostíbulo ? Olha que chamo a Polícia já-já" !

-- "Lulu, pelamordedeus... isso é "café com leite" lá em Portugal e "carcaça" é pão na chapa, com manteiga" !

-- 'Olha, Rick, sempre te considerei... mas não admito ver você acobertar este pervertido. Pra fora da minha casa, os dois", jááá" !

Ricardo achou melhor não contestar... saíram às pressas, o galego sem entender a razão daquela confusão toda.

-- "Escute aqui, Joaquim... ou passas tua temporada no Rio de boca fechada ou vais "acabar mal". E fica proibido tomar uma "média" (em São Paulo é "pingado") aqui, você entendeu" ?!

-- "Pois bem, vá lá ! Mas, dê-me seu "telemóvel", esqueci o meu na mala. Preciso falar com uma prima, agora" !

-- "Cuméquié" ?! Tele... o quê ? Não sei do que estás falando" !

-- "Cáspite, Rick, não brinque... eu tenho pressa" !

-- "Amigo no Brasil não tem isso... volte pra Lisboa, ô gajo" !

-- "Ah, minha santa mãezinha... como é mesmo o nome da porcaria ? É "rato", não é mesmo" ?!

-- "RATO" só tem em Brasília... corra pra lá, "alfacinha" !

-- "Oh, raios, lembrei... é "SEU LULÁ", ora, pois, pois" !

-- "Vou "quebrar teu galho", "Quinzão", mas não acostuma, não" !

E lhe cedeu o CELULAR, ainda chateado com o vexame lá no comércio da amiga.

"NATO" AZEVEDO (8/fev. 2023, 10hs)