UM CONTO

Não se trata de um conto de réis, que no império brasileiro com ele se comprava um quilo de ouro, mas que hoje nada vale. Trata-se, sim, da narrativa de momentos que apesar de terem ficado presos na escuridão do tempo, ainda estão vívidos e animados na luz da minha memória com imagens e sons que somente eu tenho a possibilidade e a capacidade de reviver tal como ocorreram. Pena que não posso compartilhas essas minhas lembranças vívidas com ninguém.

O ser humano é o único animal que tem a possibilidade de guardar dentro de si coisas que apenas ele viu ou ouviu no transcurso de seu tempo.

Passei a metade da minha vida buscando mentalmente encontrar a tal felicidade que eu via transbordando de prazer e alegria entre os mais abastados que eu conhecia no pequeno lugar onde vivi. Mas para mim tudo era impossível, até mesmo eu me aproximar deles era um caso impossível. Eram dois pesos e duas medidas.

Tristonho, em pensamentos eu chegava a me questionar assim:

- Como essa gente conseguiu ter de tudo e eu nada tenho!

O que me falta para conquistar o mesmo que eles?

Eu ficava observando o modo de vida e o comportamento deles e me sentia inferiorizado com tudo.

Os empregos que me ofereciam eram indígnos e desmerecedores. Eles, na maioria, eram funcionários público ou bancários. Mas, para mim, que era um jovem sonhador com coisas mais admissíveis, se achava inferior ao que eles exibiam.

Eu sonhava coisa pequena, tipo ter uma bicicleta, mas não conseguia pois era muito caro; eu tinha muita vontade de dançar no Rotari Club, mas não me deixavam entrar. Eu queria ir ao cinema ver filme de adulto mas a censura da ditadura me proibia.

Aí me surgiu a possibilidade de ser petroleiro e violonista. Abracei as duas oportunidades e minha vida melhorou. Passei a ser amigo dos abastados e com eles fazíamos serestas e cantávamos em bares e clubes. A partir dai apaguei as questões que muito me afastaram do convívio social com os dito cujos. Não me deixavam pagar nada. Eu e os tais ricos do lugar nos irmanamos amigavelmente: coisas que não esquecerei.

José Pedreira da Cruz
Enviado por José Pedreira da Cruz em 16/05/2023
Reeditado em 20/05/2023
Código do texto: T7789246
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.