O BAÚ



Boris recebeu uma quantia em dinheiro e aquele baú de herança de seu tio-bisavô, Piotr Antoniov, Arquiduque da Translavânia.
Durante muito tempo, tinha aquele objeto guardado no sótão de sua casa, sem ter coragem de abri-lo.
Nunca soube da existência deste parente, até a chegada da encomenda a 4 anos passados.
Seus pais, já falecidos, em nenhum instante, deram a menor pista... Antoniov... Este sobrenome era completamente desconhecido.

Voltou seu olhar à arca... Já estava crescidinho para ter medo. Tinha agora 25 anos e era o homem da casa. O único homem, já que além dele seus pais lhe deram apenas duas irmãs Tyfani e Margo. As únicas abençoadas com nomes americanos. O seu, Boris, foi uma homenagem ao ator Boris Karloff, pois seu pai adorava filmes de terror da década de 30.

Como estava desempregado e o dinheiro da herança já estava se esgotando pensou. “Quem sabe não encontre algo de valor nesse baú”.
Chamou as duas irmãs menores, Tyfani de 15 e Margo de 18, para acompanhá-lo na aventura, por que ele tremia de medo... Mesmo homem feito, morar naquela casa era arrepiante... As paredes suavam mistério.

Dizia seu avô, quando vivo, que a casa tinha de mais de quinhentos anos, e foi construída e reconstruída diversas vezes. Aliás, casa era uma nomenclatura errônea, aquilo cheirava a mansão.
Tinha seis andares, contando sótão e porão, e cada andar era divido por quatro alas, cada uma correspondendo a um ponto cardeal. O sótão ficava longe, mas bem longe da sala-de-estar, talvez uns cem metros... O que é por demais numa casa.

Sua avó contava, ao redor da lareira e do aroma das sopas noturnas as horrendas histórias do lugar. Dizia sempre que a mansão era amaldiçoada pelo espírito Francis, que morreu soterrado numa das reformas, e que este só largará quando seu corpo for desenterrado.

Boris já havia sentido aquela sensação antes, mas se recordou minutos depois: foi quando leu "O escaravelho de ouro", de Edgar Allan Poe, herdado de seu pai, que adorava ler... Inclusive existia uma biblioteca lá, no quarto andar, ala sul... Tinha livros raríssimos, inclusive um manuscrito do Farol de Alexandria... Mas o fogo levou. Sobraram apenas alguns livros. Boris sente a saudade daquele odor de biblioteca até hoje. O incêndio poderia ter sido evitado, se ele não estivesse fumando ébrio, numa noite.

Mas voltou a atenção à arca, pois as irmãs foram irredutíveis. Disseram não ao convite.
O negro baú era uma peça de madeira, talvez ébano com enfeites em metal, com aspecto assustador.
Sozinho, ali naquele sótão, aonde quase ninguém vinha, ele tremeu por dentro.
A necessidade falou mais alto. Boris abriu a tampa do baú.
Quase não acreditou no que viu... Pouca coisa: um velho papel amassado (parecia um mapa) e algo que de longe lembrava um olho embalsamado...

Mas era uma Calcita, perfeitamente lapidada, e com uma mancha negra no meio. Fora lapidada em forma de esfera... e tinha apoio de ouro, formando um colar. Suas atenções voltaram-se ao mapa.

Tinha apenas um esquema...que ele se enganou em pensar que fosse mapa, mas era um esquisito sistema... com um quadro. Tinha também um escrito, que ele não entendeu:

B#ú /~ v~</#/~, ~£tá ~%t~<<#/@
#l# £ul, c@m@ v~%t@... p<=m#v~<#.
B#=x@...qu#/<@ /~ #<#/@...
/~z p#lm@£, #%t~ # ~£f~<#.

Ficou minutos e mais minutos tentando decifrar, sem sucesso. Levou para o quarto, encucado, ignorando as pessoas que estavam em sua volta.
No final do dia, em sua cabeceira se via um papel:

"Tabela de freqüencia:

# - 15 vezes
% - 3 vezes
< - 8 vezes
~ - 3 vezes
@ - 8 vezes
£ - 4 vezes
/ - 8 vezes"

Não se sabe por que ele não considerou os outros símbolos.

Em uma semana, ele vez grande progresso, decifrando a mensagem.
Ele supôs que # seria a letra "a", pela grande freqüencia do português; e que < seria "r", pois aparece duas vezes em uma frase.
Então temos:

"Baú /~ v~r/a/~, ~£tá ~%t~rra/@
ala £ul, c@m@ v~%t@... pr=mav~ra.
Ba=x@...qua/r@ /~ ara/@...
/~z palm@£, a%t~ a ~£f~ra."

Depois supôs que ~ fosse "e", e £ fosse "s", pois não caberia outra frase senão "está".
E temos:
"Baú /e ver/a/e, está e%terra/@
ala sul, c@m@ ve%t@... pr=mavera.
Ba=x@...qua/r@ /e ara/@...
/ez palm@s, a%te a esfera."

Depois substituiu "/" por "d", e "@" por "o", pois não caberia outro.
Foi, então, completando, até ser decifrada:

"Baú de verdade, está enterrado
Ala sul, como vento... primavera.
Baixo...quadro de arado...
Dez palmos, ante a esfera."

Mas ele não sabia o que isso significava. O que podia fazer era ir até a ala sul da casa, onde havia uma enorme sala onde segundo relatos de seu avô, era a sala de artes. Hoje não havia lá nenhuma obra de arte de grande valor, apenas alguns quadros sem muita expressão.
 Ele estava desta vez acompanha do por Tyfani. Já que Margo havia saído com o namorado e os amigos, era melhor acompanhar o irmão, que ficar sozinha naquela cas sóbria. Ela nunca se sentiu à vontade naquele lugar.

Boris e Tyfani estavam tentando encontrar algo que desse outra pista desse outro baú que a mensagem falava, segundo a decodificação de Boris.
De repente Tyfani olhando um quadro disse:_ O que dizia na mensagem mesmo Boris?
_Algo como que um Baú de verdade, está enterrado
Ala sul, como vento... Primavera, baixo... Quadro de arado...
_Dez palmos, ante a esfera, por quê?
_Olha esse quadro aqui!
Boris se aproximou. O quadro mal dava para enxergar as figuras de tão velho e sujo. Mas era a pintura de uma mulher em um jardim, o vento soprava em seus cabelos e... Boris ficou ansioso quando percebeu... Era primavera! Podia se ver isso, pois haviam várias flores no jardim! E mais aquele jardim lhe era familiar. Sim! Era o jardim de sua casa!

Os dois correram para lá. Agora precisavam encontrar a outra parte da pista.Havia um barracão de madeira, onde ficavam ferramentas para manutenção do jardim, da casa da horta e pomar. Lá Boris encontrou o quadro de arado, bem no canto atrás da porta. Agora o que dizia a mensagem? Dez palmos, ante a esfera. O problema era dez palmos pra que lado? Que esfera era aquela?
Enquanto Boris ficou tentando decifrar o enigma, Tyfani estava andando em meio aquela bagunça daquele barracão. 
Quando de repente... Uma forte mão a agarrou sentiu um cheiro forte e desmaiou. Boris percebeu que a irmã havia sumido. Em vão parou por ela. Sem resposta resolveu procurá-la pelo barracão. Escutou algo se mexendo lá no fundo por trás de uma velha carroça. Encontrou em baixo da carroça o que parecia ser um alçapão. Preocupado com a irmã, ignorou o medo e resolveu abri-lo e entrar.

O alçapão dava em uma escada velha de madeira, cheia de teias de aranha, não havia luz então voltou , pegou um velho lampião e o acendeu. Começou a descer degrau por degrau. Cada rangido fazia um frio correr n sua barriga, estava com muito medo. O final da escada dava para um corredor estreito bem sinuoso. 

Enquanto isso numa sala escura e macabra, Tyfani recobra a consciência. Vê-se amarrada em uma cadeira, amordaçada com um pano velho e sujo, que deixa sua boca amarga. Quando olha para baixo vê enormes ratazanas andando perto de seus pés. Tenta gritar, erguer os pés, mas estes também estão amarrados. De repente uma velha porta se abre, e uma figura sinistra entra. 
Está com o rosto encoberto por uma máscara medonha que a deixa ainda mais apavorada...
_ E agora?Quem poderá ajudar-me? _ questiona-se Tyfani.
Surge outra figura no ambiente...
_ Eu, o Chapolim Colorado...

Tudo voltou ao normal na mansão. Boris e Margo arrumaram um emprego e Tyfani foi concluir seus estudos.


CRIAÇÃO: Marcelo Bancalero, Denise Severgnini e Gabriel R. Betti

obs:sem muias correções