O CASAMENTO 2 DE UMA SERIE DE 3

DA SÉRIE O CASAMENTO – 2 -Vinte Anos depois

Naquele dia frio de um mês de agosto de 1970, mais ou menos às 10 horas da manhã o jovem advogado dr, Augusto Brasil de Carvalho, com escritório na rua João Brasil, em Rosario do Sul, recebeu uma cliente ,cuja consulta, não estava marcada.

Foi anunciada pela secretaria e, imediatamente, foi admitida na Sala do Jovem advogado.

Era uma senhora de mais ou menos 45 anos que já apresentava alguns sinais de cabelos brancos que contrastavam com sua excepcional beleza e elegância.

E estava acompanhada por um jovem rapaz de mais ou menos vinte anos, muito bem-vestido e com perfil aristocrático que chamou a atenção do Jovem Doutor.

- Bom dia Dr. Augusto eu fui indicada por um colega seu que mora em Alegrete e não deixei passar muito tempo para vir visitá-lo tendo em vista a urgência e gravidade da causa que, com certeza, o senhor vai patrocinar para mim e para meu filho.

- Bom dia, minha senhora! Gostaria de saber, primeiramente, o seu nome e o nome do seu filho, onde moram e qual a razão de terem-me procurado.

- Sr. tem razão! Eu me chamo Maria Clara, tenho quarenta e cinco anos, sou médica, clínica geral, há vinte anos! Meu filho chama-se Fidêncio, um nome antigo, mas que eu lhe dei em homenagem e em lembrança de seu pai.

Moramos no Alegrete onde tenho consultório.

Meu filho, agora passou para Faculdade de Medicina na Federal Santa Maria e é um ótimo filho e um jovem de excelente comportamento, moral, social e cultural e, então, entendi que era hora de ele conhecer a história de seu pai que mesmo, sendo trágica, eu não posso continuar lhe omitindo.

Talvez isto nos custe muito caro, mas, é o preço que temos que pagar pela verdade.

O Senhor, embora sendo jovem, deve lembrar-se de uma tragédia acontecida na década de 50 aqui em Rosário do Sul, na qual o pai de uma noiva matou, o futuro genro com três tiros de revolver, aos pés do Padre Ângelo e junto ao Altar da Igreja. Lembra-se?

O Dr. Augusto sacudiu a cabeça, afirmativamente, e ficou em completo silencio de forma a que a dra. Maria Clara pudesse continuar incentivada a contar sua história.

- Conheci o Fidêncio quando tínhamos dezessete anos e ele cursava Veterinária e, eu, medicina em Santa Maria.

Foi amor à primeira vista. Paixão incontrolável. Tudo nos encantava. Os cursos que fazíamos, os bares que frequentávamos com os amigos nos fins de semana, a beleza recíproca de nossos rostos, os sorrisos que dávamos, a história de nossas famílias.

O nosso namoro, começou a tomar corpo e em um, sábado em que não tínhamos aulas, estávamos almoçando junto, informei-lhe que estava grávida.

No momento em que lhe contei este fato, Fidêncio ficou perplexo e me disse: Maria Clara tu nem sabes o quanto me deixa feliz, mas, por dever de consciência, eu tenho que te dizer que já estou, há mais de 15 anos, com casamento prometido com a Alzira filha do Coronel Estácio.

O meu pai e o dela acertaram este compromisso do qual eu, por questões familiares e de honra, não posso fugir, mesmo sabendo que o meu verdadeiro amor és tu.

E, este amor, será capaz de compreender a situação em que me encontro e que me levará, por respeito ao meu pai , a me casar com uma mulher da qual, não gosto.

Tivemos uma discussão terrível e eu virei as costas para o Fidêncio e nunca mais o vi.

Meu filho nasceu de parto normal, eu me formei e fui fazer clínica médica no hospital de Santa Maria.

Em um dia qualquer foliando um Jornal da cidade li a notícia de que o casamento do Fidêncio com a Alzira iria acontecer, num domingo, no dia 05 do mês de maio.

Não tive dúvidas e conversei com meu irmão que morava comigo, solicitei-lhe que fossemos a Rosário pois eu tinha um assunto a resolver.

Peguei meu filho colo e na Rodoviária comprei passagem, embarquei num ônibus da ABC fechei os olhos e , numa mistura de ódio, raiva, orgulho ferido e vingança permaneci em silêncio até chegar na Estação Rodoviária de Rosário Sul, quando eram cinco horas da tarde.

Lá chegando dirigi-me para Igreja e fiquei, com meu filho e meu irmão sentada em um Banco da Praça, bem em frente para a entrada principal de forma que eu poderia ver todo movimento da entrada de convidados e familiares.

E, ali, parada vi quando o Fidêncio entrou.

Dei um tempo, suficiente, para que ele chegasse até ao altar a espera da Alzira e entrei na Igreja com meu filho no colo, lenta e silenciosamente cheguei ao Altar e me postei perto da Imagem de Nossa Senhora do Rosário que fica no lado esquerdo de quem entra, de forma a que eu visse e pudesse ser vista pelo Fidêncio.

Ouvi, claramente, quando o Padre Ângelo lhe perguntou: Aceitas a Alzira como tua legitima esposa? e vi a sua boca muda quedar-se em um profundo silencio e dirigir o seu olhar para mim e para o meu filho.

Ouvi o Padre perguntar pela segunda e terceira vez, e então, vi o Fidêncio largar a mão da Alzira e dirigir-se silenciosamente para o lugar onde eu estava.

Ao pegar meu filho no colo e começar a descer os degraus do altar ao meu lado ouvi três estampidos e vi o Fidêncio cair no chão, do altar, já morto.

Me abaixei ao chão e dei o meu último abraço no amor da minha vida e sei que, pela atitude que ele teve, eu também, era o amor da sua vida o que ele provou com a sua escolha que, lamentavelmente, o levou a morte.

Meu irmão, subiu ao altar pegou-me pelo braço e retirou-me do local. O meu choro e os espasmos nervosos dos quais fui acometida me impediam de caminhar.

Meu Irmão saiu da Igreja comigo e com meu filho no colo.

Entre prantos, autoacusação e arrependimento pela tragédia que eu tinha causado, tomei um ônibus e retornei para Santa Maria, onde fiquei mais dois meses, em total silencio e anonimato e, posteriormente, mudei-me para alegrete onde continuei a viver da mesma forma, até agora.

O dr. Augusto continuava em profundo silencio, perplexo, talvez, por ter descoberto a razão e os personagens daquele fato do passado.

Do rapaz, corriam-lhe lagrimas pelo rosto e ele dirigia para mãe um olhar filial que significava entendimento pela decisão tomada e que causou tanto sofrimento aquela mulher que ele admirava e respeitava como mãe e como amiga.

- Ouvi disse, o dr. Augusto, a sua história com muita atenção e lhe apresento os meus respeitos pelo seu sofrimento, pelo falecimento do Fidêncio, e sofrimento do seu filho que, há partir de agora, tem que ter muita força e muito caráter para conviver com a verdade cujo conteúdo a senhora deu-lhe, conhecimento, agora.

- E, antes que a sra. diga-me como posso atendê-la eu lhe informo que o Coronel Estácio, foi ouvido.na época, pelo seu Pelágio dos Santos, o qual o identificou criminalmente e lhe prendeu preventivamente.

No mesmo momento o Dr. Barcelos redigiu um Habeas Corpus e foi até ao Juiz da Comarca o qual permitiu que, pelos seus antecedentes, pela sua projeção social, o Coronel Estácio respondesse o Processo em Liberdade.

O Delegado enviou os autos do Inquérito policial para o Ministério Público que em face da Manifestação de Defesa brilhante, nos autos processo, feita do Dr. Barcelos resolveu não pronunciar o Réu e peticionou à autoridade judicial pedindo o arquivamento do Processo.

O Coronel Estácio separou-se da sua mulher a qual nunca aceitou o seu ato de banditismo.

O coronel abandonou sua casa na cidade e foi morar em uma das estâncias onde há coisa de três ou quatro anos atras, morreu atropelado por um Touro Zebu.

Para sua alegria, tenho certeza, informo-lhe que o pai do Fidêncio, o dr. Dilermando continua vivo e muito ativo!

- Mas, exatamente, por isto que vim consultá-lo!

Eu registrei o Fidêncio como filho de pai ignorado e queria ver uma forma de retificar sua Certidão de Nascimento para que na que, na mesma, passasse a contar o nome de seu pai verdadeiro. Que lhe parece?

- Com muito prazer farei este atendimento e preciso lhe dizer que para que tenhamos sucesso nesta empreitada, teremos que fazer contato com o Dr. Dilermando para obter dele testemunho pessoal dos fatos que vamos alegar para obter este resultado.

Gostaria que a sra. Ficasse mais um dia em Rosário do Sul, de forma a que possa marcar uma reunião aqui no Escritório com o Dr. Dilermando para que possamos examinar, em conjunto, as providencias que vamos tomar.

Fique certa, então, que amanhã deverá estar aqui às 09:00 horas.

A dra Maria Clara concordou, e levantou-se,despediu-se do dr. Augusto, no que foi acompanhada pelo filho, cujo rosto ainda continuava molhadas de lágrimas.

Saíram, da sala, abraçados.

O Dr. Augusto ao ficar só no escritório ficou rememorando os fatos espetaculares contados pela cliente e teve a certeza de que, daqui para frente a história daquela tragédia estava resolvida.

-Vou falar com a Dona Sueli, do Cartório de Registro Civil e com Dr. Dilermando o qual, tenho certeza que, ao ver neto, o achará tão parecido com o seu filho que não terá dúvidas em declarar que o Fidêncio é o seu pai legitimo do rapaz.

Saiu do Escritório quando eram mais ou menos onze hora da manhã passou no Cartório da dona Sueli e marcou uma reunião com ela para o dia seguinte, às 9:00 horas.

Posteriormente foi no consultório do Dr. Dilermando, sem dizer-lhe a razão, comunicou-lhe que gostaria que ele participasse de uma reunião no dia seguinte, às 09:00 horas, no seu escritório

Dr. Dilermando, igual a Dinas Sueli, afirmou que estaria lá, na hora marcada.

ERNER MACHADO
Enviado por ERNER MACHADO em 16/03/2024
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