A Evolução Do Homem Na Terra

A notícia espalhou-se pelo mundo inteiro. Foi capa de revistas, jornais, televisão, virou tema de livros, travou-se a batalha entre igreja e ciência. E esta, claro, venceu. Era a evolução.

Osvaldo e Valquíria foram encomendar os seus. Queriam apenas um. Nos Estados Unidos e Europa já estavam fazendo sucesso, os pais escolhiam os seus do jeito que quisessem.

Na clínica foram atenciosamente colocados na fila de espera. A novidade havia balançado as classes que podiam pagar pela nova tecnologia. Quando o médico os chamou, entraram apreensivos na sala.

- Já sabemos como é feito doutor. Como é o processo, quanto vai custar e tudo o mais – proferiu o futuro pai.

- Bem então já podemos começar. Primeiro vocês vão escolher a cor dos cabelos, olhos e pele. Depois preencherão um questionário onde haverá todas as informações de que precisamos – explicou o médico calmamente.

O casal assentiu e o médico continuou.

- Vou lhes mostrar as inúmeras opções de tons de pele primeiro – falou o médico abrindo um pequeno livrinho com várias tonalidades de cores, indo do branco mais albino ao negro forte e escuro; o pequeno livro assemelhava-se àquelas cartelinhas onde se escolhe a cor de tinta para pintar a casa ou a parede.

- Queremos um menino moreno jambo, de olhos verdes, bem vivos. E acho que um castanho claro está bom para os cabelos – decidiu a mãe.

Escolhidas as cores, postaram-se a preencher o formulário de dados e o de características suplementares. Iriam montar o seu filho. Acharam que um metro e oitenta de altura era o suficiente, para quando crescesse. Queriam que o futuro homem calçasse quarenta e dois, que tivesse rosto másculo, olhos grandes e redondos, poucos pêlos e cabelos lisos.

O básico já era incluído no pacote: não haveria propensão à obesidade e magreza exagerada, doenças genéticas seriam raras, o rosto seria harmônico com o resto do corpo, os dentes retos e os mais brancos possíveis e todos os órgãos internos funcionariam perfeitamente. E os externos, na medida do possível.

Esse era exatamente o intuito: seres cada vez mais perfeitos.

Osvaldo e Valquíria, claro, queriam também usufruir da nova tecnologia. Queriam um filho bonito, de feições que fossem agradáveis aos olhos.

Passaram-se os anos e o surto de jovens modificados geneticamente tomou proporções estrondosas. O preço do tratamento ficou irrisório, as clínicas encheram-se cada vez mais. No começo as pessoas escolhiam os mais variados tipos de filhos, mas as diferenças entre uns e outros se tornou cada vez menor.

Com o passar do tempo e a utilização da técnica, a população foi dividida em duas. Ou você era moreno jambo, com um corpo definido e olhos verdes; ou você era loira, alta, de cabelos lisos, seios fartos e olhos azuis. Não existiam mais estereótipos diferentes, agora eram somente dois: homem ou mulher. Alguns poucos mudavam uma característica ou outra, mas acabavam por ser extremamente semelhantes.

As crianças nasciam, aos montes, perfeitas. As roupas eram as únicas que distinguiam a Débora da Maria ou o Igor do Bruno. Aqueles que sempre foram a favor da beleza interior, festejaram. As escolhas agora seriam relacionadas às personalidades. Os que veneravam a exterior ficaram radiantes, pois todos eram lindos.

Extinguiram-se as piadas de loiras, os alisadores de cabelo, ginástica já não era mais procurada (os corpos nasciam devidamente torneados). O mundo da cirurgia plástica afundou e acabaram por ganhar menos que as empregadas domésticas. Os atores, nos filmes, eram distinguidos cada vez mais pelas vozes. E olhe lá.

Quando os últimos resquícios de “humanos imperfeitos”, com homens totalmente brancos, mulheres ruivas, pessoas baixas, olhos pretos e cabelos encaracolados foram extintos, os humanos haviam chegado à involução. Mas não sabiam se comemoravam.

Eram novamente primatas.