Chuva de Peixes

João Pedro cavalgava sem pressa pela estrada, pensando na vida e parando às vezes, para observar algum animal na beira da estrada. Voltava da cidade onde tinha uma casa e costumava passar o fim de semana. Gostava mesmo era de viver na fazenda e cuidar da criação que lhe dava o sustento.

Fazia quase hora e meia que assim cavalgava, quando a cinco quilômetros da fazenda, sentiu uma pancada na cabeça, voltou-se rapidamente para ver o que era. Viu apenas o vento balançando o capim e anunciando a chuva que densas nuvens escuras armavam no céu. Subitamente, no chão ao lado da estrada, notou que alguma coisa se mexia. Assustou-se ao ver que era um tucunaré. O bicho pulava, ansiando por água. Parou. Levou a mão à cabeça e se deu conta de que tinha sido atingido por um peixe.

Peixe? Ainda vivo? Como veio parar aqui? Logo num lugar tão seco, ia ter peixe pulando no meio do capim? Além disso, o rio está muito longe e por perto não há lagos ou lagoas. Peixes também não caem do céu, pensou. Não pode ser, foi alguém que o jogou em mim. Quem me agrediu deve está por perto, escondido. Mas com peixe? É muito esquisito. Numa estrada em campo aberto, como esta, não seria difícil ver quem jogou. E se ele tivesse caído, na minha cabeça, vindo das nuvens?.

Entregue a esses pensamentos esporou o cavalo enquanto dobrava a curva da estrada. Nova pancada, desta vez mais forte no ombro. Era um tucunaré bem maior que o primeiro e suficiente para lhe causar um hematoma. Agora não tinha mais dúvida, aquele veio de cima, das nuvens. Olhou para o céu durante algum tempo, mas só viu umas nuvens densas que estavam prestes a se desmancharem em chuva. Aquilo o incomodou. Apertou o passo do cavalo. Precisava chegar em casa logo.

O vento aumentou de intensidade. De repente viu cair a seu lado um dourado. No primeiro instante, hesitou, atemorizado, depois desceu do cavalo, não resistia a tentação de ver o peixe de perto. Mal terminara de examiná-lo, e na sua frente, caiu um pintado. Parece que está chovendo peixe, pensou. Mal acabara de emitir a frase e um dourado volumoso cai na sua cabeça deixando-o tonto.

Pensou em se esconder, mas onde. Aonde quer que fosse, naquele campo aberto, não estaria seguro. Estremeceu, quando um pirarara acabara de cair na garupa do cavalo e por pouco não acertou a sua cabeça. O animal se assustou e quase o jogou no chão. Pesava uns vinte quilos, aproximadamente. Estaria morto se o tivesse acertado.

Outro peixe o fez estacar ao se espatifar ao seu lado. Era uma caranha. Resolveu procurar abrigo, antes que um pirarucu caísse na sua cabeça e ficasse muito machucado. Pensando bem, precisava mesmo era chegar em casa. Esporou o cavalo e se pôs a galopar.

Não havia outra explicação, estava chovendo peixe e peixes graúdos. Ainda não haviam visto lambaris nem piaus. Relutou, inicialmente, em aceitar aquela idéia, mas depois de ver tantos peixes caindo das nuvens, ele não tinha mais dúvidas. Era chuva de peixe.

Os peixes caíam em grande quantidade. Peixes de todo tipo e tamanho. Tucunarés, tambaquis, piramutabas, dourados, pintados, caranhas, matrinchãs, traíras, piaus e até lambaris. No meio daquela cheuva de peixes ele cavalgava com pressa e aflição para chegar logo em casa e escapar do bombardeio dos peixes.

Mas, era tarde. Um dourado atingiu-lhe o crânio em cheio e o derrubou do cavalo. Uma hora depois, quando foi encontrado e conseguiu falar, pois o cavalo chegou sozinho na fazenda, disse que houve uma chuva de peixe. Desmaiou, porque foi atingido por um enorme dourado. Mas ninguém acreditou na sua história