O Quinto Homem - parte 11

---- Bom, e agora? O que vai fazer? - perguntou o delegado assim que ouviu tudo.

---- Sei lá , pensei que poderia me ajudar? - disse como a esperar que o homem a sua frente dissesse algo que ligasse as coisas. Marcelo se arrependeu de não ter falado tudo, mas na verdade não queria envolver demais o Delegado naquilo, e ao mesmo tempo, esperava que este lhe desse um elo para ligar as coisas.

--- Olha Marcelo, até agora eu fui muito atencioso para com você, até demais. Só que agora tenho mais o que fazer, ainda não conseguimos o material da perícia, não posso lhe dar atenção exclusiva. Bem que eu gostaria de lhe ajudar mais, porém não sei nem o que pensar dessa coisa toda em que você se meteu.

--- Bom, eu combinei com a minha secretaria de que amanhã ou depois no mais tardar, eu estaria de volta. Até lá eu gostaria de ir com o Sr. até Chapecó. Isso é, se o Sr. puder!

--- Acabei de lhe dizer que não posso. você não entendeu? Mas posso saber por que irá até‚ lá ??

----- Porque eu gostaria de ver os registros da policia de lá para ver algo do tal Ângelo, provavelmente é um nome falso que ele usava. O problema é que nós não temos uma foto do praga e a única pessoa que pode reconhecê-lo está no hospital, e nem falar pode!! Merda!! Tá bom, não adianta ir por ai!! - disse resignado.

---- Posso te dar uma sugestão?

---- Fale, é o que eu estava lhe pedindo ate agora, uma ajuda!

---- Vá logo para Floripa, veja esse problema do Dr. Hausmann, o que veio descobrir você já conseguiu, e depois se veio para falar com Carla ela agora está lá . Agora, caso algo mais aconteça eu te passo um fio. Posso pedir para a perícia encaminhar os laudos direto para o teu escritório é só me passar o endereço.

--- Não, eu mesmo apanho os laudos técnicos. Afinal, estarei do lado deles. Mas não sei se devo ir mesmo... sei lá ... as coisas estão difíceis de encaixar..

--- Eu ainda acho que o grossa da coisa, está em Floripa.

--- É, acho que terei de voltar mesmo. Tem razão, é lá que o caldo sempre engrossa.

------ Te desejo boa sorte!! Se precisar de algo em que eu possa ajudar com as autoridades policias de lá ... sei que não é bem visto...-- levanta-se

--- Obrigado Dr.! O Sr. já me ajudou bastante, agora é por minha conta!

---- Como é que vai se virar por lá ?

---- como assim?

---- Sem carro, eu quero dizer!

---- Putz, esqueci desse detalhe. Não sei, o meu não tinha seguro, era meio velho! Vai ser foda.

---- Meio velho é bom! Tenho uma idéia! eu conheço alguém de lá que tem uma concessionária que me deve uns favores! Vou ligar ainda hoje e a noite te passo a resposta, tá legal?

--- Porra!! legal isso, mas eu não tenho grana. Tô fudido e mal pago. E esse merda de caso só me atrasando para pegar algo onde possa ganhar um trocado.

--- Hei, hei, eu não disse que teria que pagar.

---- Bom, se é assim. Puxa, tá legal, brigadão Dr.!

30 de maio de 1994.

Na manhã seguinte Marcelo desembarcava na rodoviária de Florianópolis. Estava cansado. Foram oito horas sentado em uma poltrona nada confortável.

Pelo menos o fizeram refletir sobre tudo que já tinha passado em cinco dias.

Pensara no desaparecimento do Xamã?? Porque fugia se escondendo?? Ou melhor de quem, ou, do quê? E ainda precisa dar um jeito de saber alguma coisa sobre esse tal Ângelo. Provavelmente conforme já deduzira, era um nome fictício.

Será que trabalhara para o político com quem aparecera na foto em que Carla o reconhecera? E quem era esse político, que Carla não citara o nome para o operador? E o pior como reconhecer esse tal de Ângelo? A única que poderia fazer isso era Carla .

Carla era a chave, ele sabia, e temia que "eles" também soubessem disso, ou melhor, já sabia que eles sabiam disso. Ela deveria estar correndo perigo.

Por isso pedira para o Jusce pedir proteção para ela, em Floripa, queria uma segurança na porta do quarto do hospital, noite e dia.

Não contara ao delegado de Itá que o operador lhe dissera que Carla encontrara uma foto de Ângelo em um jornal velho, ao lado de um político.

Ela não mostrou a foto ao operador nem lhe disse o nome do político. Só disse que era um grandão.

E como o Delegado estava investido de um cargo público, achou melhor não o colocar a par. Poderia sofrer conseqüências. Ou era uma pequena Desconfiança do Delegado que se formara em sua mente? No momento não soube responder.

Vinha pensando nisso dentro do ônibus. E também nas historia do "Véio Zé", não sabia onde acaba a ficção e onde começava a realidade, no que o velho lhe contou.

Precisava encaixar as peças.

Principalmente por que precisava de um tempo livre para ganhar mais uns trocados. Tinha que pagar o aluguel da sala, o salário da Giovana.. nossa, achou melhor pensar em outras coisas.

Tinha que pegar mais algum safado em flagrante ou colocar mais um corno manso na face da terra, para poder se safar das dívidas.

Nem sabia porque tinha se envolvido tanto nesse caso, afinal ninguém estava lhe pagando.

É, mas ao mesmo tempo era um desafio.

Um desafio perigoso. Muito perigoso.

Estava chateado, e cansado da longa viagem.

Não conseguira uma passagem no Leito, assim teve de vir no convencional. O famoso pinga-pinga.

Trazia no bolso uma carta de apresentação para um amigo do Delegado. Mas estava tão mal arrumado que resolveu passar antes no escritório. Iria tomar um bom banho e fazer a barba, pois desde que fora para Itá não a fizera.

Consultou, de memória, o que tinha no bolso. Dava para um táxi.

Fez um sinal para um taxista. Um homem gordo, de boné e cara franzida, se aproximou pelo outro lado. Abriu a porta para Marcelo.

Ao arrancar o carro Marcelo percebeu um pequeno tumulto no hal de desembarque de ônibus.

---- Que Será que aconteceu? - perguntou olhando para trás.

---- Sei lá, cara!! Deve ser algum bêbado, ou algum desses outros colonos que chegam do interior do estado. Ontem mesmo morreu mais dois. Coisa de malucos. Pularam da ponte Hercilio luz!! Cheio de trago, os dois. O senhor é daqui? - Marcelo estava pensando o que faria caso não conseguisse o carro na concessionária, nem notou o ar de pouco caso do outro.

---- Sabe a ponte é nossa referência, assim como o Cristo Redentor no Rio. Só que agora tão querendo botar ela pra baixo. Muito dinheiro pra recuperar ela, dizem os políticos, mas a gente sabe que não é tanto. O que falta é boa vontade mesmo....

O motorista ia falando, falando, e Marcelo nem ai..

O carro pára no farol da Osmar cunha. Ao lado do posto Esso.

Marcelo observa pelo retrovisor do taxi. O carro preto. Outra vez está atrás dele. Fala com o taxista e desce correndo do carro.

Quase é atropelado por um carro quando atravessa a rua e o sinal abre.

Bate as mãos no capô do carro e se joga para cima. Suas pernas o impulsionam e formando um arco no ar, ele cai na calçada.

Os transeuntes olham boquiabertos, uns batem palmas, outros o chamam de maluco.

Entra em uma pequena rua, caminha mais uma quadra, olha para trás, nem sinal do carro preto, torna a entrar em uma galeria de lojas. Pega o elevador. Sobe dois andares. Desce pelas escadas e sai pela saída de emergência.

Está transpirando.

No que ele se meteu? Quem é essa gente? o que um velho, pobre e solitário, poderia ter que interessaria a essa gente? Como sabiam que estava chegando na cidade?

Chega na esquina da Gama - Deça, avista a placa do escritório.

Olha para trás. Receoso. Temeroso.

Afinal o perigo poderia estar em qualquer pessoa.

Aquele garoto vendendo picolé, poderia ser um deles. Esse grandão de barba, será que não é? não, não é, passa por ele como se nem existisse.

Meu Deus, começa a se preocupar, aonde é que eu fui me meter?!!