O Retorno da Estrela

Nas frias ruas de Londres, no inverno do ano de 1934, ocorreu um feito inesperado. Muitas pessoas observavam inquietas enquanto uma loja de penhores era consumida pelas chamas. Os policiais e os bombeiros tentam controlar o incêndio antes que ele atinja o Museu de História Natural que se encontrava ao lado daquele estabelecimento.

Após o término das labaredas, somente na manhã seguinte, o Inspetor Dullay fica encarregado de investigar as causas desse misterioso incidente.

O Sr. Brown, dono da Casa de Penhores Brown, estava no local para tentar esclarecer o acontecido. Dullay se aproxima dele e diz:

-- Sr. Brown, eu sou o Inspetor Dullay, encarregado do incêndio da sua loja.

-- Obrigado por vir, Inspetor. – respondeu o Sr. Brown.

-- O senhor tinha muitas coisas de valor em sua loja? – pergunta Dullay; iniciando, assim, o interrogatório.

-- Não, senhor. O que eu mais possuía eram móveis de madeira e outros objetos que só contribuíram para a propagação do fogo.

Dullay decide analisar o que sobrou daquela loja com seus próprios olhos e pede que o Sr. Brown o acompanhe até o interior dos destroços.

Ao entrar, Dullay percebe um cheiro muito forte, mas não consegue distinguir o que seria aquela substância. Começa a caminhar pelas cinzas dos objetos do interior da loja para encontrar algo diferente. Sua busca tem êxito. Encontra atrás do balcão um latão de gasolina retorcido pelas chamas, como se estivesse escondido de todos e quem o colocou ali achou que sumiria junto com o fogo.

Mas o que mais chamou a atenção de nosso inspetor não foram as coisas estranhas que encontrou nos meio daquela bagunça, mas sim uma simples porta que parecia intocada pelas labaredas da noite anterior. Por que somente aquela porta não fora afetada pelo fogo que assolou o resto da loja?

-- O que há além dessa porta, Sr. Brown? – indaga Dullay sem esperar uma resposta convincente.

-- Nem mesmo eu sei. Quando eu comprei esta loja, o dono não me deu a chave dessa porta e nem me disse o que ela guardava. – afirmou Sr. Brown com um tom de nervosismo na voz.

Percebendo que não conseguiria obter mais informações sobre o ocorrido que valessem a pena seu desgaste, Dullay decide retornar a sua casa e meditar no caso. Ao sair da loja, o Sr. Valentine, curador da maioria das exposições do Museu e velho amigo de Dullay, se aproxima e diz:

-- Caro Dullay, ainda bem que é você o encarregado desse caso! Aconteceu uma atrocidade! Venha comigo para o Museu para podermos conversar melhor sobre isso.

Ambos caminharam para o Museu. Valentine aparentava estar muito abalado emocionalmente e Dullay se preocupava com o motivo desse inesperado encontro.

-- Como você deve saber, a Estrela D’Alva, o maior rubi encontrado na Grã-Bretanha, estaria exposto ao público a partir de amanhã. – exclama Valentine enquanto se dirigem ao salão onde seria exposta a pedra. – Mas uma tragédia ocorreu na noite anterior e creio que esse será o fim do Museu. O rubi foi roubado enquanto aquela casa de penhores pegava fogo.

Ele mostra o lugar onde o rubi deveria estar. Dullay observa pegadas negras com uma aparência de fuligem.

-- Meu caro, Valentine. Se esse crime tivesse ocorrido durante o incêndio, essas pegadas não estariam aqui. Responda-me uma coisa: existe alguma porta que ligue o Museu à Casa de Penhores? – pergunta Dullay.

Valentine responde a seu amigo, sem saber no que aquilo iria ajudar nas investigações:

-- Antigamente aquela casa de penhores servia como depósito para algumas obras e de sala de restauração do Museu. Aquela porta logo ali ligava os dois edifícios. – disse Valentine apontando para uma porta velha e escondida no salão. – Mas não vejo para que isso será útil. Essa porta não é usada a anos. Creio que o ladrão tenha entrado pelos fundos ou pela clarabóia.

-- Você ainda possui a chave daquela porta? – pergunta Dullay sem dar atenção ao comentário que seu amigo acabava de dar.

-- Não. A pouco mais de um mês, antes da pedra chegar ao Museu, um encanador veio se certificar de que tudo estava em ordem e pediu para verificar aquele cômodo. Eu dei a chave a ele porque não estava sempre aqui pra lhe abrir todas as portas. Desde então não vi mais aquela chave.—explica Valentine.

-- Muito bem então. Creio que em pouco tempo resolverei o seu problema e o Museu não perderá seu prestígio, mas para isso precisarei que você suspenda a exposição por tempo indeterminado. Acha que consegue fazer isso para pegarmos esse bandido?

-- Faço qualquer coisa para que o Museu não seja prejudicado e para pegar esse facínora!—exclama Valentine com um ar patriótico na voz.

Com um adiamento indeterminado da exposição e um belo plano armado em sua mente, o Inspetor caminha tranqüilamente rumo a sua casa para esperar a hora certa de agir.

O relógio da praça central batia quatro horas quando Dullay com mais alguns policiais armados caminhavam em direção ao destroços da antiga Casa de Penhores. “Temos que agir rápido para que tudo dê certo.” Pensava Dullay enquanto caminhavam apressados pelas ruas desertas. “ Temo que essa seja a nossa última chance.”

Apertando cada vez mais o passo, Dullay e os policiais chegam a Casa de Penhores. Eles entram e Dullay manda todos ficarem abaixados e não fazerem barulho algum.

Após algumas horas de espera, um homem de porte mediano, roupas negras e com um grande embrulho nas mãos sai pela porta outrora trancada.

-- Peguem-no! – grita Dullay pulando entre o estranho homem e a saída do prédio.

Rapidamente, os policiais se precipitam sobre o homem sem saber ao certo o que estão fazendo. Ao retirar o embrulho de suas mão percebem que era a famosa Estrela D’Alva. O meliante é levado pelos oficiais e o rubi é devolvido ao Museu para que a exposição possa acontecer normalmente.

No dia da exposição, Dullay apreciava a magnífica pedra que havia recuperado dias antes quando seu amigo Valentine vem lhe agradecer pelo que fez:

-- Ainda não sei como te agradecer, meu amigo. Não acredito que você conseguiu recuperar o rubi em tão pouco tempo e com tão poucas provas – diz Valentine. – Mas me diga, como você conseguiu capturar aquele bandido daquele modo?

-- É simples, meu amigo. – começa Dullay com sua explicação. – Achei muito estranho a conduta do dono daquela loja de penhores e mais ainda os motivos de seu incêndio. Sabia que alguma coisa estava errada, contudo não conseguia descobrir o que era. Quando vi aquele galão dentro dos destroços percebi que fora um incêndio forjado, com algum propósito. Por ser uma pessoa muito simples, o dono daquela loja não teria dinheiro suficiente para fazer um seguro para todas as suas peças e sair lucrando com sua destruição. Fiquei pensando nisso por um bom tempo.

“Quando nos encontramos e você me disse o que havia acontecido, comecei a desconfiar de uma possível ligação dos fatos. Tinha a certeza quando vi as pegadas de fuligem pelo salão. Provavelmente, a pessoa que deixou aquelas pegadas iniciou o incêndio da loja e esperou até que o fogo se alastrasse e não possibilitasse a visualização de nenhum movimento nem na loja nem nos arredores, além de que os bombeiros cortariam a enegia da área para evitar maiores danos, o que acabaria com os sistemas de segurança do Museu.

“Depois que você me contou aquele ocorrido com as chaves que ligavam os dois prédios, tive a certeza. Victor Lithos, um foragido da polícia e ladrão internacional de jóias, se veria tentado a roubar o maior rubi da Grã-Bretanha. Com um disfarce, ele conseguiu apoderar-se das chaves que precisava. Aliou-se ao Sr. Brown prometendo a ele uma boa parte dos lucros e ateou fogo em sua loja enquanto pegava o rubi.

“Com o adiamento da exposição, Lithos pensou que a polícia não tinha nem idéia de quem o roubara e achou que seria melhor fugir na mesma noite. Por isso pedi para você adiar a exposição. Sabia que ele não resistiria a fugir bem de baixo do nariz das outoridades. E foi nesse momento que ele cometeu o erro fatal, que o levou para a cadeia.

-- Estou espantado com o seu poder de dedução.—diz Valentine boquiaberto, enquanto Dullay fita mais uma vez a Estrela antes de se retirar para mais um caso.

Luiz Devitte
Enviado por Luiz Devitte em 06/10/2008
Reeditado em 28/01/2009
Código do texto: T1214616
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.