O CASO DO CARA QUE ODIAVA PROSTITUTAS

Ele tinha acabado de receber o prontuário em sua mesa. Já era a quarta prostituta que morria em quinze dias. Todas da mesma forma. Um corte profundo na região genital, diretamente falando, elas tinham a vagina dilacerada por um objeto cortante e aparentemente enferrujado. Todas as prostitutas trabalhavam e residiam no mesmo bairro, Copacabana. Todas elas foram amordaçadas e deixadas morrer por hemorragia, a agonia durava ceca de quatro horas.

Paulo Torres. Estava a treze anos na policia civil do Rio de janeiro. Uma ficha impecável, bom exemplo, instrutor de tiro da acadepol,medalha de tiradentes na parede, a maior honraria para um policial, casado com um par de filhos. Estava encarregado de achar este maníaco antes que ele achasse outra prostituta.

Esteve no primeiro privê, um pequeno apartamento onde estas prostitutas trabalham e residem e tentou achar qualquer tipo de evidência. A polícia tinha mantido interditado o local até então, mas ele não conseguiu achar nenhuma camisinha usada, nenhum pêlo, nada demais, soube que o nome de guerra da vítima era Amanda, era morena, baixa estatura, vinda do interior de São paulo para tentar a vida na cidade maravilhosa, seu nome verdadeiro era Ernestina da silva, estava a oito meses no Rio de janeiro, não houve reclamantes, foi enterrada em uma cova rasa. Ele perguntou a todos do prédio, ninguém soube dar informações, até os policiais locais, aqueles que fazem parte do jogo ilícito de proteção ao esquema de prostituição em Copacabana não tinham informações alguma, ele então correu para o segundo privê.

No segundo privê, também interditado, não conseguiu maiores evidências, nada que evidenciasse um padrão. O nome de guerra da segunda vítima era Bruna, loura, estatura mediana, vinda de campos, estado do Rio de janeiro, também tentando a vida na capital, seu nome verdadeiro era Silvia de souza. Achou algo que não deu muita importância na hora, mais depois serviria para estabelecer um padrão, uma página da Bíblia, no livro do apocalipse, mas estava meio mastigada, não deu no momento para determinar os versículos ou capítulos, mas teria utilidade mais a frente...

No terceiro privê, achou mais uma pequena página carcomida do livro do apocalipse. Claudinha era a terceira vítima. Moradora de uma comunidade carente do Rio de janeiro, distante de casa, mas bem no meio do maior pólo de prostituição do Rio. Seu nome verdadeiro era Lucia martins. Vinte e sete anos, em seu anúncio dizia ser morena alta, pele cor de jambo, mas a palidez que seu corpo estava era lamentável. Paulo tinha acompanhado a autópsia deste corpo e viu o estrago que estava a zona genital da vítima, a brutalidade era impressionante. O meliante não tivera pena, Paulo tinha que achar este cara o quanto antes.

No segundo dia de sua investigação, Paulo sabia que tinha que correr. Foi para o quarto privê. O nome de guerra da última prostituta era Débora. Em seu anúncio, estava descrita como Débora, rainha da dominação, experiente em homens submissos, e foi a que teve a morte mais agonizante, de acordo com a autópsia, também acompanhada por Paulo, foi a que o assassino fez a maior questão de extensão do sofrimento, a vítima agonizou por quase seis horas, amordaçada, sangrando, com uma roupa de mulher dominante e transformada em um cadáver fétido. Seu nome verdadeiro era Maria do Socorro Alves. Tinha trinta e quatro anos, carioca. Seu corpo também não teve reclamantes, mais uma cova rasa... Também foi achada uma pequena página do apocalipse, também carcomida, um estranho padrão...

Era o último privê. O último corpo. Então Paulo relacionou os nomes de guerra das vítimas : Amanda, Bruna, Claudinha e por último, Débora.

Havia um padrão. A próxima a morrer teria seu nome começado com a letra E.

Propôs uma reunião de emergência naquela tarde, no batalhão de Copacabana, chamando uma força tarefa das três delegacias legais abrangentes da região.

Ficou determinado que no dia seguinte, uma equipe interna receberia todos os jornais e veriam os classificados a procura de anúncios com prostitutas que tivessem seus nomes começados com a letra E. Haveria um policial a paisana para toda prostituta com esta descrição na área de Copacabana. Haveria também dois policiais a paisana em todas as paróquias católicas na área de Copacabana, pois, aparentemente, o assassino era um religioso. O cerco aconteceria até a prisão deste monstro.

O primeiro dia do cerco não houve estardalhaço mas a tensão era evidente. O dia foi findado sem sucesso.

No segundo dia o que era para acontecer, aconteceu.

Um homem, com cerca de trinta e poucos anos saiu de uma grande igreja na Rua Hilário de Gouveia, por ironia, na rua de uma delegacia do bairro de Copacabana e foi justamente para um privê onde se prostituia uma mulher de codinome Eduarda. Ao tocar na campainha e adentrar no fétido privê, foi preso. Havia em sua maleta, uma bíblia faltando três páginas, e uma adaga do vaticano, já muito deteriorada, que foi sabido então que tivera sido roubada de um dos muitos antiquários de Copacabana, no momento de sua prisão, o meliante, Gabriel dos Santos, disse : Vocês demoraram a me prender, apesar de todas as migalhas que deixei no caminho, vocês demoraram a me encontrar...

Na delegacia, contou um pouco de sua vida, nada que justificasse seu comportamento hediondo, mas Paulo pode entender a motivação e o nexo causal das seguidas mortes.

Gabriel foi o filho de uma prostituta com um padre, de uma das maiores paróquias de Copacabana. Abandonado pela mãe com um pouco mais de dez anos, viveu nas ruas do bairro até conseguir ir para um abrigo e conseguir aprender um ofício, de ajudante de açougue ... Morava numa comunidade carente do próprio bairro e era muito religioso, disse ter tido o chamado de seu anjo , Gabriel, para trazer a justiça em forma de morte e portanto esta era sua missão na terra. Limpar Copacabana de prostitutas como sua mãe, seguindo um padrão nominal e deixando um pouco do apocalipse como rastro.

Estava preso o monstro de Copacabana, o cara que odiava prostitutas, que odiava sua origem, que trouxe o medo para o mercado de prostituição da zona sul do Rio de janeiro, porém, em sua primeira noite na carceragem, se matou, conseguiu se enforcar com seu par de meias soquetes, sem chamar a atenção, e deixou um pequeno bilhete :

APOCALIPSE 21 , 4

Enxugará toda a lágrima de seus olhos, e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição.

Mais uma cova rasa ...

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Trata-se de uma obra de ficção, não existe nenhum nome, situação, ocasião ou circunstância verdadeira, mas o inspetor Paulo Torres voltará em breve com outra caso escabroso inerente ao Rio de Janeiro ...

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