Dr. Dimitri - N° 11

Parte I – Do que se conta sobre um crime sumamente perfeito

Dr. Dimitri estava na metrópole, investigava o surpreendente assalto ao Banco de Medley que havia ocorrido há cinco dias.

O caso era muito complexo: a empresa Bulevar Assessorias e Segurança Ltda., baseada no chamado Cômputo de Segurança Integrada (CSI), impôs o Banco de Medley a um sistema infalível de segurança. Contudo, uma misteriosa invasão à caixa-forte, possibilitou o desaparecimento de bilhões de reais que jaziam em meio ao Cômputo de Segurança Integrada.

Todos os cidadãos da cidade de Medley criticavam a empresa pertencente ao magnífico Wilson Bulevar, homem que desde a meninice se dedicava a compreender a tecnologia e se especializou em segurança informatizada, criando o principal sistema integrado.

Agora, relatemos os principais fatos da vida deste primoroso detetive, admirado por sua astúcia e pela maneira de expor as suas teorias.

E diziam, pois, todos os cidadãos de Medley ao ver o nosso herói: “Eis aí o mais astuto e apaixonado investigador, que desvendou a conspiração por trás do assassinato da fabulosa Condessa de Medley!”.

Parte II – Da lenta recuperação do aprendiz Julius

Julius fora vítima de um maníaco que o atacara sem qualquer ensejo. Parecia mesmo que ele teria uma morte certa, porém conseguiu resistir ao delicado estado de saúde em que se encontrava.

Dimitri esteve sempre ao seu lado no hospital, almejando a recuperação imediata do seu caro aprendiz.

Enquanto o Sr. Kosovski estava em Medley, Jonas, seu irmão, prestava-lhe os devidos cuidados, ficando todo o tempo ao seu lado.

Ao abrir os seus olhos, avistou o seu irmão à sua frente, que sorria ligeiramente. A sua primeira impressão foi o abandono. Imaginava ver mesmo o Dr. Dimitri, que embora não lhe consentisse a confiança necessária, era o homem mais importante que conhecia. Parecia-lhe aquele detetive um grande visionário que, às vezes, chegava à insânia, fazendo estranhas observações e se atentando a detalhes vistos como imperceptíveis pelo aprendiz.

Recordou-se de outrora, quando devaneava acerca da personalidade de Dimitri, que lhe apareceu como um anjo. E se pôs a sorrir, lembrando-se ainda do que lhe dissera a imagem do investigador: “Acalme-se, meu bom aprendiz, salvar-te-ei da extinção.”. Soando-lhe como um escárnio daqueles momentos tortuosos.

Em vista a tudo isso, o Sr. Kosovski recebera a notícia de que o seu amigo e aprendiz havia se recuperado e ficou tão feliz que se pôs a comemorar o ocorrido tomando dezenas de chávenas do seu chá favorito de menta numa hora tida por ele como inoportuna, pois não seguia o horário de nenhum dos seus chás. Mas não se preocupou, uma vez que realmente amava Julius como um irmão.

Ele tratou logo de telefonar para o Sr. Monteiro e comunicou-lhe a sua imensa felicidade pela recuperação do amigo. Em seguida, entretanto, o detetive continuou a investigação acerca do assalto ao Banco de Medley, optando por raciocinar juntamente com o chefe perito em tecnologia da polícia de Medley, cujo nome era Jonathan Almeida.

O Dr. Dimitri já havia inquirido todos os principais integrantes da empresa Bulevar Assessorias e Segurança Ltda. que, juntos, poderiam ter acesso integral ao Cômputo; contudo, o nosso herói não suspeitou de nenhum deles, uma vez que lhe pareceram muito íntegros.

Dimitri estava em meio a uma encruzilhada. Não imaginava quem pudesse ter tido acesso ao Cômputo sem que o sistema de segurança respondesse de imediato e emitisse sinais de violação.

E não era nada simples este caso, uma vez que a tecnologia utilizada no Cômputo de Segurança Integrada era vista outrora como uma utopia, pois exigia técnicas mais avançadas e superiores. Foi assim que Wilson Bulevar conseguiu se tornar uma lenda com a sua façanha espetacular.

Em seu quarto de hotel, no Luxury Hotel de Medley, o investigador Kosovski procurava imaginar o que poderia ter ocorrido de tão misterioso. Conciliava fatos e eventos sucessivos baseados no que lhe garantiram os principais funcionários do Bulevar Assessorias e Segurança Ltda.

Foi assim, prevendo acontecimentos alusivos e cogitando sobre os episódios do crime, que o detetive chegou a uma hipótese que ganharia decididamente o consenso do comissário Batista e do chefe perito em tecnologia da polícia de Medley, especialista e estudioso em segurança informatizada, Jonathan Almeida.

Parte III – Do novo rumo das investigações

Sabia-se que todos os integrantes da equipe que supervisionava o Cômputo não eram tidos como suspeitos, pois um dos maiores investigadores previra a possibilidade de eles nada haverem com o crime que era muito debatido em Medley.

Parecia ao Sr. Kosovski que o assalto ao Banco de Medley havia principiado com a visita de um grupo de grandes especialistas em segurança, os maiores do mundo, que havia sido contratado pela empresa pertencente ao genial Wilson Bulevar para comprovar a eficácia da segurança integrada supervisionada por um sistema tecnológico tido como o mais avançado da história.

A hipótese de Dimitri ganhara adeptos dentro da polícia de Medley. Todos que chefiavam a investigação passaram a confiar no que havia cogitado o nosso herói e imediatamente mandaram intimar todos os hackers que haviam participado do programa de supervisão de segurança do Cômputo.

O investigador Kosovski se atentou particularmente à frieza de um dos homens intimados. Seu nome era Frederico de Cervantes, sendo ele um hacker espanhol conhecido como trapaceiro e arrogante por seus colegas. Todos os demais, que eram oito, disseram ao Dr. Dimitri:

— Se algum de nós teve algo a ver com isso, com certeza foi o trapaceiro espanhol!

Ademais, o nosso herói começara a traçar probabilidades em sua mente intuitiva. Cogitara também um pouco acerca do seu parceiro Julius e da grande perda da pequena Isabel. Refletira sobre a sua atitude, ao dedicar-se tão somente ao caso, deixando a pobre menina aos cuidados de Kristin James, quem muito estimava, e de Nayane.

O Sr. Kosovski gostaria de dar logo um desfecho a este caso para se dedicar aos seus familiares, e agora lhes reconhecia como tais, apreendendo que sem eles não viveria intensamente.

Eis este nosso herói, que aprendera a amar!

Contudo, Dimitri persistia no trabalho. E por muito cogitar, chegou a um veredito, com todas as provas contundentes, tal como prescrevia a lei...

Parte IV – De tudo o que ocorreu ao Sr. Kosovski

Ao reunir todos os exames que colocavam o réu no local do crime em hora e data, momento e circunstância, o Dr. Dimitri convocou todos os profissionais que participaram da investigação, tal como todos os suspeitos, procedendo, pois, desta maneira, sempre que possível, da forma que preferia.

Estavam todos reunidos num auditório localizado na sede da polícia de Medley. Somavam, ao todo, quarenta e nove pessoas, entre investigadores, policiais e suspeitos. E todos ficavam de frente ao estrado, local em que jazia o Sr. Kosovski, que esperava para começar.

Muitos criticavam a atitude de Dimitri ao reunir todos estes convivas, porém todos o admiravam, alguns em demasia. De tal forma ele se tornara uma lenda em todo o país.

Ao principiar um discurso exemplificando como havia sido as investigações e como chegara a um veredito, o detetive deixou o suspense se instalar naquele local por alguns instantes. Até que apresentara os culpados, que eram oito. Da mesma maneira, fez-se saber como o crime havia sido arquitetado e o porquê desta sentença.

Ora, ocorrera que Frederico de Cervantes era conhecido como trapaceiro por todos os seus colegas, porém fora ele o único que não quisera participar de um conluio que reuniria todos os hackers que se associaram ao programa. Tudo consistia em omitir um erro na segurança do Cômputo que, espantosamente, tinha mesmo um calcanhar de Aquiles.

O Dr. Dimitri explicou cada detalhe do crime de uma forma surpreendente, fazendo todos os bandidos ficarem pasmados.

À medida que o investigador avançava em suas exemplificações, Frederico baixava a cabeça e tornava a mirar o Sr. Kosovski de quando em quando, enquanto que os outros hackers ficavam com as pernas trêmulas.

Ao final, o nosso herói disse, como era de costume:

— Está em boa hora, eis o momento do meu chá das vinte.

E se foi deixando um misterioso embate entre policiais e bandidos.

O Dr. Dimitri estava com saudade de casa e pensava muito em Isabel e Kristin James. Recordou-se da noite em que passara com a atriz e fizera-lhe muito mimo. Amava-lhe intensamente, mas percebera que o trabalho o distanciava dela. Ele não poderia, todavia, deixar estes afazeres, pois optara pela investigação porque isso o estimula a viver. Abandonara os primores da medicina para dedicar-se às investigações criminais.

E se pôs a refletir mais sobre o caso do seu amigo Julius, que fora atacado outrora por um louco insípido. Gostaria agora, outrossim, de analisar os fatos que envolviam esta ocorrência para descobrir o malfeitor que abalara tanto a vivacidade do seu caro aprendiz.

Mas ainda tinha que reaver o seu camarada. Agora o reconhecia como tal. Não seria mais o seu aprendiz, mas um amigo próximo.

Fora com todas estas meditações que Dimitri Kosovski partiu de Medley para a Cidade do Brasil. E ao chegar à sua cidade, viu-se diante um equívoco inédito em toda a sua vida: um homem trajado com uma túnica e um capuz cobrindo-lhe o semblante, que jazia em meio à penumbra, aproximou-se de Dimitri e sacou uma arma, apontando-a para o nosso herói, que se viu em perigo.

Imediatamente pôde-se ouvir um breve estampido seco, mas quase imperceptível aos ouvidos.

Continua.