A máfia

O primeiro capítulo de uma das obras que escrevi. Espero que gostem! Aceito críticas construtivas, desde que não apelem para a ofensa. ( A formatação não está muito adequada, por conta do site)

1- A família Cafani

David perdeu a família ainda criança, aos nove anos de idade, por culpa de um terrível acidente ocasionado pela explosão de uma bomba lançada pelos alemães em sua cidade natal, na Alemanha, que na época, recusava-se em lutar ao lado dos nazistas, que faziam de tudo para ditar suas cruéis regras por todo o mundo. Mas não foi esse fato que deixou David desprovido de um lar, ou de entes queridos com os quais pudesse contar. Após a morte dos pais, o garoto foi adotado por uma poderosa família Italiana, que conhecia os seus pais e os tinham como grandes amigos, verdadeiros e leais. Sendo assim, Laurence, não pestanejou ao tomar a decisão de adotá-lo e levá-lo consigo até os Estados Unidos, que em 1945, era sede de seu grande império criminoso, que crescia rapidamente com o passar dos anos, firmando suas violentas bases no solo americano.

Don Laurence tratava-se de um homem muito conhecido em New York e imensamente respeitado. Seu poder, vinha de sua organização criminosa, que era conhecida por seus membros como a “família Cafani”, nome dado por Laurence, que preferiu usar seu sobrenome na nomeação. Os Cafani haviam chegado à NewYork, em meados dos anos de 1943, em meio ao rebuliço da segunda guerra mundial, que na véspera, espalhava o horror por todo o planeta, destruindo nações e matando milhares de pessoas.

O ínicio para os Cafani na nova terra, foi demasiadamente complicado. A guerra havia abalado a economia da época, de maneira que os meios para se ganhar dinheiro e desenvolver um negócio, eram poucos e até escassos. Além disso, a família mafiosa foi obrigada a lidar com outras, que já habitavam no local antes de sua chegada e que os haviam recebido com grande e intensa violência, que acabou por findar com a vida da maioria de seus membros, que foram mortos vitímas de execuções verdadeiramente violentas. Inclusive Laurence (que naquele ano era sub-chefe da família, sendo nomeado por seu próprio pai) havia sido atacado, sofrendo de um atentado contra sua vida, que o forçou a passar dois meses em um hospital, sobre intensa vigilância dos seus mais confiáveis soldados.

O banho de sangue só parou graças a comissão, que resolveu intervir nos interesses da família Beluni, principal inimiga e conspiradora dos Cafani. Uma reunião entre os Dons das duas famílias foi marcada forçadamente no ano de 1946, e nela foi firmado um acordo de paz, que acabou de uma vez com a intriga dos ferozes italianos. Com o fim da guerra criminosa, os Cafani finalmente começaram a sua expansão, marcando o seu terrítorio no mercado das armas e dos jogos de azar, que rendiam um lucro considerável naqueles anos.

***

David perdeu os pais em 1945, ano em que os Cafani lutavam pelo poder na América. Laurence levou o garoto aos Estados Unidos pouco depois de sua perda, adotando-o e o integrando a família, que não o recebeu de braços abertos. A esposa de Laurence, a bela e invejada Dora, foi a única que aceitou David, ao contrário dos filhos Santiago e Marcone, que o repudiaram e o mantiveram em total isolamento. Laurence não concordava com a atitude dos filhos, mas nenhuma de sua represálias havia surtido efeito aos primogênitos. Ao contrário, a fúria dos dois só aumentava. Muitas foram as vezes que Marcone havia esmurrado David, pelo simples fato de não aceitar a sua presença. Apesar das circunstâncias injustas, David não se queixava aos pais postiços, que percebiam sua abatimento à cada vez que uma nova briga acontecia. Aquela rotina acabou por se tornar normal para o garoto, que cresceu naquele ambiente hostil preservando a sua humildade, que mais tarde, acabaria por favorecê-lo consideravelmente.

Laurence amava David como se fosse um filho do seu sangue, e fazia de tudo para deixá-lo feliz. Desde a morte dos pais de David, Laurence havia prometido em suas memórias, proteção para o garoto e o afeto que eles nunca mais poderiam proporcionar. Ele não falhou em sua promessa. Laurence acabou apegando-se ao novo membro de sua família e passou a tratá-lo como um verdadeiro herdeiro, dando-lhe as mesmas regalias de seus primogênitos.

Tal amor não se restringia apenas as relações familiares, mas também as rentáveis. Laurence não escondia de seus filhos a vida que levava e lhes mostrava o seu mundo, ensinado-lhes sobre a máfia e dando-lhes a opção de fazer parte da mesma assim que chegassem a maioridade. David não foi excluído desta realidade, e logo foi apresentado aos negócios do pai. Nem a sua herança alemã foi capaz de deixá-lo de fora do lado obscuro dos Cafani. Mesmo com a negativa dos outros membros da organização, ( que não queriam um falso italiano na família) Laurence não desistiu de oferecer uma proposta para David, que havia sido realizada em seu gabinete, no ano de 1955, em um congelante dia de inverno, que assombrava toda a New York e fazia com que seus habitantes não se atrevessem a sair de casa.

David fazia 19 anos em 30 de maio de 1955, dia em que havia sido chamado por seu pai ao seu gabinete, pela primeira vez na sua vida. O cômodo era um lugar reservado da casa, ocupado apenas por Laurence, que passava horas trancado ali dentro, resolvendo problemas administrativos e recebendo suas visitas especiais, que vinham aos montes, em busca de ajuda. Essas pessoas nunca eram evitadas por Laurence, que via nelas uma chance de criar novas conexões e expandir sua linha de informantes, que espalhava-se por todo o país, levando notícias de todas as outras famílias rivais e de seus negócios. Para receber este rico acervo de informações, Laurence só precisava oferecer seus serviços a estes desesperados visitantes, que sempre traziam os mais variados problemas ao recinto, indo de ameaças de inimigos até a vingança. Problemas que eram resolvidos rapidamente pelo esperto Don, que enviava um de seus melhores soldados para realizar o trabalho sujo, em troca de uma rentosa recompensa.

Um desses pedidos de ajuda, havia sido de grande validade para os Cafani, que receberam de volta, uma valiosa informação, que os levou a fechar um vantajoso negócio envolvendo armas na cidade de Chicago, com um exportador vindo da Alemanha. Roliberto foi o responsável por essa grande jogada dos Cafani, que acabou por levá-los a uma intensa disputa com os Beluni, que inesperadamente, seriam os compradores da mercadoria, se não fosse pela oferta dos Cafani, que sabendo da negociação, trataram de encontrar-se com os negociantes, oferecendo-lhes uma oferta mais atraente que a da outra família, que jamais esqueceria de tal intromissão, por parte dos seus mais odiados inimigos italianos.

Roliberto era dono de uma modesta padaria em um bairro simples de Nova York. De origem Italiana, o padeiro havia deixado a terra natal há muitos anos atrás, em busca de melhores condições de vida oferecidas pelo país das oportunidades. Porém, ao chegar à América, Roliberto encontrou um cenário diferente do que esperava, cheio de ameaças a sua família, que era atacada frequentemente por um bando de adolescentes do Brooklyn, que achavam-se iguais a máfia, pedindo uma parte nos negócios sem dar nada em troca. Desesperado por conta das intensas ameaças dos perigosos jovens, Roliberto recorreu a ajuda de Laurence, que era conhecido por todos os italianos simples como ele, como um homem bom e humilde, que ajudava qualquer pessoa que lhe procurasse.

Roliberto não se decepcionou ao conversar com Laurence, que prometeu ajudá-lo, pedindo em troca um único favor, fácil para o padeiro. O Don dos Cafani só queria informações, acerca das negociações atuais de seus rivais, que cresciam cada vez mais e ameaçavam o seu instável império. Roliberto aceitou a proposta e conseguiu as informações de suas fontes mais confiáveis da cidade, que tratavam-se de outros italianos, que volta e meia davam uma espiada nos negócios da máfia, em busca de algumas migalhas que lhes coubessem bem.

Mas antes que Laurence pudesse ter em seu poder a valiosa informação, teria de cumprir com sua parte no trato, satisfazendo assim o desejo do padeiro. Tratava-se de um serviço simples, muito realizado pela máfia. Assasinato. Os garotos iriam pagar com a vida, por terem se intrometido nos negócios de Roliberto, que àquela altura, estava profundamente irritado com os vândalos, sendo que não daria uma chance sequer de que eles se arrependessem de suas impensáveis atitudes. Laurence enviou um de seus soldados mais experientes da família para executá-los. Dito e feito. No dia seguinte ao pedido desesperado de Roliberto, quatro corpos de jovens brancos do Brooklyn, boiavam próximos a um porto local, cravados por balas que lhes deformavam a face e lhes tornavam irreconhecíveis. Um trabalhador da área descobriu os cadáveres e os denunciou a polícia, que nada pode fazer por falta de provas. Apesar disso, não faltavam índicios de que era mais um crime cometido pela máfia.

***

Naquela tarde fria de 30 de maio, Laurence não queria receber clientes em seu escritório e sim seu filho David, com quem desejava muito falar. Por esse motivo, pediu à empregada para que lhe chamasse e o mandasse subir até o gabinete, território poucas vezes explorado por outras pessoas da família, a não ser o próprio Laurence.

Laurence não esperou muito. Dez minutos depois de chamá-lo, David já estava batendo em sua porta, ansioso por saber o motivo da misteriosa convocação por parte do pai. Laurence abriu a porta lentamente, como sempre costumava fazer ao receber visitas, e ao ver seu filho prostado do lado de fora, lançou-lhe um enorme sorriso, que correspondia a sua satisafação, por ter sido obedecido tão prontamente. Com um aceno educado de mãos, pediu para que David entrasse e se ajeitasse na mesa que ocupava o centro da luxuosa sala. David sentou-se em frente a mesa e esperou pelo seu pai, que sentou-se em sua cadeira, como de hábito. Antes que David dissesse qualquer coisa, Laurence antecedeu-se e começou o diálogo:

- Obrigado por atender ao meu pedido, filho. É um prazer recebê-lo aqui.

- Não tem de quê.- Disse David, esforçando-se para esconder a ansiedade que o consumia por dentro.- Por que me chamou? Aconteceu alguma coisa?

- Nada demais. Eu só precisava falar com você.- Disse Laurence, com a sua calma de sempre.

- Pois bem, estou aqui. Do que se trata, meu pai?

- Preciso falar com você sobre negócios.- Disse Laurence, sem exitar.

- Quer dizer sobre a máfia, certo?- Perguntou David, cada vez mais curioso.

- Acertou em cheio.- Disse Laurence, levantando-se e colocando-se na frente de um belo quadro, ao mesmo tempo que o fitava pensativamente.- Lembra de quando eu lhe disse, que garantiria um espaço para você na família, assim que alcançasse a maioridade?

- Sim.- Afirmou David.

- Pois bem.- Disse Laurence, virando-se para encarar o filho.- Você tornou-se maior de idade há um ano atrás. Assim que fez os seus dezoito anos, lhe ofereci um espaço nos negócios, mas você recusou. Disse que ainda não estava preparado. Se lembra?

- Como se fosse ontem.- Disse David, relembrando o passado.- Aonde você quer chegar meu pai?

- Bom, eu já estou ficando velho e logo precisarei de alguém para substituir o meu cargo como Don da família.- Disse Laurence, sem desviar os olhos de David.- Penso em me aposentar daqui há alguns anos, de maneira que não vai demorar muito para que eu indique alguém.

- E o que isso tem a ver comigo?- Disse David, acreditando já saber o que iria ouvir.

- Eu pensei em você, filho. Acredito que você seja a melhor pessoa para ocupar o cargo como Don na família.

- Eu não entendo. Por que eu?- Disse David, surpreso pela declaração.

- É o mais sensato entre todos os meus filhos. Sabe usar a cabeça e não se deixa levar pelo ódio. Saberá lidar com as outras famílias e evitar disputas desnecessárias, ao contrário de Marcone, que com certeza, acabara criando confusões por ai, levado pelo seu temperamento impulsivo.

- E Santiago?- Perguntou David, sem saber como esquivar-se da proposta.

- Ele é um homem pouco sábio. Não nasceu para os negócios. Além disso, é incapaz de relacionar-se com os tipos da máfia. É muito mole pra isso.

- E você acha que eu conseguirei?- Disse David, com a face séria.

- Tenho certeza disso. Você tem fibra e é um rapaz corajoso. Estas qualidades são extremamente importantes em nosso meio. Sem elas, a sobrevivência seria quase que impossível.- Disse Laurence, olhando fixamente para David.

- Olha, eu não sei se posso aceitar. Na verdade, eu nem sei se quero.- Disse David, desviando o olhar do pai.

- Não precisa se preocupar.- Disse Laurence, pacificamente.- Não será para agora. Eu ainda vou ser Don por bastante tempo. Isso vai ficar para mais tarde, quando eu morrer ou quando não servir mais para esse tipo de coisa. Até lá, acredito que você vai estar preparado. Vou te ensinar tudo sobre o ramo. Te oferecerei um espaço especial na família, para que possa ir aprendendo e acostumando-se com as nossas atividades.

- Se é o que você deseja.- Disse David, ainda sério.

- Então você aceita?- Perguntou Laurence, sem conseguir esconder o orgulho do filho.- Se não quiser, pode me dizer. Faça o que for da sua vontade. A vida é sua.

- Obrigado pai. Pensarei a respeito.- Disse David, sorrindo pela primeira vez.

- Certo. Quando tiver certeza do que fazer, me diga.- Disse Laurence, colocando sua mão sobre o ombro de David, em um sinal de respeito e carinho.

David saiu da sala ainda estupefado, pensando no que faria. Desde que havia ficado sabendo das atividades ilegais de seu pai, David tinha prometido a si mesmo, que ficaria o mais distante possível deste mundo. Ele não queria passar a sua vida fugindo da polícia, ou arriscando-se em meio a dezenas de mafiosos, dispostos a matá-lo a qualquer sinal de descuido. David desejava uma vida pacífica, longe da violência. Queria seguir carreira como médico, profissão que o seduzia. Mas diante do pedido de seu pai, David não sabia como negá-lo. O amor que tinha por ele, o induzia a aceitar a proposta.

***

Marcone havia visto a empregada aproximar-se de David para lhe dizer algo, que o tinha deixado realmente curioso. Em seguida, ele havia visto o seu tão odiado irmão subir para o andar de cima, visivelmente preocupado, como se tivesse acabado de receber uma sentença de morte. Sem exitar, Marcone o seguiu, disposto a descobrir que segredo ele escondia. Ao calgar as escadas e ver David batendo na porta do escritório do pai, Marcone ficou curioso e nervoso, atacado pelo sentimento de ciúmes, que havia lhe perseguido desde a chegada de David em sua casa, há dez anos atrás. Esperou que seu irmão entrasse na sala e subiu os últimos degraus, agachando-se em frente a porta e encostando o seu ouvido na madeira, para escutar o que era dito do lado de dentro.

Marcone surpreendeu-se com tudo o que escutou. Não esperava pela decisão do pai. Na verdade, pensava que ele seria o escolhido para sucedê-lo como Don, assim que se aposentasse. Marcone nunca poderia ter imaginado, que seu irmão bastardo seria o escolhido para guiar a família. Apesar da escolha do pai, Marcone faria de tudo para evitar que algo assim acontecesse. Ele não se importava com as consequências, só queria ver David fora de seu caminho. O sonho de tornar-se um Don, não seria lhe tirado por outra pessoa. Pelo menos, era assim que Marcone pensava.

Canhestro
Enviado por Canhestro em 22/09/2010
Código do texto: T2513705
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