O CASO "G"

01 de Fevereiro de 2008 - 11:35

Lembrava com riqueza de detalhes, o momento em que ela entrou na loja,o relógio marcava 11:35 do dia 01 de fevereiro de 2008. Usava uma pantalona preta, com uma camiseta branca, e um lenço de seda listrado de vermelho e branco no pescoço,, o salto altíssimo de um scarpin de couro legítimo,ressaltava a exuberância daquela mulher de seios fartos e cabelos desleixadamente caídos na testa.

-Bom dia! Disse ela a primeira vendedora que veio à sua frente

-Bom dia senhora, em que posso ajudá-la? Era a voz quase inaudível da tímida vendedora, que parecia um murmúrio,se comparada,aquele caudaloso turbilhão de voz firme e meio rouca,que saia daqueles lábios carnudos,pintados com batom carmim,sensual e inebriante,a boca parecia abrir e fechar em slow motion,quando ela falava.

-Quero ver o melhor e maior anel de rubis que tenha aqui.

Pálida, Jaciara a vendedora,disse: -É com aquele rapaz ali.Franci,mostre os rubis à senhora.

Faltou-lhe ar nos pulmões, o coração bateu acelerado,o suor porejou na testa e os joelhos tremiam,com a voz meio embargada,a convidou a seguí-lo.

-Pode me acompanhar, por gentileza?

Ela entrou, ele ofereceu a mais confortável poltrona,ela sentou-se abrindo a enorme bolsa,retirando uma belíssima cigarreira em madrepérolas e prata.

-Tem problema fumar aqui?

-Não, fique à vontade.Dizendo isso,apressou-se em apanhar um cinzeiro.Se dirigiu até o fundo da sala,onde estava o cofre,disfarçado por trás de um quadro tosco,uma réplica barata da Monalisa, e apanhou uns anéis de rubi,eram muito parecidos entre si,só variando o tamanho e formado das gemas.

Sentou-se na frente dela, depositando as jóias,sobre o tampo de vidro da mesa, e apanhou a tabela de preços.Ela olhou,re-olhou e com um ar blasé,perguntou: -Só tem esses?

-Como?!

-Só tem essas peças?

-No momento só essas, madame.

Ela apagou o cigarro, umedeceu os lábios sensuais com a língua,e sorriu dizendo: - Sabe por que gosto de rubis?

-Não madame, respondeu nervoso

-Por que parecem pedras de sangue, e soltou uma sonora gargalhada, o jovem riu timidamente. Achei as pedras sem expressão, gostaria de comprar uma assim,e abriu as duas mãos no ar,querendo estimar um tamanho considerável. Sonho com um rubi, do tamanho do coração de um homem. Pode ser assim, do tamanho do seu. Franci deu um sorriso amarelo.

Ela levantou-se, deu a entender que ia embora insatisfeita, quando voltou e apanhou o anel com a maior pedra.

-Na falta de algo melhor, vou levar este. Rapidamente o jovem vendedor apressou-se em verificar o preço.

-Ele é o mais caro, senhora!!!Exclamou nervoso

Ela o olhou dos pés à cabeça,como se fosse um inseto peçonhento,respondendo com ironia

-Lhe perguntei valor? Não me lembro de ter lhe perguntado nada, e tem mais, o pagamento é em espécie.

Quando toda a venda havia sido realizada, ela pôs oi anel no dedo, e saiu,já estava na porta, voltou,partiu para cima de Franci como um raio,mas sem perder a elegância e o charme,é claro.

-Franci, não é assim que se chama?

Ele nervoso, afirmou com um meneio de cabeça.Ela então,jogou sobre a vitrine de jóias um cartão,dizendo: -Me liga,ainda hoje, e saiu espanejando os cabelos ruivos.

Franci ficou alguns segundos, petrificado, olhando o cartão vermelho com letras douradas sobre o balcão. Estava incrédulo, será que havia entendido direito? Ela queria que ele ligasse pra ela??!!

-Me amarrota que estou passada!!! Brincou Jaciara.

Greta assim estava no cartão e o numero do celular, mais nada,nem profissão,endereço,e-mail,nada!!! Talvez fosse casada, e não quisesse se comprometer, ou estava acostumada a esse tipo de coisa. Ele resolveu ligar na mesma noite,caiu na caixa postal, e assim aconteceram por longos quinze dias,foi que chegou a conclusão: “Quando a esmola é muito,o santo desconfia” já dizia minha avó, as colegas de trabalho zombavam dele,até que um dia.

16 de Fevereiro de 2008 -10:40

-Alô...

-Alô,respondeu o jovem com a voz hesitante, aqui é o Franci da joalheria,você deixou o seu número comigo outro dia,lembra?

-Se não fosse para lembrar,não teria deixado,certo? Disse secamente.

-Você está bem?

-Sempre estou bem,porque me fez esperar tanto?

-Eu tentava todos os dias,só dava na caixa postal.

-Não tem importância mais isso agora,tudo há sua hora.Hoje as 20horas no restaurante Chandon Rosê,conhece?

--Passo todos os dias em frente,pego o ônibus bem próximo.

-Ótimo,me espere na porta.Tem traje pra isso?

-Só tenho jeans e camiseta.

-Não são apropriados. Pois bem,as vinte em ponto,nem um minuto a mais. Desligando em seguida.

Pobre rapaz,ficou louco. –Meu Deus!!! Não é todo dia que coisas boas acontecem, e logo comigo. Sou pobre,magricelo,feio,porque eu? Passou o dia envolvido em pensamentos,faltavam vinte minutos para fechar à loja,quando fingiu que estava com uma terrível dor de cabeça,a gerente sem desconfiar de nada,resolveu liberá-lo mais cedo,foi jogar água no rosto,quando voltou do banheiro,havia um homem esperando por ele,com uma enorme caixa.

-É pra você Frase, disse Jaciara.

-Pra mim?! Assustou-se

Tirando um cartão do bolso, o homem perguntou: - Franci,é você rapaz?

-Sim, sou eu!

-Encomenda pra ti, assine aqui por favor.

Assim que o estafeta saiu, todas as vendedoras cercaram ele para ver do que se tratava.

-Abre!!! Abre!!! Gritavam eufórica.

Ele abriu,era um lindo blazer,calça social,camisa gola role e um par de sapatos em couro legítimo,colado a tampa da caixa pelo lado de dentro,um bilhete...”É pra usar hoje,espero que dê,senão aperte-se,mas use-o pra mim”.Beijos,” G”

16 de Fevereiro de 2008 -20:00

Na hora combinada,ela chegou,estava estonteante em um tubinho vermelho “tomara que caia”,os brincos em ouro e rubis,no dedo o anel que havia comprado,e no pescoço uma gargantilha fascinante,toda de rubis.Ela deu o braço ao rapaz,e entraram no restaurante,após, se identificar o garçom os acompanhou até a mesa, previamente reservada. A comida era excelente,o vinho tinto,uma delícia,da melhor safra que havia na adega do Chandon Rose

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16 de fevereiro– 21:10

Franci,sem jeito nem abria a boca,com os olhos baixos.

-Pareço feia? Perguntou ironicamente.

-Claro que não,és divina.

-Você nem me olha,acabamos o jantar, e você quase não falou nada,está nervoso?

-Só um pouquinho.Sorriu timidamente.Ela pediu a conta.

-Vou te levar a um lugar encantador,quer ir?

-Claro,com você vou aonde me levar.

-Cuidado com o que diz,posso te levar ao céu.Deu uma pausa reflexiva,ou ao inferno,só depende do seu merecimento.

16 de fevereiro – 21:25

Entraram no carro trazido pelo manobrista,era um modelo importado sofisticadíssimo,ela arrancou e saiu pela rua “cantando” pneus,ao chegar à esquina,pegou a direção da estrada federal.

-É longe? Perguntou mais com o objetivo de “puxar” assunto.

- No tempo certo,chegaremos,controle a ansiedade,ou ela mata você. Falou entre risos

16 de Fevereiro – 21:50

Depois de certo tempo chegaram a uma chácara,mesmo com a pouca luz,se via que era uma propriedade muito grande e sofisticada.Parou o carro na frente de um lindo bangalô avarandado,ela o convidou a entrar, e ficar bem à vontade,serviu para ele mas vinho,pos um jazz pra tocar, e passou a provocá-lo com um olhar que ardia de desejo,ela começou a despir-se sensual na frente dele. Franci com os olhos fixos nela,observava tudo quieto,ela avançou pra cima dele,e começou a beijá-lo voluptuosamente,sentou-se com as pernas ligeiramente abertas sobre ele, e foi tirando a roupa do jovem lentamente,enquanto insistia pra que ele esvaziasse a taça. Ele estava visivelmente excitado,e a cada investida dela,crescia mais a vontade nele.

16 de Fevereiro- 22:08

Depois de um tempo,ele começou a sentir um sono inexplicável.Como alguém com vinte e três anos,diante daquela provocação toda,ia querer dormir??!! Algo estava errado,lembrou-se da bebida,será que ela o havia topado? A cabeça girava,os olhos pesavam,os braços e a s pernas já não eram mais coordenados por sua vontade.Foi quando ela o deitou com o peito pra cima,no alvo tapete branco de pelúcia da sala,foi até uma arca antiga e voltou de lá com um punhal de prata.Sentia que seu corpo pesava quase cem quilos,e não conseguia se mover.

-Lembra quando comprei o anel? Esse anel? Mostrou o dedo com a jóia pra ele. E disse por que gostava tanto de rubis? Comentei que desejava um rubi do tamanho do coração de um homem,jovem,viril e ingênuo,pois então,aqui está o meu rubi,perfeito!!!

E dizendo isso,cravou o punhal no peito de Franci, a violência do golpe foi tamanha,que a lâmina penetrou inteira,até próximo o cabo.O jovem estremeceu,com os olhos clamando por súplica,agonizava,sentindo a vida se esvair dele.Ela abriu o peito do jovem, e retirou o coração,passando o órgão ainda quente por todo seu corpo nu,pulsando de desejo.Seios,barriga,coxas,sexo,chegando a um forte orgasmo.Depois terminou de beber o vinho que ainda restava na taça, e enrolando o corpo sem vida no tapete ,o desovou a muitos quilômetros dali.

23 de Fevereiro – 9:45

Após uma semana de buscas por Franci, policiais receberam um chamado,pesquisadores que trabalhavam próximo a uma represa,após sentirem um odor pútrido que exalava das proximidades,se depararam com um quadro sinistro,sobre um fino tapete de pelúcia,agora tingido de negro,pelo sangue coagulado e o necro chorume que escorria do corpo em decomposição,jaz um rapaz sem coração!

Aquele era o oitavo corpo encontrado nas mesmas circunstâncias em três meses,o que comprova a tese de que “As mulheres desejam brilhantes,mas matam por rubis”

Maíra Monteiro
Enviado por Maíra Monteiro em 19/11/2010
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