Conversando no ônibus...

Embarquei no ônibus para a capital de São Paulo, e do meu lado senta um senhor aparentando ter uns cinqüenta anos de idade, e assim que o ônibus saiu da rodoviária, logo iniciamos um bate papo.

Não sei o porquê, pressenti que o cidadão estava um tanto amargurado, eu não o conhecia, e fiquei intrigado com isso. Mas tudo bem, ônibus na estrada e vamos conversando.

Conversamos sobre pessoas que fazem pacto com coisas demoníacas, conseguem tudo o que querem, e algum tempo depois perdem tudo. Esse fato aconteceu com ele, escutei e ficou por isso mesmo. Eu não quis especular...

Dizia ele que trabalhava numa cidade do interior, fazia o trabalho idêntico, que fazem os médicos-legistas, preparar o corpo para ser sepultado, no caso melhorar a aparência do cadáver. Achei o assunto interessante, afinal eu nunca conversei com alguém desta área.

Cansado de lidar com cadáveres, pediu a conta e ia pra São Paulo, tentar outra coisa qualquer, quem sabe de motorista, sei lá, lidar com cadáveres nunca mais.

Neste trabalho que fazia, cansei de ser surpreendido, a cada remoção de cadáver nos cemitérios da vida, quando abria o caixão, deparava com o cadáver em posições diferentes do costume. Uns estavam de ponta cabeça, outros virados, do lado direito, outros do lado esquerdo.

Ele cessou a conversa, daí comentei sobre a famosa artista “Dercy Gonçalves”, que fez o seu ultimo pedido aos seus familiares, para que ela fosse enterrada em pé. Comentou o cidadão, eu nunca soube que gente exigisse tal coisa, ser enterrada de pé.

Neste meu trabalho solitário, eu me sentia um açougueiro, enfim usava as mesmas ferramentas que um açougueiro usa pra destrinchar um boi, uma vaca. E para suportar o odor eu usava um tubo de vic vaporube.

Eu passei por varias situações de pânico, isto porque, por incrível que pareça, uma pessoa falecida após 4 ou 5 horas, se movimenta. Abre um olho, ronca, mexe com as mãos, parece que está viva, mas não está o médico já comprovou a morte, tem laudo etc.

Fez ele uma comparação simplória sobre isso, dizendo que, você liquida uma rã, mesmo ela estando morta, se enfiar uma agulha por entre suas pernas, ela se movimenta. Pensei que comparação.

A questão era que a pessoa já estava morta, e quando acontecia isso, eu era obrigado a aplicar um instrumento pontiagudo na nuca do cadáver, pensava já está morta, vou ter que matar de novo. Que coisa mais esquisita, confesso que isso me incomodava.

Em certa ocasião, eu estava preparando mais um cadáver, tudo foi filmado pelo circuito interno, coisa de praxe, só que eu não estava sozinho, alguns familiares estavam assistindo o meu trabalho, eis que o cadáver movimentou, eu não vacilei, apliquei um objeto pontiagudo na nuca do falecido, e daí os familiares acharam que ressuscitou, ou coisa parecida.

Resumindo foi processado pela família, mas fui absolvido, graças a Deus, tudo foi comprovado por perícia médica, a questão é que poucas pessoas sabem que isso acontecem.

Tangerynus
Enviado por Tangerynus em 28/09/2011
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