SUICÍDIO - MINUTOS DE ARREPENDIMENTO

Sete e vinte e cinco da noite, após banhar-se, enrola-se numa toalha e, em frente ao espelho, perde alguns momentos olhando-se.

Seu corpo é másculo, vinte e poucos anos, é um homem forte, nesse momento seus olhos fixos em si mesmo, contempla seu corpo enxarcado do banho, seu rosto molhado com a água que escorre dos cabelos, água esta que mistura-se com as lágrimas insistentes, num movimento lento ele tira a toalha e seca seu corpo, ainda nu ele procura uma caneta e um papel em meio a bagunça habitual de seu quarto, sentado em sua cama, apóia o papel em suas coxas, e escreve uma carta, suas mãos trêmulas quase não conseguem escrever, suas lágrimas caem sobre seus escritos borrando a tinta, mas ele continua, pouco mais de 5 linhas, tudo o que ele tinha a dizer couberam em poucas palavras...

Volta ao banheiro, e em posse de um pequeno frasco de vidro, toma fôlego e bebe todo o líquido de dentro do frasco, jogando-o vazio no chão.

Ele volta a sentar-se em sua cama e desta vez chora com força, uma sensação de vitória como aqueles que conseguem uma fuga inusitada, até que ele começa a sentir uma pequena dor, com esta ele se assusta, naquele momento ele se deu conta de que não teria mais como voltar atrás, corre até a cozinha abre a geladeira e pega em suas mãos a jarra de leite, esta cai de suas mãos espalhando cacos de vidro pelo chão, com o aumento rápido da dor ele também cai no chão sentido dores insuportáveis, tão fortes que ele sequer era capáz de gritar, os pensamentos são muito rápidos e numerosos, em momentos pensou em sua mãe no quanto ela sofreria, sua namorada, seus amigos, pensou que poderia simplesmente estar deitado em sua cama chorando, tentou ofegante fazer uma oração, sentindo dores desesperadoras, contorcia-se alí no chão sobre os cacos de vidro e leite derramado, começou a sentir gosto de sangue em sua boca e numa tentativa desesperada levava a boca ao chão para engolir o leite, achando que talvez conseguiria neutralizar o efeito do que foi ingerido antes, engasgou-se, não conseguia chorar, nesse momento conseguiu dar um grito, chamou a Deus, respirou muito profundamente, o arrependimento era grande assim como a dor física que aumentava, respirou profundamente mais uma vez e em meio a uma dor imensa, deu um grito em forma de soluço, com os olhos abertos e parados, a boca entreaberta e cheia de sangue, parou de contorcer-se e o silêncio se fez...

FATIMA AFONSO
Enviado por FATIMA AFONSO em 18/01/2007
Reeditado em 19/01/2007
Código do texto: T350925
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