Um girassol seco

A escuridão da noite abafavava os gemidos esbaforidos, uivos de terror, gritos crus que escorriam no lodo da cidade.

Para ela as horas corriam lentas. Por mais que corresse Neli no mundo tenso dos passos rápidos, a fugir das ruas que a espreitavam. Olhos acobertados pelo escuro das intenções sórdidas. Retorcida pelo medo, por dentro, um frio tenebroso ela, Neli, no entanto exteriorizava uma corajosa e compenetrada calma.

"Felpudos momentos hoje...mesmo naquele trabalho de máquina pura graxa." Conseguiu murmurar para si mesma,lembrando o dia ranziza de trabalho que tivera e a conversa rápida sorridente das colegas. Bom pensamento aquele... a leveza das colegas em seus batons e retratos dos filhos. A lembrança trazia um segundo de descanço e descaso na noite seca. Ferida dos rodamoinhos de poeira da abandonada noite cidadina. Distraira-se.

A mente de Neli maquinava. A funcionar como se fosse um relógio cuco perfeito. O passarinho saia na hora de suas escolhas, demonstrando uma consciencia nítida.

As ruas retilineas quebravam-se em ruidos sacudidas a ferver aos passos de Anthony Nebuloso. Acompanhando o pensamento rochoso dele, a testa larga se franzia.

Num tropeço de dobrada de esquina qual tiros que se ouve ao longe, o rosto de Neli recebia as desculpas que pareciam respeitosas, soltas nas palavras de Anthony Nebuloso depois do esbarrão. Palavras automaticas que saem pós uma batida em outra pessoa.

O empurrão trouxe o rosto de Neli. Dadas de cara na noite já não rendiam grandes encontros. Fugir as regras as exceções se tornara caso raro.

A questão mesmo agora era o tremulo corpo de Neli encolhido pelo casaco do medo. Seu eu se sentia perdido numa cidade onde as paredes endurecidas pelo sangue humano, paredes fechadas como eram, não ofereciam nada e se nem ofereciam o aconchego do recosto ao cansaço, quanto mais fuga ou refúgio.

Aquilo fora é um empurrão! Na escuridão perdida de um não saber o que poderia acontecer.

Foi quando Anthony Nebuloso, cachecol enrolado, flutuando em seus movimentos tirou o chapéu dizendo: (no fechado puxar de uma conversa, era o minimo que podia fazer por ela)

"Sou um detetive a solta nas ruas da cidade..."

Neli sentiu um frio estranho enquanto pensava a queima roupa: "Nem nisso não se confia."

Assim mesmo a força trouxe uma resposta abrupta :"Ora, estou só medindo as matreirices da rua. Esse sossego fingido... Os tiros sumiram ao longe."

Anthony Nebuloso mais que rápido mostrou seu distitivo: estrela brilhante guardada apressadamente no bolso de dentro do casaco. Ajeitou o cachecol,levando de volta o chapéu de feltro a cabeça no desmanche de um sorriso. Grasnou novas palavras metralhadas. Assim metralhou Anthony de imediato:

"As hárpias estão a espreita. Olha eu aqui a cata-las. Ando em busca de boas caçadas."

Foi então quando Neli titubeou sua descrença a um nivel semi-nulo. Ela ainda poude ver um cabo de revolver se guardando lá por dentro do casaco desabotoado de Anthony antes que êle o fechace, abotoando o botão.

A desconfiança e a visão do cabo da arma, fez Neli voltar seu pensamento para sua pequena faca automática, guardada na bolsa de alça comprida que carregava sonolenta pendurada no ombro. "Cairia naquela conversa?" Anthony apressou a rapidez decifrada: "A consciencia designa que andemos juntos um quarteirão?"

Neli pensou, será que já podia... antes de responder:

"Por que não cara? Vamos!"

O ranger dos passos mostrava agora um colorido enluarado de saída de uma esquina a outra como sempre. É que um quarteirão abaixo, a noite se abriria em bares e espeluncas dançantes.

Pisadas num tabuleiro velho de xadrez: pistas de tramas a levantar canções entre luzes artificiais. Reflexo da alegria dos boemios traseuntes.

angela nadjaberg ceschim oiticica
Enviado por angela nadjaberg ceschim oiticica em 24/02/2007
Reeditado em 12/05/2008
Código do texto: T391446
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