A crucificada: 2/2 - Primeiras informações

Aqui está mais uma pequena parte dessa longa história...

Se vocês desconfiam de algo ou alguém, podem dizer nos comentários. Vou gostar de saber suas teorias...

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III

Eles não foram muito bem recebidos pelos donos da casa. O sargento Viviano os levou para a cozinha e disse que eles poderiam interrogá-los lá mesmo, enquanto o outro esperava na sala de estar.

O sargento era um homem ríspido de uns quarenta anos, mas Lino deduziu que era um bom homem. Não tão rabugento quanto o delegado.

Eles se acomodaram da melhor forma que puderam e o sargento voltou com a mulher dois minutos depois.

Era uma mulher de mais ou menos 38 anos, tinha os olhos esbugalhados e o cabelo cortado bem curto. Tinha a pele macia e nada enrugada para a idade. É uma mulher charmosa, pensou Lino. Ela parecia assustada. Andou vagarosamente até a mesa e cumprimentou rapidamente os dois com o olhar.

Para Lino, não pareceu uma mulher que se deixava enganar facilmente.

Ele deu as ordens da casa:

- Como está, senhora...

- Lucimara Soares. – ela completou rapidamente. – Estou um pouco melhor agora. Tive que tomar alguns calmantes.

Ela olhava para os lados sempre que falava.

Dessa vez foi o delegado quem perguntou:

- O que a senhora pensa sobre o crime?

Ela balançou a cabeça despretensiosa.

- Não penso nada. O que eu acho é que foi uma coisa bárbara. Não consigo imaginar o que se passa na cabeça de alguém para cometer uma atrocidade dessas.

- Realmente, Lucimara. Foi uma atrocidade. – concordou Lino.

Ele perguntou:

- Você conhecia a vitima?

- Não. – respondeu rapidamente. – Bem, quero dizer, eu já frequentei o banco que ela trabalhava umas duas vezes. Foi ela que me atendeu, mas não sei se posso dizer que a conhecia.

- E ela a atendeu bem?

- Muito bem, pelo que eu me lembre. Parecia uma moça simpática.

- Parecia? – perguntou Ramón.

Ela desviou o olhar para baixo e depois levantou novamente.

- Com parecia eu quis dizer que ela era.

- E faz muito tempo desde a última vez que frequentou o banco? – perguntou Lino.

Ela pareceu buscar na memória. Esse ato demorou quase dois minutos.

- Faz uns... Dois meses.

- Dois meses não é muito tempo. – disse Lino. – E lembra-se sobre o que conversaram?

- Sobre nada. O atendimento no banco é muito dinâmico, não se pode ficar de conversinha.

O delegado perguntou:

- Mas lembra-se se ela falou alguma coisa estranha?

- E por que falaria? Não, ela não disse nada.

Lino observou atentamente a mulher a sua frente. Resolveu falar:

- A senhora me parece um pouco nervosa para quem tomou alguns calmantes.

- E estou. – ela bufou. – Diga-me detetive, como você ficaria se encontrasse uma pessoa crucificada na porta da sua casa?

- Eu ficaria chocado.

- Claro. – ela concordou.

- E tentaria dizer tudo o que sei para o policia. – ele completou.

Lucimara o encarou nervosamente.

- Está insinuando alguma coisa, detetive?

- E por que insinuaria? Estou só expondo a minha opinião.

- É uma boa opinião. – ela resmungou. – Por um momento pensei que o senhor disse que eu estou mentindo.

- E está? – ele perguntou.

Ela desviou os olhos nervosamente, mas depois encarou o detetive. Estava vermelha.

- Pode parecer que não, mas eu quero tanto quanto vocês saber quem fez aquilo com a pobre moça. Se eu soubesse de mais coisas, com certeza eu diria.

- Claro que diria. – disse Lino incisivo, encarando a mulher. Ela ficou ligeiramente vermelha.

O delegado, parecendo impaciente com aquela conversa, perguntou:

- Senhora, pode nos dizer passo a passo do que fizeram essa noite desde que saíram de casa? Se puder, dê-me horários. Precisamos saber em qual hora eles fizeram aquilo.

Ela concordou e disse com a voz calma:

- Toda sexta á noite nós saímos para jantar, ir ao shopping, ao cinema...

- Um grande programa. – interrompeu Lino.

Ela deu de ombros e continuou:

- Ontem saímos de casa por volta das sete da noite.

- E não notaram nada estranho ao sair? – perguntou Ramón.

- Não, nada.

- Continue.

- Saímos por volta das sete e levamos uns vinte e cinco minutos para chegar em Barretos. Depois fomos jantar.

- Aonde? – perguntou Lino.

- No restaurante All’s Food.

- É um bom restaurante. – disse Lino com um sorriso. – E estava cheio?

- Parcialmente quando chegamos, depois foi se enchendo aos poucos. – ela disse calmamente. Depois continuou: - Ficamos lá por uma hora mais ou menos, depois fomos ao shopping. Lá nós tomamos sorvete, visitamos as lojas de roupas, a loja de eletrônicos, enfim, ficamos aproximadamente umas duas horas por lá.

- E depois? – perguntou Ramón.

- Depois nós fomos ao cinema.

- Que filme assistiram? – perguntou Lino.

- Eu não me lembro do nome, pois dormi logo no inicio, mas era um filme de ação.

- Ação. – disse Lino. – E depois?

- Depois que o filme acabou, meu marido me acordou e então viemos embora. Já era quase uma e meia da manhã quando chegamos e encontramos a... – parou de falar. Estava com a voz embargada.

Ramón, pensativo, balançou a cabeça.

Disse em seguida:

- Vocês ligaram para policia á uma e quarenta e quatro. O que fizeram nesse tempo?

- Estávamos assustados e em choque. Meu marido disse que precisava olhar para ver se não havia ninguém. Quando ele voltou, resolvemos ligar.

Lino assentiu e se levantou.

Depois perguntou:

- O que a senhora pensa sobre a fazenda em que vocês moram ser o alvo?

- Eu não sei dizer. – ela respondeu rispidamente. – Sinceramente, não sei o que dizer. Não temos nenhuma ligação com a vitima. Não sei... Realmente.

- Uma ligação com o assassino, talvez? – perguntou Lino.

Ela explodiu:

- Isso é um insulto! Nós jamais teríamos coragem para fazer uma coisa dessas. Delegado, o seu detetive está extrapolando os limites. – ela esbravejou.

- Sim, ele está. – concordou Ramón secamente. – É o método dele. Se a senhora não tem nada a ver com o crime, não tem porque se exaltar.

Ela pareceu se acalmar e Lino sorriu.

Continuou como se nada tivesse acontecido:

- Conte-nos sobre seu marido.

- É um bom homem. Trabalha aqui na fazenda mesmo, passa o dia todo por aqui. Se você quer saber se ele tem algum enrosco com a justiça, o delegado pode te responder melhor. Ele é um homem honesto.

- E você diria que o conhece bem? – perguntou Lino.

- Mas que coisa, que pergunta idiota. – ela bufou. – Claro que sim. Somos casados há quase dez anos.

- E você nunca desconfiou de alguma traição ao algo do tipo?

- Jamais desconfiaria! – ela disse exaltada, ficando vermelha mais uma vez. – Quando é que eu vou ser liberada?

- Assim que nós quisermos. – resmungou Ramón.

Lino foi mais sucinto.

- Só mais uma pergunta, senhora Lucimara. Você é religiosa?

- Sou. Sou sim. Por quê?

- Curiosidade. A que ponto pode medir sua religiosidade de zero a dez?

Ela riu incrédula e desviou o olhar mais uma vez.

Depois respondeu:

- Talvez sete.

- Um número elevado. – disse Lino sorrindo. - Acho que é só. Pode sair. – enquanto ela se levantava, uma coisa veio à mente de Lino na última hora. – É muito charmosa, senhora.

Ela sorriu, mas dessa vez não desviou os olhos nem ficou vermelha.

- Obrigada.

Antes de saírem, Lino disse para o sargento que até então permanecera calado:

- Pode trazer o marido dela.

Depois que saíram, Lino disse para Ramón:

- Nós dois temos muito que conversar depois.

Ele concordou.

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continua amanhã 18/04/13

Fernandes Carvalho
Enviado por Fernandes Carvalho em 17/04/2013
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