FILHO DO DEMÔNIO

O FILHO DO DEMÔNIO

Luciana Rodrigues

*Presente*

A mãe

“Na sombra da noite as almas choram vagando pela escuridão do tempo. Na sombra da noite, os demônios sorriem enquanto degustam um prato pagão, satisfazendo sua mórbida fome. Na sombra da noite, o sopro do vento é gélido, e no ouvido faz arrepiar o corpo. Na sombra da noite, poucos aqui ficam esperando o sol sorrir pra ti” – Ela pensa.

*Passado distante*

Um crime entre tantos

Nas veias seu sangue ferve, seu corpo sua, seus nervos tremem, na expectativa de encontrar, nessa noite sombria, carne fresca, o seu prato do dia. Sua preferência: aquelas que não chamam a atenção. De olhos claros, pele de neve, cabelos caídos feito cachoeira na altura dos ombros. Corpo franzino, delicado feito o de uma princesa francesa! Tal qual a um lobo sagaz, abateu sua presa com palavras envolventes, que encontraram seu coração carente de emoção.

Não demorou mais que um quarto de hora para que bela e fera adentrassem em seu covil. Sua língua quente devorando todo o corpo da bela, desejando sangue novo, carne viva, e, numa fração de segundos, ele a abateu com suas mãos vorazes. Sem perder a emoção do momento, o fio do seu metal afiado a decepa. O sangue da pobre ninfa jorrando como uma cascata! Os seus olhos vibram, é um espetáculo para ele aquela cena.

Ele acende um cigarro, e pacientemente prepara a mesa para seu banquete. Forro vermelho, vivo, talheres prateados, candelabros com velas negras incandescentes, taças translúcidas de um cristal finíssimo. O corpo de sua companheira e última vítima, decepada, figura ao seu lado, silenciosa, enquanto ele devora um coquetel de miolos e um cálice de sangue. Sua mente suplica carne para saciar sua fome.

De sobremesa, o coração ainda pulsando com um último resquício de vida. E a cada mordida o sangue gotejava de seus lábios, e ele lambia feito um lobo faminto. Após matar sua fome, sem medo, sem dó, sem piedade, ele esquarteja seu último repasto. E em um rio qualquer ele a atirou.

*Algum tempo atrás*

A prisão

Dias depois, numa boca, em uma roda de crack, ao olhar atencioso de uma jovem viciada e apaixonada, ele, o matador, está alucinado e exaltado, e por isso caiu em sua própria armadilha! Antes de matar ele quer conquistar a sua vítima.

E de caçador a caça, ele se tornou a presa fácil de um espião do narcótico, que estava infiltrado no seio dos viciados que ali se encontravam. O policial o prende, mas não tem tempo de evitar a morte da viciada. A sua prisão teve repercussão nacional e o assedio da imprensa o envolveu.

A arte da sedução

Na cela fria, em momentos de alucinações e com grande frieza, na pressão dos carcereiros, ele dava pistas de onde havia enterrado os pedaços de suas vítimas em série.

Essa noite o matador sonha com coisas que não sabe dizer. Sonhou com demônios, almas e espectros. Foram tantas coisas que povoaram sua mente perturbada... Que os seus pensamentos o fazem divagar em filosofias.

“Do que adianta viver plenamente, se o coração não sorri e desconhece a força que brota do amor? Do que adianta viver plenamente, sem saciar a fome que faz ranger os dentes sedentos de carne macia e mal passada?” – Ele divaga e decide agir!

Perigoso e ardiloso, mesmo encarcerado, o assassino exala sedução, é bonito, encantador. Ele quer matá-la. Fazendo com que a policial se apaixone por ele, tal qual fez com a jovem viciada em crack.

Foi em dia de domingo. Envolvente ele a seduz, com seu charme, em meio ao interrogatório. A jovem entrega-se a ele, e o monstro assassino, profana seu corpo num coito cruel, deixando-a, germinada. E se não fosse pela chegada de outros policiais, a teria matado. No entanto, seus colegas de polícia conseguem salvá-la da morte.

*Presente*

A mãe

O seu filho, o filho do demônio profano, de um matador em série, nasce do ventre dessa jovem policial. Que agora já não exerce mais a sua profissão, pois não suportou a notícia de sua gravidez e ensandecida, deu a luz para um menino, já internada no sanatório.

O matador

Hoje, o matador em série sorri num vale de sangue, trancado no quarto de um manicômio judiciário, sem permissão para sair de sua cela.

Minibiografia

LUCIANA RODRIGUES. Natural de Aparecida de Goiânia é compositora, escritora e poetiza, conta com um acervo de mais de 100 trabalhos entre: Músicas, poesias e contos. Além disso, é acadêmica de Pedagogia em Goiás.

Lucyana Rodrigues
Enviado por Lucyana Rodrigues em 30/06/2013
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