Joga Pedra Na Janine

No passado, Janine abrira mão de bom grado de sua carreira de bióloga, para se dedicar exclusivamente ao marido, ao lar e à futura prole, pois sua vida já estava ganha, segundo as palavras do próprio marido: “querida, eu te prometo que nunca vai te faltar nada, e não precisará se chatear por causa de trabalho”. Janine, que largara os ideais da primeira mocidade, para se casar com um jovem médico, que se tornara um renomado cirurgião plástico, atingira seus 45 anos como uma mulher bela e vaidosa, mãe de um casal de adolescentes e dada a promover jantares beneficentes para ajudar instituições de caridade, recebendo o reconhecimento da sociedade e o título de Dama Benemérita.

De uns tempos para cá, a digna senhora começara a notar certa indiferença no comportamento amoroso de seu marido. O esposo quase não a procurava mais para manterem relações íntimas, raramente era carinhoso com ela, e vinha se ausentando muito de casa, dizendo tratar-se de viagens de negócios. A mulher dedicada, e que até então possuía uma confiança cega no esposo, começou a remexer, com cuidado para que ele não percebesse, nas coisas do cirurgião. Um bilhetinho amoroso aqui, um jaleco manchado de batom ali. Aos poucos as provas foram aparecendo e Janine descobrira o que no fundo, jamais desejara descobrir: seu marido, homem de ótima reputação, além de um profissional brilhante, tinha casos extraconjugais.

Apesar de magoada, a esposa traída permanecera calada e aparentemente conformada, afinal aprendera com a sua mãe, que essas “escapadinhas” masculinas eram normais: “O perigo é se ele te deixar por causa da vagabunda, filha”, dizia a velha.

Contudo, Janine estava se sentindo muito carente, e por isso começou a flertar com rapazes pela internet. No início era só uma brincadeira, mas aos poucos a mulher fora se envolvendo com um garotão que conhecera numa sala de bate-papo. Depois de muito sexo virtual, os dois se encontraram de fato e se tornaram amantes. Mas, a pobre mulher, não estava acostumada a atos sórdidos, e assim deixara pistas em seu computador; rastros que o marido soube seguir com exatidão.

Tempos depois, o cirurgião plástico desabafara em seu blog pessoal: “minha mulher abandonou os filhinhos, o marido carinhoso e zeloso e o conforto do lar, para viver uma pecaminosa aventura com um garoto que tem idade para ser seu filho, penso que essa adultera mereça o castigo prescrito pelas sagradas escrituras bíblicas, pois essa mulher infame enganou não só a mim, mas toda uma sociedade que a tratava como uma digna dama”.

Quando Janine saia do salão de beleza, tendo transcorrido uma semana após a postagem da mensagem, uma multidão enfurecida veio ao seu encalço clamando: “joga pedra na Janine; ela deu fora do casamento; a vadia tem que morrer!” Em seguida, alguns elementos da turba agarraram a mulher, que gritava de forma histérica, e rapidamente a ataram a um poste próximo. Incitada pelos gritos que pediam justiça, várias pessoas começaram a apedrejar a adultera. A ação durara incrivelmente apenas alguns minutos, desse modo, quando a polícia chegou, acionada pelo cabeleireiro, já não havia mais o que fazer. Janine jazia morta, com o rosto todo ensanguentado e desfigurado. Ninguém soube declarar quantos foram os verdugos da vítima.

Na tarde daquele mesmo dia, o marido da assassinada convocou uma coletiva e disse à imprensa que as pessoas haviam interpretado mal o seu desabafo, e que estava chocado diante de um crime tão bárbaro. Ditas tais palavras, o médico chorou lágrimas copiosas, entretanto, em seu íntimo, estava satisfeitíssimo; sua vingança tivera o desfecho esperado.

Uma traição não justifica outra, porém, o nome do renomado cirurgião plástico, passou à posteridade sem nenhuma mácula, enquanto que o nome de sua mulher, será ainda por muito tempo, estigmatizado pela desonra.

Quando os filhos de Janine voltaram às aulas, dias após o sepultamento da mãe, ouviram com tristeza, o comentário meio displicente, meio intencional, que o diretor do colégio fez a um amigo ao vê-los chegar: “Sim, são eles, os filhos daquela cadela sem-vergonha”.

A terrível vingança dera nessa ocasião, os primeiros sinais de que custaria muito caro ao doutor.