LIVROS E TIROS (Capítulo quarto)

Na manhã seguinte, bem cedo, antes do horário que Notório costumava acordar, bateram em sua porta. Com cara de ressaca abriu a porta e deu um "Bom Dia" consternado a dois sujeitos que se identificaram como investigadores locais.

- Temo que não seja tão bom. Podemos entrar? - Falou o investigador mais velho.

- Claro. Fiquem a vontade.

Notório tirou algumas roupas de cima de um sofá e fez sinal para que se sentassem.

Dos investigadores, posso dizer que o mais jovem tinha um ar altivo e atento. Notavelmente sentia prazer naquilo que fazia. O mais velho, para olhos pouco atentos, parecia o oposto; mas, na verdade, era apenas uma continuação do mais moço; cara de tédio, cansaço e por vezes, quando olhava o mais novo, sua fisionomia ganhava um ar de irritação e pena. Na verdade, estes dois investigadores eram apenas uma pessoa em tempos diferentes. Mas, com o intuito de que isso não fique confuso para o leitor, chamaremos o mais novo Pedro, e o mais velho de Raul.

- Em que posso ajudar vocês?

- Acredito que você conheça este homem - falou um Pedro, mostrando a foto do sujeito que ligara na noite anterior para Notório.

- Claro, conheço sim. Aconteceu alguma coisa?

- Foi assassinado esta madrugada, na saída de um bar.

- Eu devia estar lá. Ele me convidou ontem pra ir ao bar.

- Por isso mesmo que estamos aqui Sr. Notório. Identificamos uma ligação para o seu número no celular da vítima. Teria dito ele alguma coisa que possa nos ajudar na identificação do assassino.

Notório estava atônito, olhando fixamente para um cigarro que Raul iria acender. Este notou e ofereceu-lhe um. Notório acendeu o cigarro, soltou uma baforada e continuou

- Isso vai soar como maluquice, mas...

Então, contou-lhes em detalhes o que passou entre os dois. Desde a conversa no bar até a ligação. Omitindo o sonho que teve dias antes.

- Ele estava aparentando embriaguez quando te ligou? - perguntou, com enfado, Raul.

- Acredito que sim. Mas...

- Esses bêbados, sempre se matando por mulheres ou discussão de futebol - falou Raul enquanto se levantava.

Pedro se manteve sentado, hesitante.

- Sr Notório, você leu o livro da vítima?

- Não consegui ler até o final. Sabe, gosto de ler de tudo, mas algumas coisas são difíceis de engolir.

- E você acha que quem roubou o livro possa ter a mesma opinião?

- Qualquer um que não for alienado.

- Temos um caminho aqui! falou Pedro, batendo na mesa.

Raul que já estava na porta e voltou.

- Pedro, você sabe que não temos mais nada do que essa cidade já não tenha tido muitas vezes. Brigas de bar!

- E o livro?

- Devia estar com a própria vítima. Afinal era o livro dela. Devia estar se gabando com a sua obra para conseguir algumas garotas.

- Como assim? Perguntou Notório.

De prontidão, Pedro respondeu:

- A vítima foi encontrada com um tiro na cabeça e um exemplar do seu livro ao lado do corpo. Se você me disse que os livros tinham sido roubados...

Notório, pensativo, falou:

- Acho que estou entendendo o seu caminho.

Pedro olhou para os dois sem saber de quem sentia mais pena, educadamente agradeceu a atenção de Notório e se retirou levando Pedro consigo.

Lucas Esteves
Enviado por Lucas Esteves em 02/09/2014
Reeditado em 02/09/2014
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