Cabra ,metido a besta!
Conflito moral de um homen marcado,
que derepente se envolve em uma tragedia urbana que pode destruir-lo
A cidade de Mogi das Cruzes , no incio do vale do paraiba , fica ao pe da serra do Itapeti e tem clima agradável, ainda que chuvoso como é o clima da serra do mar. Em séculos passados, a cidade era refém de constantes inundações na periferia da cidade , inclusive da várzea do rio Tiete . Com o desenvolvimento, e o aumento das construções, a prefeitura optou pela construção de píscinões, verdadeiros reservatórios de agua da chuva , para controlar os alagamentos do perímetro urbano que deixavam os bairros planos inundados e intransitáveis na maior parte do ano.
Bem no centro, aproveitando um grotão, em paralelo a Rua principal, dr Deodato ,no trecho entre a Rua Ipranga e a rua Pedro no fim do perímetro central, foi construido um desses reservatórios. Com mais de duzentos metros, ocupando a parte mais baixa entre as duas colinas, termina em um parede de represa na parte mais baixa da rua Pedro . Ali há uma comporta e os bueiros que se comunicam com a tubulações de escoamento por baixo da rua em direção a saída da cidade no sentido das praias de Bertioga.
Quando há uma precipitação grande , a agua da chuva não suportada pela tubulação fica armazenada no piscinão, escoando lentamente pelos bueiros sub comporta. Terminada a chuva o escoamento segue por horas ou dias. A capacidade é de milhões de metros cúbicos de agua, com profundidade de mais de dez metros, e um desnível com a rua Deodato de aproximadamente 25 metros. A comporta como qualquer outra represa é uma abertura de dois metros de acionamento eletro mecânico, que de fato nunca foi usada, bastando apenas os bueiros para o funcionamento normal.
Esse reservatório, fica situada no fundo das casas que tem frente para a rua Deodato. E há becos , que são continuação das ruas transversais que vem do alto das colinas, da direita e da esquerda . Na esquina da Deodato e a Pedro , no inicio da pista dupla de saída para Bertioga , há um prédio na ladeira da rua Pedro e muitas lojas comerciais nos dois lados da esquina. Um comercio que esta bem na esquina, no semáforo, é a padaria Aliança. Ponto de referencia, é um comercio antigo, de boa reputação e que acolhe clientes ,amigos e desocupados.
Elcio é um desses desocupados que se acomodava no balcão da padaria numa tarde tormentosa de fim de verão. Normalmente ele vai até a padaria Copacabana , cinco quadras a frente, mas como mora no prédio em frente , na rua Pedro, e estava se iniciando um temporal, preferiu ficar por ali mesmo para tomar a sua cerveja de happy hour. Muito conhecido por todos, a muito tempo, era considerado bom sujeito, ainda que bebesse sozinho.
Elcio tem trinta e cinco anos , é mestiço de pele clara, cabelos ondulados e lábios grossos. Um homen de bom coração. Procura se apresentar bem , aparentando um vendedor ou corretor de seguros como era seu pai e seu irmão. Tem uma fala correta , clara e que inspira confiança, principalmente por ser um bom ouvinte. Educado ouve o que as pessoas falam , demostrando interesse. Isso não e muito comum, em pessoas normais com o ele , mas é frequente no lugar onde morava quando era mais jovem: a Penitenciaria Estadual de Paraguassu no Recife.
Quando completava vinte e um anos foi condenado por furto e agravantes. Trabalhando com o pai numa agencia de seguros, achou meios de enganar e fraudar as companhias de seguros de veículos , recolhendo dinheiro ilegal para um vida mundana de festas e desperdícios. Descoberto, foi preso. Oito anos recluso na penitenciaria, saiu e deu um jeito de andar na linha. Com a morte do pai, deixou a mae no nordeste e veio para São Paulo, onde já morava o seu irmão com a mulher e duas filhas. Com esforço se acomodou como vendedor de planos de saúde. Autonomo, solteiro e quase reestruturado na vida , cinco anos depois recebeu um golpe forte ao ser chamado ao IML para reconhecer o corpo do irmão que fora morto por ladroes que lhe roubaram a moto fugindo da policia em plena avenida no centro de São Paulo. Nunca ficou sabendo se o tiro procedia dos policiais ou dos ladroes. A metalugica onde o irmão trabalhava deu toda ajuda a cunhada e as sobrinhas, mas com o passar do tempo ele achou melhor ficar por perto e veio morar em Mogi das Cruzes ao lado do apartamento que o irmão comprara no alto da rua Pedro. Ali moravam também as famílias de primos vindos de Pernambuco.
De inicio ele ficou muito triste e revoltado, mas se controlou e superou as vicissitudes. Aprendeu muito vendo a cunhada, que dez anos mais velha que ele , ficara semiparalítica por um acidente na tecelagem que trabalhava quando as filhas tinham apenas 1 e dois anos. Ela era verdadeira fortaleza de mulher. Viúva, criara as duas filhas , agora duas lindas moças crescidas de 11 e 12 anos, apenas costurando para a confecções de coreanos do Bom Retiro.
A amizade com os primos e outros amigos do nordeste, não lhe alterou o caráter solitário e introvertido , mas ajudou em seu convívio social. E assim ele ia levando a vida , viajando muito pelo interior para vender seus planos , e estudando a noite para tentar um vestibular na faculdade de administração de empresas. Um comportamento regrado, sem namorada fixa, mas indo a igreja. Seu prazer maior, não escondia, era a praia, como no Recife, descendo toda semana para Bertioga para curtir o mar. Outro gosto era a cerveja no fim de tarde.
E uma coisa que não gostava era tormenta. Temporal. E nessa tarde o ceu ficou preto, as luzes da rua se acenderam, e os relâmpagos e trovoes foram se sucedendo . enquanto a chuva caia. E a cada momento a chuva aumentava . Era torrencial. Na esquina a agua descia formando verdadeira cachoeira. A calçada já estava inundada e a agua entrava na padaria. Elcio se levantou e foi ate a porta . Nesse momento chegam pessoa molhadas gritando que um carro tinha caído pelo beco., logo acima.E junto um ônibus. Pessoas saíram , descendo pela rua Pedro para olhar o piscinão. Elcio ouviu o rapaz do balcão dizer que a descida pela travessa do alto é muito perigosa , e desde que estavam em concerto na rua Deodato o perigo de um carro despencar para o piscinão era grande . Era tudo rua de paralepipedo , um sabão na chuva .
Elcio se arriscou até a ponta da rua, onde já se estava formando uma multidão. Mesmo com a chuva forte deu para perceber um ônibus amarelo , escolar, de bico, mergulhado no piscinão. Nesse momento ouve-se a sirene dos bombeiros em dois carros grandes atravessando a rua Pedro, para o outro lado do piscinão.
Elcio, molhado voltou a padaria , mas pela confusão que se formava e a gritaria das pessoas voltou para o balcão incomodado. Sera que tinha crianças no onibus?
A chuva continuava forte . Quando alguém gritou que os bombeiros estavam tentando resgatar as crianças de dentro do piscinão, Elcio pensou no reservatório se enchendo. Olhou para a rua e a agua corria cobrindo todo asfalto e parte da calçada . Já nao havia carros na rua. E mais e mais relâmpagos e trovões.
A padaria estava cheia, mas Elcio, arregaçou as calças e saiu , tentando atravessar a rua com a correnteza. Cobrindo a cabeça com um saquinho atravessou a rua e subiu em direção ao prédio. E mais relâmpagos.
Na entrada do prédio havia alguns vizinhos falando e quando ele entra a vizinha do primeiro andar pergunta .
- Foi o onibus escolar que caiu no pisinão?. Ta cheio de criança . ...suas sobrinhas vem no outro ônibus, não é ?
Subito foi como se recebesse um golpe na cabeça. Um susto. As sobrinhas. Elcio fechou os olhos pensando nas sobrinhas que de fato a essa hora sempre chegavam de ônibus do colégio estadual .
-É o onibus do colégio ? perguntou a vizinha
Elcio saiu pela portaria e voltando a calçada correu para a portaria do predio da cunhada , ao lado. Na porta estava ela na cadeira de roda, no meio dos vizinhos.
-Elcio as meninas não chegaram ... tao dizendo que um ônibus escolar caiu no piscinão...
Elcio fez um gesto, rápido
- Elas não vem no outro onibus.... são dois ônibus , não? ... já chegou algum?
- Não chegou nenhum ônibus ainda , são cinco e dez- respondeu a vizinha ao lado da cunhada – estamos tentando ligar....
- Não se preocupe, com certeza elas estão no outro ônibus... melhor ligar pra escola....disse Elcio e saiu voltando ao seu prédio
Subiu rápido as escadaria ate o quinto andar e abriu a porta saindo na cobertura . Subiu os degraus da caixa de agua , e com chuva no rostro, olhou por cima do teto padaria onde estava o piscinão. Se via um carro já quase coberto pela agua , o onibus com agua pela metade e os bombeiro do outro lado pondo a escada da beira do reservatório até o onibus. E era o ônibus amarela do colégio estadual. Estava escurecendo. Elcio ficou olhando, alguns minutos, enquanto a agua lhe corria pela nuca . Na extremidade do reservatório , onde estava a comporta via-se dois bombeiro s mexendo com a comporta.
Com certeza querem abrir a comporta para baixar o nível da agua do piscinão. A rua Pedro da padaria para baixo já estava se inundando. Não se percebia bem mas claro que o nível do reservatório estava subindo. Se via algum movimento no ônibus, flutuando, e se movia , e a escada magirus dos bombeiros não consegui alcança-lo.
Elcio desceu. Estava ensopádo. Tinha agua ate nos ossos. A cabeça a mil remoendo hipóteses. Nesse momento o bairro ficou a escuras .A energia elétrica cessou. Todas as luzes se apagaram. O corredor ficou as escuras. Enquanto descia pela escada para o terceiro andar, onde morava ,seguia pensando.
Sera que as meninas estão no onibus?: E quanto tempo mais para agua cobrir o ônibus? Sera que vai dar tempo de resgatar as crianças antes da agua cobrir o veiculo: E a comporta porque já não abriram? . E se o motor da comporta for elétrico agora sem energia é que não abre mais.
Entrou em casa arrancou a roupa e foi ao quarto . Colocou roupa seca e pela janela olhou em direção a padaria. A chuva continuava forte. Olhou para o relógio e já se passaram quinze minutos que saira da padaria. Já estávamos com mais de hora e meia de chuva forte.
Num impulso, sem pensar muito abriu o guarda-roupa , tirou uma tampa do fundo falso e recolheu alguns objetos. Sentou na cama arrumou algumas peças e correu na cozinha onde apanhou treis sacos de lixo e embrulhou tudo. Vestiu uma capa escura ,com capuz, e saiu correndo para a rua carregando o pacote. A chuva diminuira . Com cuidado desceu a rua , passou em frente da padaria e parou na ponta do muro da represa. Na linha da calçada existe um muro baixo e um barranco. Logo a caixa grande do bueiro e acima a comporta do piscinão.
Elcio foi ate o extremo do paredão e olhou na direção do carro de bombeiros. Havia gente curiosa por ali. Um isolamento. Olhou e subiu o barranco para ver o interior do reservatório.. Estava pela metade e subindo. Já cobria mais de meio onibus, que estava embicado.
Não viu ninguém no alto da comporta. Rapido desceu ate o pé da comporta que é uma porta de madeira com um revestimento de chapa, posta em duas canaletas. Como uma guilhotina. Parecido com as portas de lojas comerciais, porem mais robusta.
Onde ele estava , não era visto da rua , mas podia ser visto do alto da murada , do alto da comporta. Se abaixou e pensou em voz alta
- E agora ou nunca... deus me ajude!
E em pouco mais de dois minutos com uma habilidade impressionante , e a destreza própria de quem esta acostumado com o que fazia, Elcio colocou as duas bananas de dinamite, cobertas pelo saco de lixo , um de cada lado , no pe da comporta e a fixou com massa de calafetar para segurar.
Voltava a chover mais forte . Sacou os estopins para fora do saco plastico, e olhou para o barranco que ele tinha que subir para voltar para a rua. Rota de escape. Olhou bem e sacou rapido o seu ascendedor eletrico, como sempre fazia quando estava para explodir os caixas automaticos nas agencias bancarias do interior. Encostou no estopim e viu , imediato, o jato de fogo saindo do tubo plástico amarelo . Soltou, e se virou numa corrida só. Patinando subiu o barranco em direção a rua. Agil e rápido. Quando pulou o muro, viu um bombeiro vindo na sua direção.
-Volta ... vai explodir ...vai explodir ...gritou e seguiu correndo pela rua Pedro acima.
Não olhou para traz, calculando que o bombeiro estava longe e com certeza , mesmo que subisse na parede do reservatorio, nada iria lhe acontecer. A carga explosiva era apenas suficiente para explodir o trilho da comporta , nunca a parede de concreto. Nisso ele já tinha pratica , já tinha aprendido a colocar a carga certa para evitar que o dinheiro dos caixas automáticos, que ele os comparsas assaltavam, virasse poeira.
E correu rua acima. O retardo era de 100 segundos. É inacreditável quanto se corre em cem segundos!....E dando tudo certo, os cinco metros de altura do reservatorio, quem sabe um milhão de litros, iriam descer para a rua Pedro invadindo tudo, e carregando o que tivesse pela frente. Um avalanche.
Bingo. Quando se deu a explosão, Elcio virava a esquina do lado oposto da padaria, correndo com a cara coberta pela mascara ninja, sob o capuz amarrado da capa. Numa olhada rápida ainda viu o bombeiro na rua , uns vinte metros longe da explosão. Mas correu, e continuou correndo sob a chuva, rua acima para dar a volta, porque a rua Pedro com certeza ia ficar submersa , impedindo sua passagem para casa .
Deu uma volta de meia hora, pela ruas do bairro, contornando o piscinão, e chegou na padaria Copácabana, sem a capa e sem a mascara. Sentou e bebendo ficou a meditar sobre a estupidez que cometera se arriscando a ser descoberto ,só para tentar baixar o nível da agua. Claro que naquela hora só ele tinha a solução. Era agora ou nunca .Meia hora mais tarde e já haveria gente morta por afogamento. Um impulso. Claro que o bombeiro não tinha como reconhece-lo, mas quem, sabe algum curioso. Que risco!
A chuva ainda durou até a as 22 horas, quando a energia elétrica foi restabelecida e as crianças do ônibus já estavam resgatadas e em mãos das ambulancias .
Depois de quatro cervejas Elcio voltou para casa. E soube pela cunhada , que os bombeiros tinham arrebentado a comporta para esvaziar o piscinão e tirar as crianças do onibus.
Exatamente essa era a noticia no jornal do dia seguinte: Chuva torrencial. Onibus escolar, e carro menor colidem e despencam ladeira abaixo caindo no piscinão. Todos salvos e bem. Bombeiros, sem energia elétrica , tiveram que arrebentar a comporta de tal jeito que a saída da agua na sua violência de saída pareceu ate uma explosão. Isso evitara o afogamento dos acidentados permitindo resgata-los. Ruas abaixo houve inundação, sem maiores consequências.
De manha, depois de providencias necessárias, Elcio embarcou para o Recife para visitar a mae. Pretendia ficar uns tempos longe da curiosidade de qualquer bombeiro ou policial.
Explosivos e ex-presidiario é uma mistura indigesta.
Pretendia contar para a vovô que as netas tinham escapado de uma boa , afinal não estavam no ônibus acidentado, porque tinham permanecido até mais tarde na escola ajudando, como voluntarias, a professora a tirar a agua que invadira as salas de aula durante a chuva.
FIM
Conflito moral de um homen marcado,
que derepente se envolve em uma tragedia urbana que pode destruir-lo
A cidade de Mogi das Cruzes , no incio do vale do paraiba , fica ao pe da serra do Itapeti e tem clima agradável, ainda que chuvoso como é o clima da serra do mar. Em séculos passados, a cidade era refém de constantes inundações na periferia da cidade , inclusive da várzea do rio Tiete . Com o desenvolvimento, e o aumento das construções, a prefeitura optou pela construção de píscinões, verdadeiros reservatórios de agua da chuva , para controlar os alagamentos do perímetro urbano que deixavam os bairros planos inundados e intransitáveis na maior parte do ano.
Bem no centro, aproveitando um grotão, em paralelo a Rua principal, dr Deodato ,no trecho entre a Rua Ipranga e a rua Pedro no fim do perímetro central, foi construido um desses reservatórios. Com mais de duzentos metros, ocupando a parte mais baixa entre as duas colinas, termina em um parede de represa na parte mais baixa da rua Pedro . Ali há uma comporta e os bueiros que se comunicam com a tubulações de escoamento por baixo da rua em direção a saída da cidade no sentido das praias de Bertioga.
Quando há uma precipitação grande , a agua da chuva não suportada pela tubulação fica armazenada no piscinão, escoando lentamente pelos bueiros sub comporta. Terminada a chuva o escoamento segue por horas ou dias. A capacidade é de milhões de metros cúbicos de agua, com profundidade de mais de dez metros, e um desnível com a rua Deodato de aproximadamente 25 metros. A comporta como qualquer outra represa é uma abertura de dois metros de acionamento eletro mecânico, que de fato nunca foi usada, bastando apenas os bueiros para o funcionamento normal.
Esse reservatório, fica situada no fundo das casas que tem frente para a rua Deodato. E há becos , que são continuação das ruas transversais que vem do alto das colinas, da direita e da esquerda . Na esquina da Deodato e a Pedro , no inicio da pista dupla de saída para Bertioga , há um prédio na ladeira da rua Pedro e muitas lojas comerciais nos dois lados da esquina. Um comercio que esta bem na esquina, no semáforo, é a padaria Aliança. Ponto de referencia, é um comercio antigo, de boa reputação e que acolhe clientes ,amigos e desocupados.
Elcio é um desses desocupados que se acomodava no balcão da padaria numa tarde tormentosa de fim de verão. Normalmente ele vai até a padaria Copacabana , cinco quadras a frente, mas como mora no prédio em frente , na rua Pedro, e estava se iniciando um temporal, preferiu ficar por ali mesmo para tomar a sua cerveja de happy hour. Muito conhecido por todos, a muito tempo, era considerado bom sujeito, ainda que bebesse sozinho.
Elcio tem trinta e cinco anos , é mestiço de pele clara, cabelos ondulados e lábios grossos. Um homen de bom coração. Procura se apresentar bem , aparentando um vendedor ou corretor de seguros como era seu pai e seu irmão. Tem uma fala correta , clara e que inspira confiança, principalmente por ser um bom ouvinte. Educado ouve o que as pessoas falam , demostrando interesse. Isso não e muito comum, em pessoas normais com o ele , mas é frequente no lugar onde morava quando era mais jovem: a Penitenciaria Estadual de Paraguassu no Recife.
Quando completava vinte e um anos foi condenado por furto e agravantes. Trabalhando com o pai numa agencia de seguros, achou meios de enganar e fraudar as companhias de seguros de veículos , recolhendo dinheiro ilegal para um vida mundana de festas e desperdícios. Descoberto, foi preso. Oito anos recluso na penitenciaria, saiu e deu um jeito de andar na linha. Com a morte do pai, deixou a mae no nordeste e veio para São Paulo, onde já morava o seu irmão com a mulher e duas filhas. Com esforço se acomodou como vendedor de planos de saúde. Autonomo, solteiro e quase reestruturado na vida , cinco anos depois recebeu um golpe forte ao ser chamado ao IML para reconhecer o corpo do irmão que fora morto por ladroes que lhe roubaram a moto fugindo da policia em plena avenida no centro de São Paulo. Nunca ficou sabendo se o tiro procedia dos policiais ou dos ladroes. A metalugica onde o irmão trabalhava deu toda ajuda a cunhada e as sobrinhas, mas com o passar do tempo ele achou melhor ficar por perto e veio morar em Mogi das Cruzes ao lado do apartamento que o irmão comprara no alto da rua Pedro. Ali moravam também as famílias de primos vindos de Pernambuco.
De inicio ele ficou muito triste e revoltado, mas se controlou e superou as vicissitudes. Aprendeu muito vendo a cunhada, que dez anos mais velha que ele , ficara semiparalítica por um acidente na tecelagem que trabalhava quando as filhas tinham apenas 1 e dois anos. Ela era verdadeira fortaleza de mulher. Viúva, criara as duas filhas , agora duas lindas moças crescidas de 11 e 12 anos, apenas costurando para a confecções de coreanos do Bom Retiro.
A amizade com os primos e outros amigos do nordeste, não lhe alterou o caráter solitário e introvertido , mas ajudou em seu convívio social. E assim ele ia levando a vida , viajando muito pelo interior para vender seus planos , e estudando a noite para tentar um vestibular na faculdade de administração de empresas. Um comportamento regrado, sem namorada fixa, mas indo a igreja. Seu prazer maior, não escondia, era a praia, como no Recife, descendo toda semana para Bertioga para curtir o mar. Outro gosto era a cerveja no fim de tarde.
E uma coisa que não gostava era tormenta. Temporal. E nessa tarde o ceu ficou preto, as luzes da rua se acenderam, e os relâmpagos e trovoes foram se sucedendo . enquanto a chuva caia. E a cada momento a chuva aumentava . Era torrencial. Na esquina a agua descia formando verdadeira cachoeira. A calçada já estava inundada e a agua entrava na padaria. Elcio se levantou e foi ate a porta . Nesse momento chegam pessoa molhadas gritando que um carro tinha caído pelo beco., logo acima.E junto um ônibus. Pessoas saíram , descendo pela rua Pedro para olhar o piscinão. Elcio ouviu o rapaz do balcão dizer que a descida pela travessa do alto é muito perigosa , e desde que estavam em concerto na rua Deodato o perigo de um carro despencar para o piscinão era grande . Era tudo rua de paralepipedo , um sabão na chuva .
Elcio se arriscou até a ponta da rua, onde já se estava formando uma multidão. Mesmo com a chuva forte deu para perceber um ônibus amarelo , escolar, de bico, mergulhado no piscinão. Nesse momento ouve-se a sirene dos bombeiros em dois carros grandes atravessando a rua Pedro, para o outro lado do piscinão.
Elcio, molhado voltou a padaria , mas pela confusão que se formava e a gritaria das pessoas voltou para o balcão incomodado. Sera que tinha crianças no onibus?
A chuva continuava forte . Quando alguém gritou que os bombeiros estavam tentando resgatar as crianças de dentro do piscinão, Elcio pensou no reservatório se enchendo. Olhou para a rua e a agua corria cobrindo todo asfalto e parte da calçada . Já nao havia carros na rua. E mais e mais relâmpagos e trovões.
A padaria estava cheia, mas Elcio, arregaçou as calças e saiu , tentando atravessar a rua com a correnteza. Cobrindo a cabeça com um saquinho atravessou a rua e subiu em direção ao prédio. E mais relâmpagos.
Na entrada do prédio havia alguns vizinhos falando e quando ele entra a vizinha do primeiro andar pergunta .
- Foi o onibus escolar que caiu no pisinão?. Ta cheio de criança . ...suas sobrinhas vem no outro ônibus, não é ?
Subito foi como se recebesse um golpe na cabeça. Um susto. As sobrinhas. Elcio fechou os olhos pensando nas sobrinhas que de fato a essa hora sempre chegavam de ônibus do colégio estadual .
-É o onibus do colégio ? perguntou a vizinha
Elcio saiu pela portaria e voltando a calçada correu para a portaria do predio da cunhada , ao lado. Na porta estava ela na cadeira de roda, no meio dos vizinhos.
-Elcio as meninas não chegaram ... tao dizendo que um ônibus escolar caiu no piscinão...
Elcio fez um gesto, rápido
- Elas não vem no outro onibus.... são dois ônibus , não? ... já chegou algum?
- Não chegou nenhum ônibus ainda , são cinco e dez- respondeu a vizinha ao lado da cunhada – estamos tentando ligar....
- Não se preocupe, com certeza elas estão no outro ônibus... melhor ligar pra escola....disse Elcio e saiu voltando ao seu prédio
Subiu rápido as escadaria ate o quinto andar e abriu a porta saindo na cobertura . Subiu os degraus da caixa de agua , e com chuva no rostro, olhou por cima do teto padaria onde estava o piscinão. Se via um carro já quase coberto pela agua , o onibus com agua pela metade e os bombeiro do outro lado pondo a escada da beira do reservatório até o onibus. E era o ônibus amarela do colégio estadual. Estava escurecendo. Elcio ficou olhando, alguns minutos, enquanto a agua lhe corria pela nuca . Na extremidade do reservatório , onde estava a comporta via-se dois bombeiro s mexendo com a comporta.
Com certeza querem abrir a comporta para baixar o nível da agua do piscinão. A rua Pedro da padaria para baixo já estava se inundando. Não se percebia bem mas claro que o nível do reservatório estava subindo. Se via algum movimento no ônibus, flutuando, e se movia , e a escada magirus dos bombeiros não consegui alcança-lo.
Elcio desceu. Estava ensopádo. Tinha agua ate nos ossos. A cabeça a mil remoendo hipóteses. Nesse momento o bairro ficou a escuras .A energia elétrica cessou. Todas as luzes se apagaram. O corredor ficou as escuras. Enquanto descia pela escada para o terceiro andar, onde morava ,seguia pensando.
Sera que as meninas estão no onibus?: E quanto tempo mais para agua cobrir o ônibus? Sera que vai dar tempo de resgatar as crianças antes da agua cobrir o veiculo: E a comporta porque já não abriram? . E se o motor da comporta for elétrico agora sem energia é que não abre mais.
Entrou em casa arrancou a roupa e foi ao quarto . Colocou roupa seca e pela janela olhou em direção a padaria. A chuva continuava forte. Olhou para o relógio e já se passaram quinze minutos que saira da padaria. Já estávamos com mais de hora e meia de chuva forte.
Num impulso, sem pensar muito abriu o guarda-roupa , tirou uma tampa do fundo falso e recolheu alguns objetos. Sentou na cama arrumou algumas peças e correu na cozinha onde apanhou treis sacos de lixo e embrulhou tudo. Vestiu uma capa escura ,com capuz, e saiu correndo para a rua carregando o pacote. A chuva diminuira . Com cuidado desceu a rua , passou em frente da padaria e parou na ponta do muro da represa. Na linha da calçada existe um muro baixo e um barranco. Logo a caixa grande do bueiro e acima a comporta do piscinão.
Elcio foi ate o extremo do paredão e olhou na direção do carro de bombeiros. Havia gente curiosa por ali. Um isolamento. Olhou e subiu o barranco para ver o interior do reservatório.. Estava pela metade e subindo. Já cobria mais de meio onibus, que estava embicado.
Não viu ninguém no alto da comporta. Rapido desceu ate o pé da comporta que é uma porta de madeira com um revestimento de chapa, posta em duas canaletas. Como uma guilhotina. Parecido com as portas de lojas comerciais, porem mais robusta.
Onde ele estava , não era visto da rua , mas podia ser visto do alto da murada , do alto da comporta. Se abaixou e pensou em voz alta
- E agora ou nunca... deus me ajude!
E em pouco mais de dois minutos com uma habilidade impressionante , e a destreza própria de quem esta acostumado com o que fazia, Elcio colocou as duas bananas de dinamite, cobertas pelo saco de lixo , um de cada lado , no pe da comporta e a fixou com massa de calafetar para segurar.
Voltava a chover mais forte . Sacou os estopins para fora do saco plastico, e olhou para o barranco que ele tinha que subir para voltar para a rua. Rota de escape. Olhou bem e sacou rapido o seu ascendedor eletrico, como sempre fazia quando estava para explodir os caixas automaticos nas agencias bancarias do interior. Encostou no estopim e viu , imediato, o jato de fogo saindo do tubo plástico amarelo . Soltou, e se virou numa corrida só. Patinando subiu o barranco em direção a rua. Agil e rápido. Quando pulou o muro, viu um bombeiro vindo na sua direção.
-Volta ... vai explodir ...vai explodir ...gritou e seguiu correndo pela rua Pedro acima.
Não olhou para traz, calculando que o bombeiro estava longe e com certeza , mesmo que subisse na parede do reservatorio, nada iria lhe acontecer. A carga explosiva era apenas suficiente para explodir o trilho da comporta , nunca a parede de concreto. Nisso ele já tinha pratica , já tinha aprendido a colocar a carga certa para evitar que o dinheiro dos caixas automáticos, que ele os comparsas assaltavam, virasse poeira.
E correu rua acima. O retardo era de 100 segundos. É inacreditável quanto se corre em cem segundos!....E dando tudo certo, os cinco metros de altura do reservatorio, quem sabe um milhão de litros, iriam descer para a rua Pedro invadindo tudo, e carregando o que tivesse pela frente. Um avalanche.
Bingo. Quando se deu a explosão, Elcio virava a esquina do lado oposto da padaria, correndo com a cara coberta pela mascara ninja, sob o capuz amarrado da capa. Numa olhada rápida ainda viu o bombeiro na rua , uns vinte metros longe da explosão. Mas correu, e continuou correndo sob a chuva, rua acima para dar a volta, porque a rua Pedro com certeza ia ficar submersa , impedindo sua passagem para casa .
Deu uma volta de meia hora, pela ruas do bairro, contornando o piscinão, e chegou na padaria Copácabana, sem a capa e sem a mascara. Sentou e bebendo ficou a meditar sobre a estupidez que cometera se arriscando a ser descoberto ,só para tentar baixar o nível da agua. Claro que naquela hora só ele tinha a solução. Era agora ou nunca .Meia hora mais tarde e já haveria gente morta por afogamento. Um impulso. Claro que o bombeiro não tinha como reconhece-lo, mas quem, sabe algum curioso. Que risco!
A chuva ainda durou até a as 22 horas, quando a energia elétrica foi restabelecida e as crianças do ônibus já estavam resgatadas e em mãos das ambulancias .
Depois de quatro cervejas Elcio voltou para casa. E soube pela cunhada , que os bombeiros tinham arrebentado a comporta para esvaziar o piscinão e tirar as crianças do onibus.
Exatamente essa era a noticia no jornal do dia seguinte: Chuva torrencial. Onibus escolar, e carro menor colidem e despencam ladeira abaixo caindo no piscinão. Todos salvos e bem. Bombeiros, sem energia elétrica , tiveram que arrebentar a comporta de tal jeito que a saída da agua na sua violência de saída pareceu ate uma explosão. Isso evitara o afogamento dos acidentados permitindo resgata-los. Ruas abaixo houve inundação, sem maiores consequências.
De manha, depois de providencias necessárias, Elcio embarcou para o Recife para visitar a mae. Pretendia ficar uns tempos longe da curiosidade de qualquer bombeiro ou policial.
Explosivos e ex-presidiario é uma mistura indigesta.
Pretendia contar para a vovô que as netas tinham escapado de uma boa , afinal não estavam no ônibus acidentado, porque tinham permanecido até mais tarde na escola ajudando, como voluntarias, a professora a tirar a agua que invadira as salas de aula durante a chuva.
FIM