O BRILHO METÁLICO DA MORTE - PARTE II

- Foi ele de novo.

Otto acabara de descer de sua moto e agora estava parado, fitando o corpo deformado estendido sobre o chão.

- Foi ele de novo – disse Paulo mais uma vez.

- Os padrões parecem ser os mesmos – confirmou Otto. – A posição e o tamanho das perfurações, as marcas de estrangulamento, o corte diagonal na face... tudo segue a mesma ordem, exceto...

- O coração.

- Isso mesmo. O coração está... intacto.

- Ei, Otto, o que seria esse... desenho... sobre o peito esquerdo?? Parece uma cruz, não sei.

- Temos um artista aqui, meu caro. Um desenhista, ou pintor, talvez. A tela são os corpos destes pobres coitados, e o pincel... uma lâmina...

Paulo pareceu não gostar muito da comparação. Aquilo soou quase como um elogio à “obra” do Homicida. Entretanto, conhecia Otto há tempo suficiente para perceber a ironia. Sabia também que Otto via além das entrelinhas, que sua sagacidade surpreendia a cada caso, a cada novo indício.

- E a posição do desenho, imagina o que quer dizer?? – Indagou Paulo - Está de cabeça para baixo, de forma transversal, saindo da extremidade inferior do peito esquerdo até o meio tórax. Esse cara deve ser mais um desses fanáticos religiosos, anti- cristãos, sei lá.

- Pode não significar nada.

- O que?

- Pode não significar nada – Otto reafirmou, agora agachado observando o corpo mais de perto. – A Cruz pode não estar de cabeça para baixo. Não na visão do nosso artista. E o que tem a ver o coração com a cruz?

- Não sei.

- É uma boa pergunta, você não acha?

- Sem resposta. Será que ele quer dizer alguma coisa? Uma mensagem, talvez?

- Provavelmente. Ou quem sabe esteja apenas brincando conosco.

- Mas por que poupar o coração? Por que a cruz? – quis saber Paulo mais uma vez.

- Seria realmente uma cruz?

- Otto, não complica!!!

- Não seria uma espada? – Otto insistiu.

- O desenho está muito retangular. Apesar de que, espada... coração... ei, uma espada enfiada no coração!!!!!!

- Nosso artista é canhoto. – Otto disse, ignorando a última frase de Paulo.

- Não acha que é uma espada no coração?

- A posição e as manchas do desenho confirmam, ele é canhoto.

- Você não está me ouvindo. – Paulo resmungou.

- Isso diminui o número de suspeitos pra poucos... milhões...

- Você não me ouvir ou o fato do assassino ser canhoto?

- Paulo, assim que o relatório do IML sair, você me avisa. – disse Otto, colocando o capacete e montando em sua máquina de duas rodas. – Ah, e manda as cópias dos depoimentos, junto com os dados dos depoentes, quero falar com essas pessoas eu mesmo.

- Está bem, está bem... “chefinho”.

Otto partiu dali, permanecendo apenas a fumaça do escape de sua moto.

Jackes Vieri
Enviado por Jackes Vieri em 26/05/2007
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