O quarto caso de Dupin

C.August Dupin, considerado o mais antigo detetive da ficção policial, foi criado pelo autor norte-americano Edgar Allan Poe em 1841, na novela "Os crimes da Rua Morgue". Poe só escreveu mais duas narrativas com Dupin: "O mistério de Marie Roget" e "A carta roubada".
Foto: Poe.


O QUARTO CASO DE DUPIN


Miguel Carqueija


Era uma noite fria e, recolhidos à serenidade do nosso apartamento, Dupin e eu buscávamos somente nos aquecer com o lume da lareira que eu há pouco providenciara acender. Algo incomodado com a vista cansada, eu tentava cochilar na minha poltrona preferida, de braços estofados, e sabia da presença próxima de Dupin, sem dúvida imerso em suas reflexões profundas. Ele poderia passar horas assim, e eu muitas vezes me quedava a excogitar como podia um cérebro tão poderoso ser tão mal aproveitado pelo mundo, que ignorava a sua genialidade.
Entretanto existia uma pessoa, em Paris, que conhecia e reconhecia o gênio de Dupin. Essa pessoa era G..., chefe de polícia, um homem provado pelos anos e que, volta e meia, aparecia para procurar o meu amigo. Tais visitas haviam rareado naqueles últimos tempos, e eu me flagrei, entre um cochilo e outro, a devanear se ainda tornaríamos a vê-lo.
Não pense o leitor que esta seja uma das coincidências improváveis que os literatos da ficção costumam imaginar. Afinal, com freqüência eu me lembrava de G..., embora pouco externasse essa recordação. O gênio misantropo de meu amigo Dupin passara em parte para mim e não éramos chegados a visitas, a cultivar amizades, e o policial em questão, por conta de poucas afinidades, nem nos interessava muito como amigo. Ele porém não nos esqueceria facilmente, e naquela noite decidira certamente que já havia passado muito tempo sem nos procurar. Como quer que seja, ao soar das oito horas — Dupin possuía um excelente e barroco relógio cuco — ouviu-se o bater de nós de dedos na madeira da porta. Por alguma intuição que eu nem julgava ter, colocou-se no meu espírito que era G... que, após longa ausência, retornava como o filho pródigo.
Dupin mal levantou o olhar em direção à porta, sinal evidente de que confiava na minha prestimosidade e portanto não precisaria se dar ao trabalho de levantar. Adivinhando seu pensamento tratei de me erguer e encaminhei-me até a porta, perguntando: “Quem é?”
— Sou eu — disse a voz conhecida.— Preciso falar com Dupin.
Abri imediatamente. No íntimo sabia que G... só tornaria a procurar C. August Dupin se surgisse algum caso tão misterioso e desconcertante quanto o duplo assassinato da Rua Morgue, o estranho mistério de Marie Roget ou, enfim, o patético episódio da carta furtada. Eu custava a crer que pudesse ter ocorrido um quarto mistério tão denso e perturbador quanto aqueles três. Não sei se meu amigo Dupin pensava o mesmo que eu, mas o fato é que, reconhecendo G... imediatamente, ele fitou-o sem se levantar de pronto e indicou-lhe uma poltrona a seu lado. G... aproximou-se e só então Dupin se ergueu para cumprimentá-lo.
G... envelhecera, sem dúvida. Tinha mais cabelos brancos que na última vez que nos víramos, porém ainda era um homem saudável. Cumprimentou Dupin vivamente, mas eu quase poderia jurar que detestava estar novamente em nossa residência.
— Sente-se, por favor, meu velho amigo — disse Dupin, com uma sutileza de voz que transmitira uma conotação irônica justamente na palavra “velho”. Dupin era useiro e vezeiro nessas imponderáveis implicações vocais.
Dupin e G... sentaram-se e eu fiz o mesmo. Então o policial encarou o meu amigo e declarou sem preâmbulos:
— Houve um problema que nós não conseguimos resolver de forma satisfatória. Pensei em você, porque estamos nos debatendo num beco sem saída.
— Já escutei isso antes – notou Dupin.
— Eu sei. Posso lhe contar tudo?
— Um momento, por favor. Alan, temos café?
De fato eu já sentia fome. Desconfiei que Dupin lembrara de seu próprio estômago e não do de G... Este aceitou uns bolinhos embora estivesse impaciente por nos contar o novo caso.
— Vejam bem — começou o inspetor — desde que eu solucionei o rumoroso caso da carta, passei a gozar de certo prestígio junto às autoridades. Por isso, confiaram em mim para a guarda de certo personagem que se encontra em Paris e que amanhã deverá prestar certos esclarecimentos à imprensa.
— Esse personagem, então, encontra-se sob a sua tutela? — indagou Dupin.
— Oficialmente sim — respondeu ele, remexendo-se, pouco à vontade.
— Oficialmente? O que quer dizer? — falou Dupin, visivelmente intrigado.
— Porque ocorreu uma coisa que os meus superiores não devem saber... não podem saber.
— O que, G...? Não faça suspense inútil; fale.
— O homem sumiu — admitiu ele, finalmente.
Até eu me espantei:
— Mas, inspetor, como é que o senhor deixou que isso acontecesse?
— Já fiz essa pergunta a mim mesmo umas dez mil vezes nas últimas horas.
Dupin serviu-se de uma xícara de café fumegante, uma bela xícara de porcelana chinesa, com frisos azuis:
— Acho melhor contar tudo do início.


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— Comece — acrescentou o meu amigo — por nos explicar quem é esse personagem tão misterioso que foi confiado à sua guarda.
— Posso, naturalmente, contar com a discrição de ambos?
— Isso é óbvio — disse Dupin, logo secundado por mim.
— Então eu direi — falou G..., passando a mão pelos cabelos.
“Trata-se de um magnata norte-americano, que veio à França representando extra-oficialmente o governo de Washington. O objetivo é fomentar certos intercâmbios de ordem comercial e cultural e por isso recebemos ordem de guardá-lo com zelo e atenção e atender às suas necessidades.
— Um momento, interrompeu Dupin, com um pequeno gesto da mão esquerda. — Ele veio sozinho?
— Perfeitamente. Por que pergunta isso?
— Por que, G...? Porque é um dado importante, ora. Se ele estivesse acompanhado, digamos, pela esposa, a essa altura ela estaria arrancando os cabelos e exigindo providências... não seria tão fácil abafar o desaparecimento.
G... enrugou tanto a testa que eu tive a certeza de que tal hipótese não era bem-vinda. Segurando uma xícara ainda fumegante, o inspetor prosseguiu dificultosamente:
— O milionário em questão é solteiro e sem família; não trouxe sequer um secretário. Hospedou-se na minha casa, mas esta manhã saiu para dar um passeio e não retornou para o almoço. Minha esposa só me informou disso pelo fim da tarde, pois eu estava no trabalho. O fato é que ele sumiu e eu nem sei se o seu corpo se encontra agora nos esgotos de Paris. Se uma coisa dessas tiver acontecido... a minha carreira terminou.
— O que é isso, mon ami... não tiremos conclusões apressadas. E você crê que eu e o meu amigo Alan poderemos prestar uma modesta contribuição para solucionar satisfatoriamente este caso?
G... olhou nervoso o seu relógio de algibeira.
— Acredito que sim, amigo. Mas terá que ser logo, pois este caso pode esperar menos ainda que os outros três onde você interveio.
— Pois muito bem. Começaremos imediatamente.
G... levantou-se e observou ansioso:
— Será que eu posso contar com uma solução até amanhã de manhã?
— Só me diga uma coisa, inspetor: reparou bem no traje do nosso amigo?
— O traje? Ora essa, ele saiu com o traje de andar na rua.
— Pergunto — insistiu Dupin com estudada paciência — se ele estava mais elegante que de costume, ou se levava um buquê de flores, ou se colocara um perfume especial...
— Percebo onde o senhor quer chegar! Ele se vestia de maneira normal e sóbria, não deu a entender que iria se encontrar com uma mulher.
— Mas pelo menos o seu traje era bem passado e melhor que o habitual?
— Dupin, eu ainda mal o conhecia e pouco o tinha visto. Como posso saber se ele estava mais elegante que o habitual?
— Talvez — observei timidamente — se ele tivesse um encontro feminino, se vestisse dessa forma mesmo, ou seja, normal e sobriamente, pois seria do seu interesse esconder o seu desígnio.
Dupin sorriu.
— Excelente ponderação, meu amigo. Afinal, um homem tão rico e ainda mais estrangeiro bem que poderia utilizar roupa mais extravagante. Não usá-la é que parece suspeito.
— E onde é que isso nos leva? — indagou o inspetor, em tom macambúzio. — Nada sei sobre a vida pessoal deste cidadão estrangeiro e muito menos se ele já conhecia mulheres em Paris.
— E que saberia o senhor sobre a natureza desse intercambio cultural e comercial? Qualquer detalhe a mais pode representar a solução do nosso caso.
— O nosso milionário é armador de navios, entre outras coisas, e faz parte da diretoria de um grande banco norte-americano. Fora isso, interessa-se por óperas e manifestou interesse em promover a excursão de uma das nossas companhias operísticas, para se exibir nos Estados Unidos.
— Sabe o nosso amigo qual é a companhia?
— Por certo, Dupin. A Pot-pourri Parisiense, onde pontifica a magnífica Francine...
Eu, que observava atentamente a interação entre os dois personagens, recreando-me em perceber as menores nuances de voz e expressão no meu amigo, admirei-me em perceber, naquela luz mortiça do candeeiro, que as linhas do rosto de Dupin se vincavam de maneira incomum, e seu olhar como que se perdera numa contemplação de um horizonte infinito visível apenas aos olhos da mente. Recordei-me de certos obscuros estudos de frenologia que no remoto passado de minha vida, andara me aventurando. Naquele momento, teria apreciado poder penetrar no verdadeiro pensamento de meu tão enigmático amigo de tantos anos.
Dupin conservara o silêncio por alguns instantes que se prolongaram até perfazer um minuto. O nosso amigo policial, já impaciente, remexeu-se na cadeira e encorajou:
— Você acha que esta informação pode vir a ser útil?
— Ah! Meu nobre amigo, deve saber, com sua larga experiência, como a vida humana é um novelo complicado e que a cada passo que damos, vai se complicando mais ainda, somos todos como fios de uma rede que se vão entrelaçando e desentrelaçando através dos tempos...
— Fala muito difícil para o meu gosto, além disso, Dupin, o tempo urge e eu já não sei mais o que fazer...
— Está bem. Alan, pegue o seu chapéu e o sobretudo. Vamos nos agasalhar, que a noite está fria.
— A essa hora? — indaguei, extremamente perplexo.
— Evidente, meu amigo. Se não sairmos logo, perderemos a hora para a ópera.
Quase não acreditei no que ouvia. G... , como se julgasse Dupin subitamente ensandecido, olhou-o com olhos quase esbugalhados:
— Mas do que você está falando?
— Inspetor G... , despertou o melômano que existe dentro de mim. Acabo de me lembrar que, segundo as folhas de hoje, esta noite a grande Francine se exibe com sua companhia, e justamente na grande ópera “Don Giovani”, de Mozart... se pegarmos a carruagem aqui embaixo chegaremos bem em tempo de apreciar esta bela obra... Deus queira que ainda hajam ingressos...
— Mas, e o nosso caso, Dupin? Como é que fica o nosso caso?
— Meu amigo, pediu-me uma solução até amanhã pela manhã. Ou seja, antes do meio-dia de amanhã. Há tempo para assistir uma bela ópera.
— Se não fosse pela sua brilhante atuação naqueles três casos, diria que está zombando de mim, Dupin. Mas pode me dar a sua palavra de cavaleiro de que trará o desaparecido de volta até amanhã de manhã?
— É claro que sim, desde que o amigo, se não quiser nos acompanhar à ópera, antes de sair pelo menos escrevinhe num papel qualquer o nome completo, idade, aparência física e outros detalhes que souber e sejam úteis à identificação do sumido, senão nem saberemos a quem procurar. Mas basta isso e, claro, a cobertura das despesas que nós dois teremos com transporte e teatro, flores para a diva e refeições.
G... , como se ofendido diante da já conhecida auto-confiança de Dupin, que sabia cobrar previamente a recompensa por soluções ainda futuras, mas cuja concretização ele dava como certas, após a solicitada “escrevinhação” tirou da carteira algumas centenas de francos — muito mais do que precisávamos para as alegadas despesas — e despejou as notas amarfanhadas que nem sequer contara, sobre a mesa, retirando-se em seguida sem uma “boa noite”.
— Pobre e caro amigo, sempre desconcertado — observou cinicamente Dupin, que acabava de esfolar o tão caro e pobre amigo. — Mas não devemos perder tempo com lamentações, meu caro. Vamos nos apressar!
Conseguimos deixar Saint-Germain a tempo de chegar ao teatro de ópera — a grande ópera cômica de Paris, no Ambigu-Comique — e na verdade não havia tanta pressa assim, pois adquirimos nossos ingressos uns bons quarenta minutos antes do início oficial do melodrama. Disto se aproveitou Dupin para enviar um bilhetinho misterioso para a estrela do espetáculo, por via de um contra-regra que estava entre os seus amigos de muitos anos e de passadas épocas de glória ou, pelo menos, de vida social, que um dia Dupin esbanjara para depois se tornar um ermitão quando se viu despojado de sua antiga fortuna.
— Dupin — observei severamente — ou muito me engano ou você na verdade não queria tanto assistir à ópera, mas falar com Francine? Não me diga que ela está elencada entre as suas antigas e misteriosas relações na alta sociedade?
— Um dia, Alan, terei o prazer de não precisar mais lhe ensinar os truques, ou melhor, os macetes e métodos da análise dedutiva, pois você vem apresentando progressos a olhos vistos. Francine é uma velha e boa amiga, aliás não tão velha como eu, é claro. Terei grande prazer em voltar a vê-la e conversar com ela por alguns minutos. Infelizmente, meu amigo, será demais pedir à grande estrela da canção receber dois homens em seu camarim, um dos quais ela ainda não conhece, mas espero um dia menos atribulado poder apresentá-lo a ela.
Por outras palavras, eu estava simplesmente sendo dispensado de presenciar o encontro. Considero-me entretanto um cidadão bastante razoável e jamais pretenderia bancar o espaçoso. Fiquei esperando em nosso camarote enquanto Dupin sumia nos bastidores, retornando quase na hora em que “Don Giovanni” iria começar. Foi com alívio que o vi chegar, mas August Dupin mal falou comigo, e durante todos os dois atos manteve um silêncio quase sepulcral, embora no final aplaudisse com entusiasmo. Afinal, Francine era mesmo bela e magnífica e sua interpretação de Elvira fôra sensacional.
À saída, Dupin alugou uma carruagem mas estranhamente pediu ao condutor que aguardasse, pois tinha um pequeno negócio para tratar e deveria trazer mais uma pessoa. Ainda teve a desfaçatez de me pedir que esperasse mas não no interior do veículo e sim em pé, ao lado do mesmo, pois talvez precisássemos conversar algumas coisas antes do embarque. Eu não estava entendendo nada, mas o verdadeiro problema era a impaciência do condutor, que enfim resignou-se a esperar o tempo que fosse necessário, mediante uma generosa gorjeta — extraída sem dúvida do pagamento antecipado de G....
Foram mais vinte minutos de agonia, que passei quase andando em círculos e preocupado com o sereno que já ameaçava virar chuva, mesmo. Mas afinal, vindo aparentemente dos fundos, apareceu um cavalheiro alto, de capote, cartola e colete, que se aproximou rapidamente de nós: um homem de aparência bem cuidada, bigodes finos e olhar penetrante.
— Eis-me aqui — disse ele a Dupin. — Este é o amigo de quem falou?
— Ele mesmo. Meu caro Alan, este é o Sr. Erle Denzell Elliott, a quem nosso amigo G... procura desesperadamente.
Fiquei de queixo caído, mas apertei cordialmente a mão que me era estendida. Então, Dupin mais uma vez saíra vencedor!
— Não devemos conversas nada no carro e, francamente, nem aqui. O Sr. Elliott tem pressa, e nós lhe daremos uma carona até a residência do chefe de polícia.
— Este gendarme é um tolo — comentou o americano, que possuía ótima pronúncia francesa. — Ele deve julgar que nós, ianques, não sabemos nos cuidar.
— Mas eu não entendo... — balbuciei. — Por que razão, mesmo, o senhor desapareceu?
— Minha reunião com a Câmara de Comércio é amanhã à tarde. Não preciso de um policial para bancar a minha babá.
— Vamos — interveio Dupin. — O cocheiro já está impaciente e se demorarmos mais terei de aumentar-lhe a gorjeta.

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Mais tarde, já no aconchego de nossa casa, Dupin dignou-se a fornecer detalhes antes que nos recolhêssemos.
— Meu caro, imagino que desta vez abusei um pouco. G... deve estar arrancando seus últimos cabelos, pensando nos francos de que se separou à toa, pois bastava ter esperado mais um pouco que o ianquezinho teria aparecido espontaneamente.
— Pelo que eu entendi, ele estava com Francine?
— Ah, sim, e digo mais: os dois irão se casar. Um amor da juventude, que os fados se encarregaram de separar... e de reunir. Uma longa história, que os dois me contaram. O Sr. Erle tinha um pai muito autoritário, que ameaçou deserdá-lo se insistisse na idéia de casar com uma francesa do meio artístico. Infelizmente, certos aristocratas tendem a achar que artista é sinônimo de prostituta. Francine é uma pessoa muito séria, como eu posso atestar pois também a conhecia e até, meu amigo, em certa época cultivei a veleidade de amá-la.
— Você? — e com essa pergunta lacônica eu já dizia tudo, pois jamais imaginara que aquele meu amigo misantropo pudesse algum dia ter amado alguém. Ele não se deu por achado:
— Mas, é claro, eu não sou persistente como o Sr. Erle, que esperou o pai morrer, tomou posse da herança e agora é dono do próprio nariz. Ao se habilitar para essa representação comercial, uniu o útil ao agradável e a primeira coisa que fez ao chegar foi sair à procura de sua amada. É claro que ele não iria contar isso a G......
— Mas, Dupin, como foi que você descobriu tudo isso?
— Porque, meu caro, antes de perder contato com Francine, há mais de dez anos, eu já sabia que ela amava um americano que prometera um dia voltar. Eu sabia que o homem era armador e banqueiro, embora nos velhos tempos fosse apenas um auxiliar do pai nesses negócios. Só tive que conferir o nome numa velha carta de Francine — oh, sim, ainda guardo as suas cartas, que são cartas de amiga, compreenda, ela nunca correspondeu ao meu amor. Como vê, meu caro Alan, desta vez não tive mérito algum: ganhei o caso de mão beijada.
— Depois dessa, desconfio que G... nunca mais lhe pedirá ajuda.
— Quem pode saber, Alan? Mas é bem provável que não. Afinal, G..., apesar de sua austeridade, também tem um fraco por Francine, e agora, ao que tudo indica, ela irá para os Estados Unidos.
— Mas você não tem culpa nenhuma disso.
— Com certeza que não. Mas agora, sempre que me avistar ele se lembrará de Francine. A vida tem dessas sutilezas. E agora boa noite, porque eu vou tratar de dormir.