~*SENHOR DAS DESCONFIANÇAS*~ cap. XIX

O detetive Ruan Gaspar girou a chave na fechadura da porta e uma vez destrancando-a, deu espaço para que a empregada Tayná passasse primeiro e depois disso encostou a porta. Puxou a cadeira do convidado para Tayná se sentar e deu a volta na escrivaninha para tomar assento na outra cadeira. Quando tomou na mão a caneta e abriu o caderno de anotações, Ruan olhou para Tayná e foi impossível não perceber que ela o fitava de maneira possessiva, tal e como uma cobra se preparando para dar o bote. O que havia de errado nele? Não era isso, a empregada se sentia atraída pelas características do detetive; seus cabelos dourados que deslizavam levemente para trás com o efeito do gel, seus olhos cor de mel e os lábios que ora estavam mais vermelhos era o que a fazia pensar que jamais apareceria na mansão homem de tanta beleza como Ruan.

- Podemos começar? - perguntou Ruan, na expectativa de conduzir a empregada a pensamentos mais úteis.

- Quando quiser - respondeu Tayná com uma voz manhosa.

- Primeiro quero que me diga seu nome completo e sua idade - deitou a vista sobre a página em branco do caderno e posicionou o punho com a caneta, pronto para acolher as informações.

- Deseja também meu número de telefone? - ela mostrou um sorriso sedutor, ao passo que Ruan erguia o rosto.

- Para quê? - ele indagou com a testa franzida.

- Ah, talvez queira me ligar depois para conversarmos e...

- Eu tenho namorada - foi rápido ao dizer e também ao calar as intenções da empregada.

- Estranho se não tivesse - disse Tayná, tentando ao menos disfarçar que a informação não lhe fôra favorável -, um homem tão bonito assim como você... E de onde é sua namorada?

- Quem faz as perguntas aqui sou eu - o tom de sua voz exalou um mínino de ignorância e mais frieza - e acredito que minha vida pessoal não lhe diga respeito.

- Ana Tayná de Amorim - respondeu Tayná, retomando a primeira pergunta do detetive para pôr em questão naquele demorado momento, em razão de ter odiado as palavras que ouviu -, tenho 25 anos.

Ruan anotou aquilo rapidamente na folha para adiantar a próxima pergunta.

- O que achava da falecida Sra. Eloise e o que sabe sobre ela? -Ruan questionou, balançando a caneta entre as pontas dos dedos.

- Nunca a conheci pessoalmente, senão por fotos - dizia, enquanto levava a meixa de cabelo caída do coque para trás da orelha - e tudo o que sei sobre ela não é nada mais do que os senhores Arantes contam. Faz pouco tempo que trabalho aqui, ela já era falecida. Pode perguntar à Maria!

- Se eu quisesse perguntar à Maria, estaria entrevistando ela e não você - aquela resposta atingiu Tayná como uma flecha inflamada em seu peito e a fez arregalar os olhos de tanto espanto. Percebendo no que resultara as suas palavras, Ruan franziu os lábios e deu uma risada sarcástica - Ops... Desculpe.

- Mais alguma coisa? - a voz de Tayná saiu um pouco abalada, embora ela preferisse ter demonstrado mais da irritação que sentia.

- Sim - ele consentiu, agora mais sério - Além de Thiago que vai para estudar, só você frequenta o porão, para fazer a limpeza, estou certo?

- Sim.

- E você sempre faz a limpeza, ou...

- Não, só às quintas-feiras.

- Sei - pausou brevemente para anotar as informações - E o que você encontra lá?

- Um bocado de coisas velhas - falou sem dar muita importância ao pronunciar -, coisas que os senhores Arantes não usam mais e jogam lá.

- E não tem visto nada distinto, estranho? - ele deitou os braços sobre a escrivaninha e entrelaçou os dedos das mãos.

- Não - disse Tayná, com o cenho franzido - O que haveria de mais estranho lá no porão do que o que há aqui por cima?

Ruan esteve confuso sob essas palavras de Tayná e lhe sobrevieram toneladas de pensamentos sobre todas as coisas que até aquele momento lhes pareceram estranhas, mas, a que coisas Tayná se referia?

- Só mais uma pergunta - ele disse -, você gosta do que faz aqui na mansão?

- Para ser sincera, não - respondeu ela, de começo com o semblante recaído, mas que repentinamente se avivou - Eu sempre quis mesmo é ser atriz, sabe? Fazer muito sucesso, como aquelas das novelas mexicanas! Então eu iria ganhar muito dinheiro e...

- A entrevista já acabou - enunciou Ruan, farto daquele falatório desnecessário.

- Com licença - Tayná arrastou a cadeira, enquanto o olhava com desapontamento, se pôs de pé e saiu da sala.

~*~

Já eram 22:00h da noite, maioria dos da mansão dos Arantes já havia ido deitar, mas o Sr. Arantes ficou conversando com o detetive no grande salão, perguntava como ia a investigação e se já havia descoberto algo. Thalia saiu da cozinha e ao entrar na sala viu o pai ali, no que vacilou antes de subir a escada para ir dormir.

- O senhor não vai dormir agora, meu pai? - ela perguntou a fitá-lo, enquanto segurava o corrimão da escada, e se empenhava para não reparar que estava sob a observação do detetive.

- Daqui a pouco, minha filha - disse o Sr. Arantes, erguendo o rosto na altura da filha e demonstrando um estimável sorriso -, durma bem, querida!

Thalia recebeu com satisfação as palavras do pai, porém não pôde evitar de olhar para o detetive antes de prosseguir. Ele insistia em desvendar todas as razões das atitudes da moça, era como se de tudo desconfiasse e, naquele instante, lhe intrigou o regozijo de thalia perante a resposta do pai. O quê? Acaso ela se alegrava em saber que o pai poderia permanecer toda a noite no salão enquanto todos já se recolheram? E assim Thalia subiu e desapareceu pelo corredor lá no alto.

A conversa entre o detetive e o Sr. Arantes havia se perdido, dando lugar ao silêncio... Enquanto um lia sobre política, outro meditava numa folha rascunhada de papel. Sucedeu que, repentinamente ouviram um grito muito alto vindo do andar de cima e logo em seguida um barulho de vidros estraçalhando! Eles se entreolharam assustados e o Sr. Arantes correu do sofá e subiu depressa a escada, ao passo que o detetive seguia-o até o andar de cima. O Sr. Arantes parou no topo da escada e moveu a cabeça de um lado a outro, procurando saber de onde vinha os gritos e vendo o filho Thiago abrir agilmente a porta do quarto em que ele dormia com a esposa, correu até lá e com ele também foi o detetive. Ao entrarem no quarto, a Sra. Arantes estava sentada na cama e coberta da cabeça aos pés com o edredom, enquanto se balançava e gemia de medo. A janela do quarto estava com parte da vidraça quebrada e no chão pedaços de vidro espalhados e também o telefone danificado, que antes ficava encima do criado-mudo.

~*Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 07/09/2016
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