Peak
Sob o sol de um entardecer de verão, seguimos pela SC-213 até pouco antes do cruzamento sobre Hampton Island, quando Warwick dobrou a direita e entrou por uma estrada praticamente deserta, em meio a uma floresta luxuriante.
- Que lugar ermo - comentei.
- Mesmo assim, não é desabitado - retrucou Warwick. - A polícia local está trabalhando com a hipótese do assassino ter escolhido um ponto tão próximo da cidade, justamente para ter certeza de que o corpo seria encontrado rapidamente.
- Mas não temos ainda nenhuma certeza de que trata-se de alguém da região - ponderei.
- De fato. Identificar um corpo sem cabeça e com as mãos cortadas demanda tempo, principalmente se você não tem nenhuma ideia de quem é a vítima.
Entramos na cidade, se é que duas ruas com casas térreas de madeira, espaçadas por terrenos baldios, poderia ser chamado de cidade. A viatura do xerife estava estacionada em frente à agência dos Correios. Paramos ao lado dela e descemos do carro. O xerife saiu da viatura e veio ao nosso encontro.
- Xerife Fillmore? Agentes Warwick e Jones, FBI - apresentou-nos Warwick, exibindo a carteira de identificação.
- Bem-vindos à Peak, agentes - disse Fillmore, um homenzarrão rubicundo, cabelos grisalhos ralos e quase dois metros de altura, trajando o uniforme preto da polícia do condado de Newberry. - Vou levá-los até o local onde o corpo foi encontrado. É perto daqui.
Cruzamos a rua em frente aos Correios e caminhamos cerca de dez minutos por um descampado até as margens do rio Broad, junto à cabeceira da antiga ponte ferroviária.
- O corpo, sem roupas e sapatos, estava bem aqui - disse o xerife, apontando para um remanso lamacento, quase sob a ponte de ferro. - Praticamente nenhum sinal de sangue no local, o que indica que a decapitação e a amputação das mãos foram feitas em outro local.
- Marcas de pneus, pegadas, alguma ideia de como o cadáver foi transportado até o local?
- Nenhuma marca de movimentação junto ao corpo. A nossa legista suspeita que ele foi atirado do alto da ponte.
Warwick olhou para cima, calculando mentalmente a altura da queda. Depois, voltou-se para o xerife:
- Mas ao telefone, você disse que tinha uma pista sobre a possível identidade do morto.
- Não exatamente sobre a identidade, mas sobre a origem dele. É alguém da região, ou que já residiu aqui.
- As características da vítima batem com as de algum desaparecido recente no condado, xerife? - Indaguei.
- Não. Ninguém com estas características: caucasiano, idade presumida entre 30-35 anos. Mas vou lhes mostrar algo que só notamos hoje de manhã. Vamos precisar ir de carro.
Voltamos ao estacionamento dos Correios. O xerife pegou sua viatura e o seguimos por cerca de cinco minutos até uma placa de boas-vindas na entrada da cidade. Descemos dos carros.
- Vejam só - ele apontou. - Um dos meus policiais, que mora na cidade, foi quem chamou minha atenção. Isso não estava aí na semana passada.
Nos aproximarmos da placa. Nela, lia-se: "Você está entrando em Peak, Carolina do Sul. População: 64 habitantes". Alguém havia feito um "X" com tinta vermelha sobre o número, e escrito logo abaixo, em letra de forma: "ainda restam 63".
- [15-05-2017]