O Preço de Uma Vida (Parte 2)

Elenco:

Roberto Mourão / Sônia Pacheco Mourão

Sérgio, Carlos e Daiane Mourão

''Michel'' / Carina Ferreira / Márcio Ximenes

Mariana Fonseca / Ingrid Diniz

     Minutos após conseguirem a prova definitiva que Roberto Mourão traficava armas para um grupo que estava sendo vigiado há meses pela policia, os investigadores enviaram as gravações para a delegada Mariana. Após ouvir, ela mandou que eles e outros policiais que estavam chegando, encaminhassem toda a família com discrição para a delegacia.

- Carina: Finalmente! Alguma pista que pode levar até o final desse caso. - Comemorou enquanto pegava dois copos de café.

- Márcio: Eu tô todo quebrado de ficar dias naquele carro, mas e ai, acha mesmo que acaba se o cara (Roberto) entregar os chefes dele? Ele deve ser só mais um no esquema. - Comentou pegando seu copo e sentando no sofá.

- Carina: Tem razão, mas ele sabe onde todos os outros se escondem e de muitas ligações do tráfico bélico, então já vai ser um grande passo. - Concluiu ela.

- Ingrid: Márcio e Carina, a delegada pediu para vocês fazerem o depoimento dos pais e dos filhos Mourão agora. - Entrando na sala de recreação.

- Márcio: Obrigado, amorzinho, vou conversar com os pirralhos igual farei com nossos filhos. - Disse ele se esticando para vê-la na porta.

- Ingrid: Nem começa, por favor. Foi lindo essa semana sem suas piadinhas. - Disse fazendo uma careta enquanto saia e fechava a porta. 

- Carina: Você não desiste dela mesmo hein.- Diz enquanto se encaminha a porta.

- Márcio: Ela é uma gata! Nem você desistiria dela. - Comenta e se espreguiça.

- Carina:  Eu tô feliz com meu marido, aliás, vamos fazer um churrasco no aniversário dele. Nem preciso te convidar, só lembrar mesmo. - Falou ela já fora da sala.

- Márcio: Já namorei um cara libriano, você deve sofrer né? - Ele diz fechando a porta.

- Carina: Cala a boca e vai conversar com os meninos...ah, seja sutil. - Eles iam para a sala de interrogatórios.

     Para facilitar dos depoimentos, haveria uma conversa informal e separada. Para evitar que fatos sejam omitidos pela pressão de ter outros observando. Eles chegam na sala onde os familiares estavam reunidos e convida Sônia para ser a primeira a conversar. Elas vão para a sala seguinte.

- Carina: Obrigada por comparecer, senhora. Meu nome é Carina Ferreira e tenho algumas perguntas a fazer. - Ao sentar-se a mesa.

- Sônia: Minha filha correndo risco de vida, minha casa sendo fuxicada por policiais e você me dá um ''obrigada por comparecer''? - Disse ela totalmente rude.

- Carina: Desculpe, estou a par da situação do sequestro da sua filha já que o caso de sequestro e tráfico se juntaram. Sou mãe também e imagino a dor da senhora. - Fala e coloca a mão sobre uma pasta com relatórios.

- Sônia: Tráfico...meu deus, como é que fui parar no meio desse furacão? - E chora ao dizer.

- Carina: Seu marido, senhora.

- Sônia: Ele né, como foi burro! Ir nessa onda de armas e então traficar, que vergonha, meu pai. - Tentava esconder o rosto.

- Carina: Ouvimos tudo que vocês tem falado ao telefone e nas mídias sociais nessas últimas semanas, mas preciso que a senhora explique melhor toda a história envolvendo o trabalho sujo do seu marido. 

- Sônia: Eu soube na mesma hora que você imagino, soube o que ele fazia. - Disse com cara de espanto.

- Carina: Sim, mas preciso que conte do jeito que a senhora sabia antes de descobrir.

- Sônia: Tá bem. - e ambas concordaram a cabeça - Morávamos em Curitiba, era lindo lá e tínhamos uma história, morávamos próximo a um restaurante de amigos e amávamos jantar com eles até que aconteceu o pior...se é que pode ainda ser considero já que o mundo foi destruído nessas últimas horas...meu filho Sérginho começou a ficar muito abatido e tossir muito sangue, levamos ele ao médico e ele estava com uma doença terrível, precisaria de remédios caríssimos ou uma operação que o gasto era de um preço estratosférico. 

- Carina: E ai veio o amigo traficante? 

- Sônia: Acredito que sim, o Roberto disse que conseguiu dinheiro com amigos e que ele começaria a trabalhar para eles para quitar a dívida. Nos mudamos para cá onde seria feito, só que após a cirurgia, ele continuou bem doente e a doença poderia voltar por completa, então o médico nos aconselhou a ter um filho, pois as células dele poderiam ajudar.

- Carina: A senhora tem um filho menor não? Do meio no caso. - Indagou.

- Sônia: Sim, mas depois de uma idade, as células dele assim como nós pais não ajudariam muito. Precisava ser de uma criança com material genético semelhante, alguma coisa assim...os dois sofreram muito, hospital toda vez por mês e quando eles adoecem, sempre atrapalha o tratamento do Sérgio. - Disse ela ficando mais calma.

- Carina: Isso afetou a família de alguma forma, digo, há preferências, rixas entre parentes?

- Sônia: Não, os parentes sempre nos apoiam e lutam conosco essa batalha, Carlinhos sempre dá carinho os irmãos e eu sempre procuro agradar bastante o Sérgio já que ele deve se sentir bem frustrado pela doença, sendo tão novo.

- Carina: Meninas são as preferidas dos pais, como é o tratamento da senhora com ela?

- Sônia: Ela é meu amor, Roberto tá sempre trabalhando...digo, você sabe - e Carina concorda com a cabeça - mas sempre está mandando mensagens e ligando, em casa ele sempre paparica todos eles igual. Já eu, eu amo da mesma forma sabe? Tento tratá-la como um anjinho que veio para ajudar o irmão e tratá-lo como um herói.

- Carina: Eles dois se dão bem?

- Sônia: Onde quer chegar com isso?

- Carina: Não sei... - e elas se fuzilaram com os olhos - ok, estou 2 semanas na frente da sua casa em carros diferentes e sempre os vejo chegando, vi ele trancando ela dentro de casa quando saia e quando entrava, ele fechava o portão antes dela chegar.

- Sônia: Impossível! Isso é mentira!

- Carina: O... - e viu suas anotações - Carlinhos sempre a ajuda. Estou mentindo?

- Sônia: Eles tem que cuidar uns dos outros! E meninos brincam não é?

- Carina: Brincam sim, senhora. - E dizer aquilo era como pegar Sônia no seu jogo de negligência.

- Sônia: Agora, quando vocês vão liberar meu marido para ele ir resgatar minha filha?

- Carina: Seu marido não é o Rambo e precisa ter aprovação da delegada Mariana.

- Sônia: É ASSIM NÉ? TANTA BUROCRACIA...VÃO DEIXAR ELA MORRER OU FICAR ASSUSTADA ONDE ESTÁ.

- Carina: A conversa acaba aqui, querida, libere a sala. - Disse no tom mais frio possível.

      Sônia num pulo levantou-se agressivamente da cadeira e se encaminhou a porta, saiu e bateu ela com toda força. Enquanto continuava sentada, Carina estava refletindo sobre a situação da família, sabia o quanto doía para todos mas ainda se perguntava como poderia deixar sua filha sofrer nas mãos do irmão mais velho. Levantou-se e foi ver pelo vidro, como Márcio estava com os meninos.

- Márcio: Então ela foi comprar algodão e vocês não notaram ela seguindo alguém? - Sentado em um pequeno banco para ficar da estatura dos meninos sentados.

- Carlos: Não, estávamos no bate-bate e o papai falou do sumiço dela.

- Sérgio: Eu achei que ela tava se escondendo, ela adora fazer essas coisas. - Respondeu com arrogância.

- Carlos: Sérgio, aqui não. - Virando-se para olhar o irmão.

- Márcio: O que não? 

- Sérgio: Tem alguma coisa para dor de barriga? - Pedia enquanto massageava a barriga

- Márcio: Tenho sim, já volto.

     Ao sair da sala, Márcio acena para Carina e vai até o armário com remédio. Pega um infantil para dores musculares. Voltando, vê Carina e Mariana já conversando com Roberto, entra na sala com os meninos e vê uma poça de vômito. De repente entra Sônia aos berros com o investigador, puxando o menino pelo braço e fazendo a conversa da sala vizinha parar para entender a confusão. Minutos depois, ele coloca Carlinhos sentado para trás do vomito e volta a fazer perguntas.

- Márcio: O que não? - Disse ele pacientemente.

- Carlos: Não contar aquilo. - Respondeu com certo medo.

- Márcio: Você sabe que sua irmãzinha está sumida e pode estar perdida por ai, se esconder o que sabe, não vou conseguir achá-la, campeão. - Ele tenta convencer.

- Carlos: Não tem haver com isso mas é que...o Sérginho não gosta dela.

- Márcio: Dela quem? A Daiane? - Pergunta ele se aproximando.

- Carlos: Sim, ele faz maldades com ela. Depois diz que ela se machucou brincando, a mamãe até proibiu dela brincar fora de casa.

- Márcio: Meu deus, e então ele parou de machucá-la né? Ele não teria como mentir mais.

- Carlos: Não. Ele xinga ela, diz coisas que eu não gosto, eu brigo com ele mas não posso fazer nada, ele é meu irmão e amo muito ele.

- Márcio: Você tá certo, Carlinhos. Posso chamar assim?

- Carlos: Pode chamar sim.

- Márcio: E a mãe de vocês ou o pai nunca desconfiou?

- Carlos: Já, mas ele é doente, muito fraco e acham que não teria como ser ele.

- Márcio: E acham que é você...não é?

- Carlos: Sim. Mas não me dizem nada e só me olham feio quando ela (Daiane) está triste.

     Márcio agradeceu a conversa e despediu-se do garoto. Carlinhos fica na porta olhando a conversa do pai e as agentes de policia. Márcio que voltou sua atenção para o vômito de Sérgio, o chamou novamente.

- Márcio: Carlinhos, ei.

- Carlos: O que foi? - Ficou intrigado com o homem encarando o vômito.

- Márcio: Você nunca notou alguém diferente rondando a casa de vocês?

- Carlos: Não não.

- Márcio: Nem algum amigo esquisito do seu irmão?

- Carlos: Ele tem um amigo estranho no hospital. Um cara que diz que é pai de um menino mas nunca vimos o menino, ele conversa bastante com o Sérgio.

- Márcio: E o que seu irmão comeu hoje?

- Carlos: Ele não comeu, tá sentindo dor o dia todo, por quê?

- Márcio: Nada não, era para dizer que ele poderia ser alérgico. Agora vai lá, sua mãe deve estar preocupada.

- Carlos: Tá bem, valeu.

- Márcio: Tchau campeão.

     Carlinhos atravessa a sala onde seu pai estava sendo interrogado e mesmo sem entender ainda toda situação, não interrompe e vai ao encontro de sua mãe e irmão.

- Mariana: Como você trabalhava para alguém sem saber a fundo o esquema?

- Roberto: Eu só entregava. No começo, mas depois comecei a desenvolver com uns caras e o Michel, esse que acredito ter sequestrado a minha filha.

- Mariana: Por que ele faria isso?

- Roberto: Mesmo fazendo carreira lá dentro se assim posso dizer, eu não queria continuar. Desenvolvendo aparelhos melhores, ganhei muito mais do que devi para quem me colocou lá dentro.

- Carina: E quem te colocou lá dentro?

- Roberto: Um amigo Jorge de Curitiba, eu estudei com ele e ele disse que isso ajudaria com meu filho.

- Mariana: Mas continua falando desse Michel.

- Roberto: Tá bem. Ele ficou bolado que eu queria sair, e achava que saindo, iria entregar a todos...irônico agora não? Começou a me perseguir lá e nas levas. Chegou a conversar com um primo meu de Curitiba.

- Carina: Onde vocês operavam é onde você tem que ir hoje? E o que esse cara fazia?

- Roberto: Ele era a informação. Ficava de olho em todos os trabalhos e reportava ''A Dona'' e reportava o que ela ou eles queriam nos dizer. Mas não, ''a boca do jacaré'' é um sítio onde há reuniões. Não tem muito material.

- Mariana: O que você sabe desse Michel?

- Roberto: Ele tem um marido. Se tornou meio que regra não citá-lo já que ele não sabia o que o Michel faz. Sei que deve ser parente de alguém dessa ''dona''.

- Mariana: E onde você trabalhava e pegava ou deixava as peças?

- Roberto: Em uma das estações de trem, perto do sítio, tem uma ponte que é esconderijo de toda carga. Eu ia lá e tinha salas apertadas para trabalhar.

- Carina: Levar ''pó de chinês'' para a arena principal é colocar uma bomba em algum lugar estratégico não?

- Roberto: Sim, e posso apostar que vão fazer questão de me largarem lá com a bomba amarrada em mim.

- Mariana: E como devolveriam sua filha a você?

- Roberto: Não tem mais eu, delegada. Vão entregá-la a minha família assim como estou entregando informações a vocês.

- Carina: Você quer mesmo ir lá?

- Roberto: Quero, ir até a arena pelo menos e dar um jeito...vamos dar um jeito né?

- Mariana: Vamos sim, você vai com escolta secreta e vamos seguir todas as movimentações. Já estou montando uma mega equipe para levar todo o publico uma hora antes para o centro da arena. Se te deixarem nos portões ou garagem...

- Roberto: Não corro risco de explodir ninguém.

     As duas engoliram a seco aquela resposta de Roberto. Apesar de ser certo uma invasão aos locais onde o homem havia informado, seria delicado e perigoso as pessoas da organização se sentirem ameaçadas e fazerem algo como desaparecer e/ou matar Daiane.

     Assim que Mariana liberou Roberto para eles irem traçar melhor o plano que tinha. Carina foi a sala ao lado chamar Márcio para eles poderem ir junto a escolta. Ao entrar, ela fica confusa ao vê-lo debruçado praticamente em cima de vômito.

- Carina: Você não vai lamber isso ai, já fez suas refeições. - Disse e depois fez barulho de porco. - O que é isso?

- Márcio: Vômito, mas isso aqui - Respondeu enquanto levantava e chegava próximo dela - eu não sei, diria que é um micro pedaço de placa de circuito...só que a parte com bronze. - Disse mostrando o pedaço numa pinça.

- Carina: Um chip? Isso é um chip, no meu celular tem um igual, é bem pequenino. - Falou com nojo de pegar o objeto.

- Márcio: Chip? Não tinha visto desses. - E confere a peça contra luz - Mas o que isso faria no vômito do garoto Mourão?

- Carina: Qual deles?

- Márcio: Sérgio, o que machuca a irmãzinha que salva a vida dele.

- Carina: Será que é chip de algum dos números que já tínhamos grampeado? Por que...não tem motivos para chip entrar na dieta de um garoto doente.

- Márcio: Carlinhos disse que ele não conseguiu comer mais nada pela dor de barriga...então ele comeu isso bem recentemente.

- Carina: Vai ver ele engoliu por acaso ou quando batemos na porta da casa. Talvez seja um numero para ligar para amigos deles sei lá.

- Márcio: Ele tem um amigo esquisito no hospital e de repente aparece com um chip na barriga...

- Carina: Acha que ele ligou para esse amigo?

- Márcio: Não sei mas enviando para perícia vamos descobrir melhor.

- Mariana: Vamos logo, temos que ir o mais cedo possível e tentar evitar uma catástrofe. - Disse na porta da sala e logo indo.

- Márcio: Hoje é dia de atirar em alguns traficantes é? Vou realizar meu mantra diário.

- Carina: Depende se a situação apertar mas que mantra é esse?

- Márcio: Uma baixa no crime e duas latas de cerveja.

- Carina: Hahahaha você pode levar um tiro hoje, sabia?

- Mário: Eu sei, mas se conseguirmos descobrir algo melhor, ainda vou beber duas latas mesmo com um tiro na bunda.

- Carina: Você tá torcendo mesmo pra isso, só pra ficar cantando a Simone do hospital...não acredito que deixei você ser padrinho do meu filho.

- Márcio: Você é uma comadre incrível, mas não pensa em tiro, tem uma família para cuidar.

(Continua...)

TEXTO E REVISÃO: Raphael Maitam

Seja bem-vindo para ler esse conto e mais outros no meu livro disponível no wattpad: https://www.wattpad.com/story/118616926-versos-por-aí-segundo-volume