10111
O terminal em frente ao atendente registrou um número de telefone. Em seguida, a ligação foi completada.
- Central 10111.
O atendente ajeitou o headset ao ouvir uma voz ofegante do outro lado.
- Polícia? Preciso de ajuda... estou sendo mantido refém em meu próprio escritório, no edifício-sede da Receita Federal!
- O senhor está sendo mantido refém... por quem?
- Eu não os conheço... entraram aqui se dizendo investigadores...
- O senhor é refém de estranhos que lhe permitiram ligar para a polícia e pedir socorro?
- Repito: eu não os conheço! Querem que lhes entregue um documento, mas sequer apresentaram um mandado. Mandem uma viatura!
O atendente digitou alguns comandos no terminal. O endereço completo do telefone fixo de onde provinha a chamada apareceu abaixo do mesmo.
- Aguarde na linha. O socorro está sendo providenciado.
* * *
Dois policiais uniformizados, Dube e Kumalo, adentraram o edifício da Receita Federal. Após uma rápida confabulação com os guardas de segurança na portaria, dirigiram-se ao quarto andar, de onde proviera o pedido de socorro. O escritório em questão era o do chefe da Auditoria, Gerhardus Louw. Pela parede de vidro, puderam verificar que ele efetivamente estava lá, sentado atrás de sua escrivaninha, muito nervoso. De pé à sua frente, dois homens de terno, braços cruzados. Louw ergueu-se, aliviado, quando os viu entrar.
- Alguém pode explicar o que está acontecendo aqui? - Perguntou o policial Dube de modo calmo, mas pondo a mão na coronha da pistola em seu cinto.
- Isso é assunto do Departamento de Investigação Criminal, oficial - disse um dos estranhos, provável ascendência indiana.
- Identifique-se - retrucou Dube, sem tirar a mão da coronha da pistola.
0 suposto indiano, ar contrariado, levou a mão devagar a um bolso interno do paletó e dele retirou uma identificação válida do D.I.C..
- Eu sou o agente Chakravarti, e este é o agente Bekker.
Bekker, um homenzarrão vermelho, apenas inclinou a cabeça, sem dizer palavra.
- Muito bem. Mas recebemos uma denúncia de que estão mantendo este homem contra a vontade - disse Dube, indicando Louw, que voltara a sentar-se. - Vocês possuem um mandado ou autorização judicial para entrarem aqui e exigir documentos de um servidor da Receita Federal?
- Já lhe disse que esse é um assunto do D.I.C., oficial - repetiu Chakravarti, irritado. - Não deve interferir com nossa missão.
Dube sacou a pistola, e mantendo-a em punho, atalhou:
- Vou entender a sua resposta como negativa, agente Chakravarti. Assim sendo, peço a ambos que se retirem ou serão presos por cárcere privado.
- Mas que diabos... - começou a falar Bekker.
- Agora! - Exclamou Dube.
Contrariados, os dois agentes deixaram o recinto.
* * *
Novamente só em sua sala, Louw pegou o celular e ligou para um número reservado.
- Ministro? Nunca mais na minha vida vou reclamar da polícia de Joanesburgo... acabaram de nos livrar de uma situação extremamente embaraçosa.
E após ouvir por alguns instantes, deu uma risada.
- Esses idiotas do D.I.C. deviam estar achando que a África do Sul é o Brasil. Levaram uma lição da qual jamais se esquecerão!
E desligou, feliz da vida.
- [13-01-2018]